Esse artigo é a segunda aula e a continuação da primeira aula do livro Naming and Necessity, do autor Saul Aaron Kripke
Da última vez, terminamos falando sobre uma teoria da nomeação, que é apresentada por um conjunto de teses aqui no quadro.
(6)
(C)
Para todo nome ou expressão designativa ‘X’, corresponde um conjunto de propriedades, ou seja, a família daquelas propriedades φ tal que A acredita que ‘φX’.
Uma das propriedades, ou algumas em conjunto, são acreditadas por A como suficientes para identificar algum indivíduo de forma única.
Se a maioria, ou uma maioria ponderada, das φ forem satisfeitas por um único objeto y, então y é o referente de ‘x’.
Se a votação não indicar um objeto único, ‘x’ não se refere a nada.
A afirmação “Se X existe, então X tem a maioria das φ” é conhecida a priori pelo falante.
A afirmação “Se X existe, então X tem a maioria das φ” expressa uma verdade necessária (no idioleto do falante).
Para qualquer teoria bem-sucedida, a explicação não deve ser circular. As propriedades usadas na votação não devem envolver, elas mesmas, a noção de referência de uma forma que torne impossível eliminá-la.
(C) não é uma tese, mas uma condição para a satisfação das outras teses. Em outras palavras, as Teses (1)-(6) não podem ser satisfeitas de um modo que leve a um círculo, de um modo que não permita nenhuma determinação independente da referência. O exemplo que dei da última vez de uma tentativa flagrantemente circular de satisfazer essas condições foi uma teoria dos nomes mencionada por William Kneale. Fiquei um pouco surpreso com a formulação da teoria quando estava lendo o que tinha anotado, então fui conferir novamente. Consultei o livro para ver se tinha copiado corretamente. Kneale de fato usou o tempo passado. Ele disse que, embora não seja trivial ser informado de que Sócrates foi o maior filósofo da Grécia Antiga, é trivial ser informado de que Sócrates era chamado de ‘Sócrates’. Portanto, ele conclui, o nome ‘Sócrates’ deve simplesmente significar ‘o indivíduo chamado “Sócrates”‘. Russell, como já mencionei, em alguns momentos oferece uma análise semelhante.
De qualquer forma, conforme enunciado usando o tempo passado, a condição não seria circular, porque certamente se poderia decidir usar o termo ‘Sócrates’ para se referir a quem fosse chamado de ‘Sócrates’ pelos gregos. Mas, claro, nesse sentido, não é nada trivial ser informado de que Sócrates era chamado de ‘Sócrates’. Se isso é um fato, pode muito bem ser falso. Talvez saibamos que o chamamos de ‘Sócrates’; isso dificilmente prova que os gregos também o faziam. Na verdade, claro, eles podem ter pronunciado o nome de forma diferente. Pode ser que, no caso desse nome específico, a transliteração do grego seja tão boa que a versão em inglês não seja pronunciada muito diferente do grego. Mas isso não será verdade no caso geral. Certamente não é trivial ser informado de que Isaías era chamado de ‘Isaías’. Na verdade, é falso ser informado disso; o profeta não teria reconhecido esse nome. E, claro, os gregos não chamavam seu país de algo parecido com ‘Grécia’. Suponhamos que modifiquemos a tese para que ela diga: é trivial ser informado de que Sócrates é chamado de ‘Sócrates’ por nós, ou pelo menos, por mim, o falante. Nesse sentido, isso é razoavelmente trivial. Eu não acho que seja necessário ou analítico.
Da mesma forma, é trivial ser informado de que cavalos são chamados de ‘cavalos’, sem que isso leve à conclusão de que a palavra ‘cavalo’ simplesmente significa ‘o animal chamado de “cavalo”‘. Como teoria da referência do nome ‘Sócrates’, isso levaria imediatamente a um círculo vicioso. Se alguém estivesse determinando o referente de um nome como ‘Glunk’ para si mesmo e tomasse a seguinte decisão: ‘Usarei o termo “Glunk” para me referir ao homem que eu chamo de “Glunk”‘, isso não levaria a lugar nenhum. Seria melhor ter alguma determinação independente do referente de ‘Glunk’. Esse é um bom exemplo de uma determinação flagrantemente circular.
Na verdade, sentenças como ‘Sócrates é chamado de “Sócrates”‘ são muito interessantes e, por mais estranho que pareça, pode-se passar horas falando sobre sua análise. Eu mesmo já fiz isso uma vez. Não farei isso, entretanto, nesta ocasião. (Veja como as marés da linguagem podem subir alto. E também nos pontos mais baixos.) De qualquer forma, esse é um exemplo útil de violação da condição de não circularidade. A teoria pode satisfazer todas essas afirmações, talvez, mas as satisfaz apenas porque há alguma maneira independente de determinar a referência, independentemente da condição particular de ser o homem chamado ‘Sócrates’.
Já falei, na última aula, sobre a Tese (6). As Teses (5) e (6), aliás, têm conversas. O que eu disse para a Tese (5) é que a afirmação de que, se X existe, X tem a maioria das φ, é verdadeira a priori para o falante. Também será verdade, sob a teoria proposta, que certas conversas dessa afirmação são verdadeiras também a priori para o falante, a saber: se qualquer coisa única tem a maioria das propriedades φ no sentido devidamente ponderado, então é X. Da mesma forma, uma certa conversa disso será necessariamente verdadeira, a saber: se algo tem a maioria das propriedades φ no sentido devidamente ponderado, então é X. Assim, realmente pode-se dizer que é tanto a priori quanto necessário que algo seja X se, e somente se, possui de forma única a maioria das propriedades φ. Isso realmente deriva das Teses (1)-(4), suponho. E (5) e (6) realmente apenas dizem que um falante suficientemente reflexivo compreende essa teoria dos nomes próprios. Sabendo disso, ele percebe que (5) e (6) são verdadeiras. As objeções às Teses (5) e (6) não serão que alguns falantes desconhecem essa teoria e, portanto, não sabem essas coisas.
O que eu discuti na última aula foi a Tese (6). Muitos filósofos observaram que, se o conjunto de propriedades associado a um nome próprio for tomado em um sentido muito restrito, de modo que apenas uma propriedade receba peso, digamos uma descrição definida para identificar o referente — por exemplo, Aristóteles foi o filósofo que ensinou Alexandre, o Grande — então certas coisas parecerão se revelar como verdades necessárias que não são verdades necessárias — neste caso, por exemplo, que Aristóteles ensinou Alexandre. Mas, como Searle disse, não é uma verdade necessária, mas contingente, que Aristóteles tenha se envolvido na pedagogia. Portanto, ele conclui que se deve abandonar o paradigma original de uma única descrição e adotar o de um conjunto de descrições.
Para resumir algumas coisas que argumentei da última vez, essa não é a resposta correta (seja qual for ela) para esse problema sobre necessidade. Pois Searle continua dizendo:
Suponha que concordemos em abandonar ‘Aristóteles’ e usar, digamos, ‘o professor de Alexandre’; então é uma verdade necessária que o homem referido seja o professor de Alexandre — mas é um fato contingente que Aristóteles tenha se envolvido na pedagogia, embora eu esteja sugerindo que seja um fato necessário que Aristóteles possua a soma lógica, disjunção inclusiva, das propriedades comumente atribuídas a ele.
Isso não é verdade. Simplesmente não é, em nenhum sentido intuitivo de necessidade, uma verdade necessária que Aristóteles tenha as propriedades comumente atribuídas a ele. Existe uma certa teoria, talvez popular em algumas visões da filosofia da história, que poderia ser tanto determinista quanto, ao mesmo tempo, atribuir um grande papel ao indivíduo na história. Talvez Carlyle associasse ao significado do nome de um grande homem suas realizações. De acordo com tal visão, seria necessário, uma vez que um certo indivíduo nasça, que ele esteja destinado a realizar várias grandes tarefas e, assim, faria parte da própria natureza de Aristóteles ter produzido ideias que tiveram grande influência no mundo ocidental. Quaisquer que sejam os méritos de tal visão como uma visão da história ou da natureza dos grandes homens, não parece que deva ser trivialmente verdadeira com base em uma teoria de nomes próprios. Pareceria que é um fato contingente que Aristóteles tenha feito qualquer uma das coisas comumente atribuídas a ele hoje, quaisquer dessas grandes realizações que tanto admiramos.
Devo dizer que há algo nesse sentimento de Searle. Quando ouço o nome ‘Hitler’, de fato tenho uma ilusória ‘sensação visceral’ de que é meio analítico que aquele homem era mau. Mas, na verdade, provavelmente não. Hitler poderia ter passado todos os seus dias em paz em Linz. Nesse caso, não diríamos que então esse homem não teria sido Hitler, pois usamos o nome ‘Hitler’ apenas como o nome daquele homem, mesmo ao descrever outros mundos possíveis. (Este é o conceito que chamei de designador rígido na palestra anterior.) Suponhamos que decidamos identificar a referência de ‘Hitler’ como o homem que conseguiu fazer mais judeus serem mortos do que qualquer outra pessoa na história. Esse é o modo como fixamos a referência do nome; mas em outra situação contrafactual, onde outra pessoa teria alcançado essa infâmia, não diríamos que, nesse caso, esse outro homem teria sido Hitler. Se Hitler nunca tivesse chegado ao poder, Hitler não teria tido a propriedade que estou supondo que usamos para fixar a referência de seu nome.
Da mesma forma, mesmo que definamos o que é um metro por referência ao padrão da barra de metro, será uma verdade contingente e não necessária que aquela barra específica tenha exatamente um metro de comprimento. Se ela tivesse sido esticada, teria mais de um metro. E isso porque usamos o termo ‘um metro’ rigidamente para designar um certo comprimento. Mesmo que fixemos qual comprimento estamos designando por meio de uma propriedade acidental desse comprimento, assim como no caso do nome de um homem podemos identificar o homem por uma propriedade acidental dele, ainda usamos o nome para designar aquele homem ou aquele comprimento em todos os mundos possíveis. A propriedade que usamos não precisa ser considerada de nenhuma forma como necessária ou essencial. No caso de uma jarda, o modo original como esse comprimento foi determinado foi, creio eu, a distância quando o braço do Rei Henrique I da Inglaterra estava estendido desde a ponta de seu dedo até o nariz. Se essa era a medida de uma jarda, ainda assim não seria uma verdade necessária que a distância entre a ponta de seu dedo e seu nariz devesse ser uma jarda. Talvez um acidente pudesse ter acontecido e encurtado seu braço; isso seria possível. E a razão pela qual isso não é uma verdade necessária não é que possa haver outros critérios em um ‘conceito em cluster’ de jarda. Mesmo um homem que usa estritamente o braço do Rei Henrique como seu único padrão de comprimento pode dizer, contrafactualmente, que, se certas coisas tivessem acontecido com o Rei, a distância exata entre a ponta de um de seus dedos e seu nariz não teria sido exatamente uma jarda. Ele não precisa estar usando um conjunto de critérios, desde que use o termo ‘jarda’ para identificar uma certa referência fixa para ser aquele comprimento em todos os mundos possíveis.
Essas observações mostram, eu acho, o quão intuitivamente estranho é grande parte da literatura sobre “identificação transmundana” e “teoria dos contrapartes”. Muitos teóricos desse tipo, acreditando, como acreditam, que um “mundo possível” nos é dado apenas qualitativamente, argumentam que Aristóteles deve ser “identificado em outros mundos possíveis” ou, alternativamente, que seus contrapartes devem ser identificados com aquelas coisas em outros mundos possíveis que mais se assemelham a Aristóteles em suas propriedades mais importantes. Lewis, por exemplo, diz: “Seus contrapartes… se assemelham a você… em aspectos importantes… mais de perto do que as outras coisas em seus mundos… ponderado pela importância de vários aspectos e pelos graus de similaridade”. Alguns podem equiparar as propriedades importantes com aquelas propriedades usadas para identificar o objeto no mundo atual.
Certamente essas noções estão incorretas. Para mim, as propriedades mais importantes de Aristóteles consistem em sua obra filosófica e, as de Hitler, em seu papel político assassino; ambos, como já disse, poderiam ter carecido completamente dessas propriedades. Certamente não havia um destino lógico pairando sobre Aristóteles ou Hitler que tornasse, de qualquer forma, inevitável que eles devessem possuir as propriedades que consideramos importantes para eles; eles poderiam ter tido carreiras completamente diferentes das que realmente tiveram. Propriedades importantes de um objeto não precisam ser essenciais, a menos que “importância” seja usado como sinônimo de essência; e um objeto poderia ter tido propriedades muito diferentes de suas propriedades mais marcantes reais, ou das propriedades que usamos para identificá-lo.
Para esclarecer algo que algumas pessoas me perguntaram: quando digo que um designador é rígido e designa a mesma coisa em todos os mundos possíveis, quero dizer que, como usado em nossa linguagem, ele representa essa coisa quando falamos sobre situações contrafactuais. Não quero dizer, é claro, que não possa haver situações contrafactuais nas quais, em outros mundos possíveis, as pessoas de fato falassem uma língua diferente. Não se diz que “dois mais dois é igual a quatro” é contingente porque as pessoas poderiam ter falado uma língua na qual “dois mais dois é igual a quatro” significasse que sete é par. Da mesma forma, quando falamos de uma situação contrafactual, falamos dela em inglês, mesmo que faça parte da descrição dessa situação contrafactual que todos estivéssemos falando alemão nessa situação. Dizemos: “suponha que todos estivéssemos falando alemão” ou “suponha que estivéssemos usando o inglês de uma forma não padrão”. Então estamos descrevendo um mundo possível ou uma situação contrafactual na qual as pessoas, inclusive nós, falavam de certa forma diferente da forma como falamos. Mas ainda assim, ao descrever esse mundo, usamos o inglês com nossos significados e nossas referências. É nesse sentido que falo de um designador rígido como tendo a mesma referência em todos os mundos possíveis. Também não quero implicar que a coisa designada exista em todos os mundos possíveis, apenas que o nome se refere rigidamente a essa coisa. Se você disser “suponha que Hitler nunca tivesse nascido”, então “Hitler” refere-se aqui, ainda rigidamente, a algo que não existiria na situação contrafactual descrita.
Dadas essas observações, isso significa que devemos riscar a Tese (6) como incorreta. As outras teses não têm nada a ver com necessidade e podem sobreviver. Em particular, a Tese (5) não tem nada a ver com necessidade e pode sobreviver. Se eu usar o nome “Héspero” para me referir a um certo corpo planetário quando visto em uma certa posição celeste à noite, isso não será, portanto, uma verdade necessária de que Héspero seja visto à noite. Isso depende de vários fatos contingentes sobre pessoas estarem lá para ver e coisas assim. Então, mesmo que eu diga a mim mesmo que usarei “Héspero” para nomear o corpo celeste que vejo à noite naquela posição do céu, não será necessário que Héspero tenha sido visto à noite. Mas pode ser a priori no sentido de que foi assim que determinei o referente. Se eu determinei que Héspero é a coisa que vi à noite lá, então saberei, apenas ao fazer essa determinação do referente, que se houver algum Héspero, é a coisa que vi à noite. Isso ao menos sobrevive no que diz respeito aos argumentos que demos até agora.
E quanto a uma teoria onde a Tese (6) é eliminada? As Teses (2), (3) e (4) acabam tendo uma grande classe de contraexemplos. Mesmo quando as Teses (2)-(4) são verdadeiras, a Tese (5) geralmente é falsa; a veracidade das Teses (3) e (4) é um “acidente” empírico, que o falante dificilmente sabe a priori. Ou seja, outros princípios realmente determinam a referência do falante, e o fato de o referente coincidir com aquele determinado por (2)-(4) é um “acidente”, que não estávamos em posição de saber a priori. Apenas em uma rara classe de casos, geralmente batismos iniciais, todas (2)-(5) são verdadeiras.
Que quadro de nomeação essas Teses ((1)-(5)) nos dão? O quadro é este. Quero nomear um objeto. Penso em alguma maneira de descrevê-lo de forma única e então passo, por assim dizer, por uma espécie de cerimônia mental: Por “Cícero” quero dizer o homem que denunciou Catilina; e essa será a referência de “Cícero”. Usarei “Cícero” para designar rigidamente o homem que (de fato) denunciou Catilina, para que eu possa falar de mundos possíveis nos quais ele não o fez. Mas ainda assim minhas intenções são dadas, primeiro, fornecendo alguma condição que determine um objeto de forma única, depois usando uma certa palavra como nome para o objeto determinado por essa condição. Agora pode haver alguns casos em que realmente fazemos isso. Talvez, se você quiser forçar e chamar isso de descrição, quando você diz: Chamarei aquele corpo celeste ali de “Héspero”. Esse é realmente um caso onde as teses não apenas são verdadeiras, mas realmente até dão um quadro correto de como a referência é determinada. Outro caso, se você quiser chamar isso de um nome, pode ser quando a polícia de Londres usa o nome “Jack” ou “Jack, o Estripador” para se referir ao homem, quem quer que ele seja, que cometeu todos esses assassinatos, ou a maioria deles. Nesse caso, eles estão fornecendo a referência do nome por uma descrição. Mas em muitos ou na maioria dos casos, acho que as teses são falsas. Então vamos analisá-las.
A Tese (1), como eu disse, é uma definição. A Tese (2) diz que uma das propriedades acreditadas por A sobre o objeto, ou algumas em conjunto, acredita-se que selecionam algum indivíduo de forma única. Um tipo de exemplo que as pessoas têm em mente é exatamente o que eu disse: usarei o termo “Cícero” para denotar o homem que denunciou Catilina (ou denunciou-o publicamente primeiro, para torná-lo único). Isso seleciona um objeto de forma única nesta referência específica. Mesmo alguns autores como Ziff em *Semantic Analysis*, que não acreditam que nomes tenham significado em qualquer sentido, acham que esse é um bom quadro de como a referência pode ser determinada.
Vamos ver se a Tese (2) é verdadeira. Parece, de alguma forma a priori, que ela deve ser verdadeira, porque se você não acha que as propriedades que tem em mente selecionam alguém de forma única — digamos que elas sejam satisfeitas por duas pessoas — então como você pode dizer de qual delas está falando? Parece não haver base para dizer que está falando de uma em vez da outra. Normalmente, as propriedades em questão devem ser algumas ações famosas da pessoa em questão. Por exemplo, Cícero foi o homem que denunciou Catilina. A pessoa comum, de acordo com isso, quando se refere a Cícero, está dizendo algo como “o homem que denunciou Catilina” e, assim, selecionou um certo homem de forma única. É um tributo à educação dos filósofos que eles tenham sustentado essa tese por tanto tempo. Na verdade, a maioria das pessoas, quando pensa em Cícero, apenas pensa em um orador romano famoso, sem qualquer pretensão de pensar que houve apenas um orador romano famoso ou que se deve saber algo mais sobre Cícero para ter um referente para o nome. Considere Richard Feynman, a quem muitos de nós somos capazes de nos referir. Ele é um físico teórico contemporâneo de destaque. Todos aqui (tenho certeza!) podem enunciar o conteúdo de uma das teorias de Feynman de forma a diferenciá-lo de Gell-Mann. No entanto, o homem comum, não possuindo essas habilidades, ainda pode usar o nome “Feynman”. Quando perguntado, ele dirá: bem, ele é um físico ou algo assim. Ele pode não achar que isso seleciona alguém de forma única. Ainda acho que ele usa o nome “Feynman” como um nome para Feynman.
Mas vamos analisar alguns dos casos em que realmente temos uma descrição para selecionar alguém de forma única. Digamos, por exemplo, que saibamos que Cícero foi o homem que primeiro denunciou Catilina. Bem, isso é bom. Isso realmente seleciona alguém de forma única. No entanto, há um problema, porque essa descrição contém outro nome, a saber, “Catilina”. Precisamos ter certeza de que satisfazemos as condições de tal forma a evitar violar a condição de não circularidade aqui. Em particular, não devemos dizer que Catilina foi o homem denunciado por Cícero. Se fizermos isso, realmente não estaremos selecionando nada de forma única; estaremos simplesmente selecionando um par de objetos A e B, tal que A denunciou B. Não achamos que esse tenha sido o único par onde tais denúncias ocorreram; então é melhor adicionarmos outras condições para satisfazer a condição de unicidade.
Se dissermos que Einstein foi o homem que descobriu a teoria da relatividade, isso certamente seleciona alguém de forma única. Pode-se ter certeza, como disse, de que todos aqui podem fazer uma declaração compacta e independente dessa teoria e assim identificar Einstein de forma única; mas muitas pessoas na verdade não sabem o suficiente sobre esse assunto, então, quando perguntadas sobre o que é a teoria da relatividade, dirão: “a teoria de Einstein” e, assim, serão levadas ao mais direto tipo de círculo vicioso.
Assim, a Tese (2), de forma direta, não é satisfeita quando dizemos que Feynman é um físico famoso sem atribuir mais nada a Feynman. De outra forma, ela pode não ser satisfeita da forma adequada mesmo quando é satisfeita: se dissermos que Einstein foi “o homem que descobriu a teoria da relatividade”, isso realmente seleciona alguém de forma única; mas pode não selecioná-lo de tal forma que satisfaça a condição de não circularidade, porque a teoria da relatividade pode, por sua vez, ser identificada como “a teoria de Einstein”. Portanto, a Tese (2) parece ser falsa.
Alterando as condições normalmente associadas a nomes pelos filósofos, poderia-se tentar melhorar a teoria. Houve várias maneiras que ouvi; talvez eu discuta essas mais tarde. Normalmente, eles pensam em feitos famosos do homem nomeado. Certamente no caso de feitos famosos, a teoria não funciona. Um estudante meu certa vez disse: “Bem, Einstein descobriu a teoria da relatividade”; e ele determinou a referência de “a teoria da relatividade” de forma independente consultando uma enciclopédia que daria os detalhes da teoria. (Isso é o que se chama uma dedução transcendental da existência de enciclopédias.) Mas me parece que, mesmo que alguém tenha ouvido falar de enciclopédias, realmente não é essencial para sua referência que ele deva saber se essa teoria está ou não detalhada em alguma enciclopédia. A referência poderia funcionar mesmo se nunca tivessem existido enciclopédias.
Vamos passar para a Tese (3): Se a maioria das descrições, devidamente ponderadas, forem satisfeitas por um objeto único y, então y é o referente do nome para o falante. Agora, como já estabelecemos que a Tese (2) está errada, por que o restante funcionaria? Toda a teoria dependia da possibilidade de especificar sempre condições únicas que fossem satisfeitas. Mas ainda assim podemos examinar as outras teses. A ideia associada à teoria é que apenas fornecendo algumas propriedades únicas você pode saber quem é alguém e, assim, saber qual é o referente do seu nome. Bem, não vou entrar na questão de saber quem é alguém. Isso é realmente muito confuso. Acho que você sabe quem é Cícero se puder simplesmente responder que ele é um famoso orador romano. Estranhamente, se você sabe que Einstein descobriu a teoria da relatividade e nada sobre essa teoria, ainda assim você pode tanto saber quem é Einstein, ou seja, o descobridor da teoria da relatividade, quanto quem descobriu a teoria da relatividade, ou seja, Einstein, com base nesse conhecimento. Isso parece ser uma violação flagrante de algum tipo de condição de não circularidade; mas é assim que falamos. Portanto, pareceria que a visão que sugere essa condição está errada.
Suponha que a maioria das descrições seja de fato satisfeita por um objeto único. Esse objeto é necessariamente o referente de “X” para A? Suponhamos que alguém diga que Gödel é o homem que provou a incompletude da aritmética, e essa pessoa seja suficientemente bem informada e até consiga dar uma explicação independente do teorema da incompletude. Ele não diz apenas “bem, esse é o teorema de Gödel” ou algo assim. Ele realmente enuncia um certo teorema, que atribui a Gödel como o descobridor. É o caso, então, que se a maioria das descrições for satisfeita por um objeto único y, então y é o referente do nome “x” para A? Vamos considerar um caso simples. No caso de Gödel, isso é praticamente a única coisa que muitas pessoas ouviram sobre ele — que ele descobriu a incompletude da aritmética. Isso implica que quem quer que tenha descoberto a incompletude da aritmética é o referente de “Gödel”?
Imagine a seguinte situação flagrantemente fictícia. (Espero que o professor Gödel não esteja presente.) Suponha que Gödel não tenha sido, de fato, o autor desse teorema. Um homem chamado Schmidt, cujo corpo foi encontrado em Viena sob circunstâncias misteriosas há muitos anos, foi quem realmente fez o trabalho em questão. Seu amigo Gödel de alguma forma conseguiu o manuscrito, e depois ele foi atribuído a Gödel. Na visão em questão, então, quando o homem comum usa o nome “Gödel”, ele realmente quer se referir a Schmidt, porque Schmidt é a pessoa única que satisfaz a descrição “o homem que descobriu a incompletude da aritmética”. Claro, você pode tentar mudar para “o homem que publicou a descoberta da incompletude da aritmética”. Alterando a história um pouco mais, pode-se até tornar essa formulação falsa. De qualquer forma, a maioria das pessoas talvez nem saiba se a coisa foi publicada ou se se espalhou oralmente. Vamos manter “o homem que descobriu a incompletude da aritmética”. Então, já que o homem que descobriu a incompletude da aritmética é de fato Schmidt, nós, quando falamos sobre “Gödel”, estamos de fato sempre nos referindo a Schmidt. Mas me parece que não estamos. Simplesmente não estamos. Uma resposta, que discutirei mais tarde, poderia ser: você deveria dizer em vez disso “o homem a quem a incompletude da aritmética é comumente atribuída” ou algo assim. Vamos ver o que podemos fazer com isso mais adiante.
Mas pode parecer a muitos de vocês que este é um exemplo muito estranho, ou que tal situação ocorre raramente. Isso também é um tributo à formação dos filósofos. Muito frequentemente usamos um nome com base em considerável desinformação. O caso da matemática usado no exemplo fictício é um bom exemplo. O que sabemos sobre Peano? O que muitas pessoas nesta sala podem “saber” sobre Peano é que ele foi o descobridor de certos axiomas que caracterizam a sequência de números naturais, os chamados “axiomas de Peano”. Provavelmente algumas pessoas podem até enunciá-los. Fui informado de que esses axiomas não foram descobertos primeiro por Peano, mas por Dedekind. Peano, é claro, não era um homem desonesto. Disseram-me que suas notas de rodapé incluem um crédito a Dedekind. De alguma forma a nota de rodapé foi ignorada. Então, de acordo com a teoria em questão, o termo “Peano”, como o usamos, realmente se refere a — agora que você ouviu isso, percebe que o tempo todo você estava realmente falando sobre — Dedekind. Mas você não estava. Tais ilustrações poderiam ser multiplicadas indefinidamente. Equívocos ainda piores, é claro, ocorrem com o leigo. Em um exemplo anterior, supus que as pessoas identificassem Einstein por referência ao seu trabalho sobre a relatividade. Na verdade, eu costumava ouvir que a realização mais famosa de Einstein foi a invenção da bomba atômica. Assim, quando nos referimos a Einstein, referimo-nos ao inventor da bomba atômica. Mas isso não é verdade. Colombo foi o primeiro homem a perceber que a Terra era redonda. Ele também foi o primeiro europeu a chegar ao hemisfério ocidental. Provavelmente nenhuma dessas coisas é verdadeira e, portanto, quando as pessoas usam o termo “Colombo”, elas realmente se referem a algum grego, se usam a redondeza da Terra, ou a algum nórdico, talvez, se usam a “descoberta da América”. Mas elas não fazem isso. Portanto, não parece que se a maioria das descrições for satisfeita por um objeto único y, então y é o referente do nome. Isso simplesmente parece ser falso.
Tese (4): Se a votação não produzir um objeto único, o nome não se refere. Na verdade, este caso já foi abordado antes — foi abordado nos meus exemplos anteriores. Primeiro, a votação pode não produzir um objeto único, como no caso de Cícero ou Feynman. Em segundo lugar, suponha que não produza objeto algum, que nada satisfaça a maioria, ou mesmo qualquer número substancial, das descrições. Isso significa que o nome não se refere? Não: da mesma forma que você pode ter crenças falsas sobre uma pessoa que na verdade são verdadeiras sobre outra, você também pode ter crenças falsas que não são verdadeiras sobre absolutamente ninguém. E estas podem constituir a totalidade de suas crenças. Suponha, para variar o exemplo sobre Gödel, que ninguém tenha descoberto a incompletude da aritmética — talvez a prova simplesmente tenha se materializado por um espalhamento aleatório de átomos em uma folha de papel — e que o homem Gödel tenha tido a sorte de estar presente quando esse evento improvável ocorreu. Além disso, suponha que a aritmética seja de fato completa. Não se esperaria realmente que um espalhamento aleatório de átomos produzisse uma prova correta. Um erro sutil, desconhecido ao longo das décadas, ainda não foi notado — ou talvez não realmente não notado, mas os amigos de Gödel… Então, mesmo que as condições não sejam satisfeitas por um objeto único, o nome ainda pode se referir. Eu lhes dei o caso de Jonas na semana passada. Os estudiosos da Bíblia, como eu disse, acham que Jonas realmente existiu. Não é porque eles acham que alguém foi engolido por um grande peixe ou mesmo foi a Nínive para pregar. Essas condições podem não ser verdadeiras de ninguém e, ainda assim, o nome “Jonas” realmente tem um referente. No caso acima da invenção da bomba por Einstein, possivelmente ninguém realmente merece ser chamado de “inventor” do dispositivo.
A Tese (5) diz que a afirmação “Se X existe, então X tem a maioria das descrições” é a priori verdadeira para A. Observe que, mesmo em um caso onde (3) e (4) happen to be verdadeiros, um falante típico dificilmente sabe a priori que eles são, conforme exigido pela teoria. Eu acho que minha crença sobre Gödel é de fato correta e que a história de “Schmidt” é apenas uma fantasia. Mas a crença dificilmente constitui conhecimento a priori.
Qual é o retrato verdadeiro do que está acontecendo? Talvez a referência nem aconteça de fato! Afinal, nós realmente não sabemos se alguma das propriedades que usamos para identificar o homem está correta. Não sabemos se elas indicam um objeto único. Então, o que faz o meu uso de “Cícero” ser um nome dele? A visão que leva à teoria do conjunto de descrições é algo assim: alguém está isolado em um quarto; toda a comunidade de outros falantes, tudo o mais, poderia desaparecer; e a pessoa determina a referência por si mesma dizendo: “Por ‘Gödel’ entenderei o homem, seja quem for, que provou a incompletude da aritmética”. Agora, você pode fazer isso se quiser. Não há nada que realmente impeça. Você pode simplesmente se ater a essa determinação. Se é isso que você faz, então, se Schmidt descobriu a incompletude da aritmética, você está se referindo a ele quando diz “Gödel fez tal e tal coisa”.
Mas não é isso que a maioria de nós faz. Alguém, digamos um bebê, nasce; seus pais o chamam por um certo nome. Eles falam sobre ele para os amigos. Outras pessoas o conhecem. Por meio de vários tipos de conversas, o nome se espalha de elo em elo como se fosse por uma corrente. Um falante que está na extremidade dessa corrente, que ouviu falar, por exemplo, de Richard Feynman, no mercado ou em outro lugar, pode estar se referindo a Richard Feynman, mesmo que não se lembre de quem ouviu falar de Feynman ou de quem já ouviu falar de Feynman. Ele sabe que Feynman é um físico famoso. Uma certa passagem de comunicação, que em última instância chega até o próprio homem, alcança o falante. Ele então está se referindo a Feynman mesmo que não consiga identificá-lo de forma única. Ele não sabe o que é um diagrama de Feynman, ele não sabe o que é a teoria de Feynman sobre produção e aniquilação de pares. Além disso, ele teria dificuldade em distinguir entre Gell-Mann e Feynman. Então ele não precisa saber essas coisas, mas, em vez disso, uma cadeia de comunicação que remonta ao próprio Feynman foi estabelecida, em virtude de sua participação em uma comunidade que transmitiu o nome de elo em elo, não por uma cerimônia que ele realiza em particular em seu escritório: “Por ‘Feynman’ entenderei o homem que fez tal e tal e tal e tal coisa”.
Como essa visão difere da sugestão de Strawson, mencionada antes, de que uma referência identificadora pode tomar emprestadas suas credenciais de outra? Certamente Strawson teve uma boa percepção no trecho citado; por outro lado, ele certamente mostra uma diferença, pelo menos em ênfase, da visão que defendo, já que ele limita o comentário a uma nota de rodapé. O texto principal defende a teoria do conjunto de descrições. Só porque Strawson faz sua observação no contexto de uma teoria da descrição, sua visão, portanto, difere da minha em um aspecto importante. Strawson aparentemente exige que o falante saiba de quem obteve sua referência, para que ele possa dizer: “Por ‘Gödel’ quero dizer o homem que Jones chama de ‘Gödel'”. Se ele não se lembra de como obteve a referência, ele não pode dar tal descrição. A teoria atual não estabelece tal exigência. Como eu disse, posso muito bem não lembrar de quem ouvi falar de Gödel, e posso achar que me lembro das pessoas de quem ouvi o nome, mas estar enganado.
Essas considerações mostram que a visão defendida aqui pode levar a consequências que realmente divergem da nota de rodapé de Strawson. Suponha que o falante tenha ouvido o nome “Cícero” de Smith e outros, que usam o nome para se referir a um famoso orador romano. No entanto, ele pensa mais tarde que obteve o nome de Jones, que (desconhecido para o falante) usa “Cícero” como o nome de um espião alemão notório e nunca ouviu falar de oradores do mundo antigo. Então, de acordo com o paradigma de Strawson, o falante deve determinar sua referência pela resolução: “Usarei ‘Cícero’ para me referir ao homem que Jones chama por esse nome”, enquanto na visão atual, o referente será o orador apesar da impressão errada do falante sobre onde obteve o nome. A questão é que Strawson, tentando encaixar a visão da cadeia de comunicação na teoria da descrição, depende do que o falante pensa que foi a fonte de sua referência. Se o falante esqueceu sua fonte, a descrição que Strawson usa não está disponível para ele; se ele a lembra erroneamente, o paradigma de Strawson pode dar resultados errados. Na nossa visão, não é como o falante pensa que obteve a referência, mas a cadeia real de comunicação, que é relevante.
Acho que eu disse da outra vez que teorias filosóficas correm o risco de serem falsas, e por isso eu não ia apresentar uma teoria alternativa. Eu acabei de fazer isso? Bem, de certa forma; mas minha caracterização foi muito menos específica do que um verdadeiro conjunto de condições necessárias e suficientes para referência seria. Obviamente o nome é passado de elo em elo. Mas claro que nem todo tipo de cadeia causal que me liga a um certo homem servirá para que eu faça uma referência. Pode haver uma cadeia causal de nosso uso do termo “Papai Noel” a um certo santo histórico, mas ainda assim as crianças, quando usam esse termo, provavelmente já não estão se referindo a esse santo. Portanto, outras condições devem ser satisfeitas para tornar isso uma teoria realmente rigorosa da referência. Não sei se vou fazer isso porque, primeiro, estou meio preguiçoso no momento; segundo, em vez de dar um conjunto de condições necessárias e suficientes que funcionarão para um termo como referência, quero apresentar apenas uma imagem melhor do que a imagem apresentada pelas visões tradicionais.
Será que não fui muito injusto com a teoria da descrição? Aqui eu a expus de forma muito precisa—talvez mais precisa do que foi apresentada por qualquer um de seus defensores. Então fica fácil refutar. Talvez se eu tentasse expor a minha com precisão suficiente na forma de seis ou sete ou oito teses, também acabasse acontecendo que, ao examinar as teses uma a uma, todas fossem falsas. Isso até pode ser verdade, mas a diferença é a seguinte. O que acho que os exemplos que dei mostram não é simplesmente que há algum erro técnico aqui ou algum engano ali, mas que toda a imagem dada por essa teoria de como a referência é determinada parece estar errada desde os fundamentos. Parece errado pensar que nós mesmos damos a nós algumas propriedades que de alguma forma identificam qualitativamente de forma única um objeto e determinam nossa referência dessa maneira. O que estou tentando apresentar é uma imagem melhor—uma imagem que, se mais detalhes fossem preenchidos, poderia ser refinada de modo a fornecer condições mais exatas para que a referência ocorra.
Pode ser que nunca se alcance um conjunto de condições necessárias e suficientes. Eu não sei, eu sempre simpatizo com a máxima de Bishop Butler: “Tudo é o que é e não outra coisa”—no sentido não trivial de que análises filosóficas de um conceito como referência, em termos completamente diferentes que não mencionem referência, tendem a fracassar. Claro que em qualquer caso particular, quando uma análise é apresentada, é preciso examiná-la e ver se é verdadeira ou falsa. Não se pode simplesmente citar essa máxima para si mesmo e virar a página. Mas, com mais cautela, quero apresentar uma imagem melhor sem dar um conjunto de condições necessárias e suficientes para referência. Tais condições seriam muito complicadas, mas o que é verdade é que é em virtude de nossa conexão com outros falantes na comunidade, voltando até o próprio referente, que nos referimos a um certo homem.
Pode haver alguns casos em que a imagem da descrição seja verdadeira, em que algum homem realmente dá um nome indo para a privacidade de seu quarto e dizendo que o referente será a coisa única com certas propriedades identificadoras. “Jack, o Estripador” foi um exemplo possível que eu dei. Outro foi “Héspero”. Ainda outro caso que pode ser forçado para se encaixar nessa descrição é o de encontrar alguém e ser informado de seu nome. Exceto pela crença na teoria da descrição e em sua importância em outros casos, provavelmente não se pensaria que isso fosse um caso de dar a si mesmo uma descrição, ou seja, “o cara que estou conhecendo agora”. Mas pode-se colocar nesses termos se quiser, e se nunca se ouviu o nome de outra forma. Claro, se você é apresentado a um homem e lhe dizem “Esse é Einstein”, você já ouviu falar dele antes, pode estar errado, e assim por diante. Mas talvez em alguns casos tal paradigma funcione—especialmente para o homem que dá a alguém ou algo um nome pela primeira vez. Ou ele aponta para uma estrela e diz “Essa será Alfa Centauri”. Assim, ele pode realmente fazer para si mesmo essa cerimônia: “Por ‘Alfa Centauri’ entenderei a estrela bem ali com tais e tais coordenadas”. Mas, em geral, essa imagem falha. Em geral, nossa referência depende não apenas do que pensamos nós mesmos, mas de outras pessoas na comunidade, da história de como o nome chegou a nós, e coisas desse tipo. É seguindo tal história que se chega à referência.
Condições mais exatas são muito complicadas de dar. Elas parecem de certa forma diferentes no caso de um homem famoso e de um que não é tão famoso. Por exemplo, um professor diz à sua turma que Newton ficou famoso por ser o primeiro homem a pensar que existe uma força puxando as coisas para a Terra; acho que é isso que as crianças pequenas pensam que foi a maior realização de Newton. Não vou comentar os méritos de tal realização, mas, de qualquer forma, podemos supor que apenas ser informado de que esse foi o único conteúdo da descoberta de Newton dá aos alunos uma crença falsa sobre Newton, mesmo que nunca tenham ouvido falar dele antes. Se, por outro lado, o professor usa o nome “George Smith” —um homem com esse nome é de fato seu vizinho—e diz que George Smith foi o primeiro a quadrar o círculo, isso significa que os alunos têm uma crença falsa sobre o vizinho do professor? O professor não lhes diz que Smith é seu vizinho, nem acredita que Smith quadrasse o círculo. Ele não está particularmente tentando incutir nos alunos qualquer crença sobre o vizinho. Ele tenta incutir a crença de que havia um homem que quadrava o círculo, mas não uma crença sobre qualquer homem em particular—ele apenas tira o primeiro nome que lhe ocorre—por acaso, usa o nome do vizinho. Não parece claro, nesse caso, que os alunos tenham uma crença falsa sobre o vizinho, mesmo que haja uma cadeia causal remontando ao vizinho. Não tenho certeza sobre isso. De qualquer forma, mais refinamentos precisam ser adicionados para que isso comece a ser um conjunto de condições necessárias e suficientes. Nesse sentido, não é uma teoria, mas pretende dar uma imagem melhor do que está realmente acontecendo.
Uma formulação aproximada de uma teoria poderia ser a seguinte: ocorre um ‘batismo’ inicial. Nesse momento, o objeto pode ser nomeado por ostensão, ou a referência do nome pode ser fixada por uma descrição. Quando o nome é “passado de elo a elo”, o receptor do nome deve, creio eu, ter a intenção, ao aprendê-lo, de usá-lo com a mesma referência que a pessoa de quem o ouviu. Se eu ouço o nome “Napoleão” e decido que seria um bom nome para meu tamanduá de estimação, não satisfaço essa condição. (Talvez seja algum tipo de falha em manter a referência fixa que explica a divergência dos usos atuais de “Papai Noel” em relação ao suposto uso original.)
Note que o esboço anterior dificilmente elimina a noção de referência; ao contrário, ele toma a noção de intenção de usar a mesma referência como um dado. Há também um apelo a um batismo inicial que é explicado em termos de fixação de uma referência por uma descrição ou ostensão (se a ostensão não for subsumida sob a outra categoria). (Talvez haja outras possibilidades para batismos iniciais.) Além disso, o caso de George Smith lança algumas dúvidas quanto à suficiência das condições. Mesmo que o professor se refira ao vizinho dele, está claro que ele transmitiu a referência aos alunos? Por que a crença deles não deveria ser sobre qualquer outro homem chamado “George Smith”? Se ele disser que Newton foi atingido por uma maçã, de algum modo a tarefa de transmitir uma referência é mais fácil, já que ele comunicou um equívoco comum sobre Newton.
Para repetir, talvez eu não tenha apresentado uma teoria, mas creio que apresentei uma visão melhor do que a oferecida pelos teóricos da descrição.
Acho que o próximo tópico sobre o qual quero falar é o das afirmações de identidade. Essas afirmações são necessárias ou contingentes? Essa questão tem sido objeto de disputa na filosofia recente. Primeiro, todos concordam que descrições podem ser usadas para fazer afirmações de identidade contingentes. Se for verdade que o homem que inventou os bifocais foi o primeiro diretor-geral dos correios dos Estados Unidos – que esses eram um e o mesmo – isso é contingentemente verdadeiro. Ou seja, poderia ter sido o caso de que um homem inventou os bifocais e outro foi o primeiro diretor-geral dos correios dos Estados Unidos. Portanto, certamente quando fazemos afirmações de identidade usando descrições – quando dizemos “o x tal que φx e o x tal que ψx são um e o mesmo” – isso pode ser um fato contingente. Mas os filósofos também têm se interessado na questão das afirmações de identidade entre nomes. Quando dizemos “Héspero é Fósforo” ou “Cícero é Túlio”, o que estamos dizendo é necessário ou contingente? Além disso, eles têm se interessado em outro tipo de afirmação de identidade, que vem da teoria científica. Identificamos, por exemplo, a luz com a radiação eletromagnética entre certos limites de comprimento de onda, ou com um fluxo de fótons. Identificamos o calor com o movimento de moléculas; o som com um certo tipo de distúrbio ondulatório no ar; e assim por diante. A respeito de tais afirmações, a seguinte tese é comumente sustentada. Primeiro, que essas são obviamente identidades contingentes: descobrimos que a luz é um fluxo de fótons, mas claro que poderia não ter sido um fluxo de fótons. O calor é de fato o movimento de moléculas; descobrimos isso, mas o calor poderia não ter sido o movimento de moléculas. Em segundo lugar, muitos filósofos se consideram muito afortunados por esses exemplos existirem. Agora, por quê? Esses filósofos, cujas opiniões são expostas em uma vasta literatura, defendem uma tese chamada “tese da identidade” com respeito a alguns conceitos psicológicos. Eles pensam, por exemplo, que a dor é apenas um certo estado material do cérebro ou do corpo – digamos, a estimulação de fibras C. (Não importa qual seja exatamente.) Algumas pessoas então objetaram: “Bem, veja, talvez haja uma correlação entre a dor e esses estados do corpo; mas isso deve ser apenas uma correlação contingente entre duas coisas diferentes, porque foi uma descoberta empírica que essa correlação existiu. Portanto, por ‘dor’ devemos significar algo diferente desse estado do corpo ou do cérebro; e, portanto, eles devem ser duas coisas diferentes.”
Então dizem: “Ah, mas veja, isso está errado! Todo mundo sabe que podem existir identidades contingentes.” Primeiro, como no caso dos bifocais e do diretor-geral dos correios, que mencionei antes. Em segundo lugar, no caso, considerado mais próximo do paradigma atual, de identificações teóricas, como luz e um fluxo de fótons, ou água e um certo composto de hidrogênio e oxigênio. Todas essas são identidades contingentes. Elas poderiam ter sido falsas. Portanto, não é surpresa que possa ser verdade, como um fato contingente e não por necessidade, que sentir dor ou ver vermelho seja apenas um certo estado do corpo humano. Tais identificações psicofísicas podem ser fatos contingentes, assim como as outras identidades são fatos contingentes. E claro que há motivações amplamente difundidas – ideológicas, ou simplesmente o desejo de não ter o “penduricalho nomológico” de conexões misteriosas não explicadas pelas leis da física, correlações um a um entre dois tipos diferentes de coisa, estados materiais e coisas de um tipo inteiramente diferente – que levam as pessoas a querer acreditar nessa tese.
Acho que a principal coisa sobre a qual falarei primeiro são as afirmações de identidade entre nomes. Mas sustento o seguinte sobre o caso geral. Primeiro, que identificações teóricas características como “O calor é o movimento de moléculas” não são verdades contingentes, mas verdades necessárias, e aqui, claro, não quero dizer apenas fisicamente necessárias, mas necessárias no mais alto grau – seja lá o que isso signifique. (A necessidade física pode acabar sendo a necessidade no mais alto grau. Mas essa é uma questão que não quero antecipar. Pelo menos para esse tipo de exemplo, pode ser que, quando algo é fisicamente necessário, também seja necessário tout court.) Em segundo lugar, que a maneira como essas identificações se mostraram verdades necessárias não me parece ser uma maneira pela qual as identidades mente-cérebro poderiam se mostrar necessárias ou contingentemente verdadeiras. Portanto, essa analogia precisa ser abandonada. É difícil ver o que colocar em seu lugar. É difícil ver, portanto, como evitar concluir que as duas são realmente diferentes.
Deixe-me voltar ao caso mais mundano dos nomes próprios. Isso já é suficientemente misterioso. Há uma disputa sobre isso entre Quine e Ruth Barcan Marcus. Marcus diz que identidades entre nomes são necessárias. Se alguém pensa que Cícero é Túlio e realmente usa “Cícero” e “Túlio” como nomes, ele está, assim, comprometido a sustentar que sua crença é uma verdade necessária. Ela usa o termo “mero rótulo”. Quine responde o seguinte: “Podemos rotular o planeta Vênus, numa bela noite, com o nome próprio ‘Héspero’. Podemos rotular o mesmo planeta novamente, algum dia antes do nascer do sol, com o nome próprio ‘Fósforo’. Quando descobrimos que rotulamos o mesmo planeta duas vezes, nossa descoberta é empírica. E não porque os nomes próprios fossem descrições.” Primeiro, como Quine diz, quando descobrimos que rotulamos o mesmo planeta duas vezes, nossa descoberta foi empírica. Outro exemplo que acho que Quine dá em outro livro é que a mesma montanha vista do Nepal e do Tibete, ou algo assim, é de um ângulo chamada “Monte Everest” (você já ouviu falar disso); de outro ângulo, supostamente é chamada “Gaurisanker”. Pode realmente ser uma descoberta empírica que Gaurisanker é o Everest. (Quine diz que o exemplo é de fato falso. Ele obteve o exemplo de Erwin Schrödinger. Você não pensaria que o inventor da mecânica ondulatória erraria tanto. Não sei de onde o erro supostamente vem. Certamente se pode imaginar essa situação como tendo ocorrido; e é outra boa ilustração do tipo de coisa que Quine tem em mente.)
E quanto a isso? Eu queria encontrar uma boa citação do outro lado, de Marcus, neste livro, mas estou tendo dificuldade em localizar uma. Estando presente naquela discussão, lembro-me de que ela defendia a visão de que, se você realmente tem nomes, um bom dicionário deveria ser capaz de dizer se eles têm a mesma referência. Então alguém deveria ser capaz, ao olhar no dicionário, de dizer que Héspero e Fósforo são o mesmo. Agora isso não parece ser verdade. Parece, para muitas pessoas, ser uma consequência da visão de que as identidades entre nomes são necessárias. Portanto, a visão de que afirmações de identidade entre nomes são necessárias geralmente tem sido rejeitada.
A conclusão de Russell foi um pouco diferente. Ele achava que nunca deveria haver qualquer questão empírica sobre se dois nomes têm a mesma referência. Isso não se verifica para nomes comuns, mas se verifica quando você está nomeando seu próprio dado sensorial, ou algo assim. Você diz: “Aqui, isto, e aquilo” (designando o mesmo dado sensorial por ambos os demonstrativos). Assim, você pode dizer sem investigação empírica que está nomeando a mesma coisa duas vezes; as condições são satisfeitas. Como isso não se aplica a casos ordinários de nomeação, nomes “comuns” não podem ser nomes genuínos.
O que devemos pensar sobre isso? Primeiro, é verdade que alguém pode usar o nome “Cícero” para se referir a Cícero e o nome “Túlio” para se referir também a Cícero, e não saber que Cícero é Túlio. Assim, parece que não sabemos necessariamente a priori que uma afirmação de identidade entre nomes é verdadeira. Isso não se segue que a afirmação assim expressa seja contingente, se verdadeira. Isso é o que enfatizei na minha primeira palestra. Há um sentimento muito forte que leva alguém a pensar que, se você não pode saber algo por raciocínio a priori, então isso deve ser contingente: poderia ter sido diferente; mas, no entanto, acho que esse sentimento está errado.
Vamos supor que nos refiramos ao mesmo corpo celeste duas vezes, como ‘Héspero’ e ‘Fósforo’. Dizemos: Héspero é aquela estrela ali à noite; Fósforo é aquela estrela ali pela manhã. Na verdade, Héspero é Fósforo. Existem realmente circunstâncias em que Héspero não teria sido Fósforo? Supondo que Héspero seja Fósforo, vamos tentar descrever uma situação possível em que não teria sido. Bem, é fácil. Alguém passa e chama duas estrelas diferentes de ‘Héspero’ e ‘Fósforo’. Pode até ser sob as mesmas condições que prevaleciam quando introduzimos os nomes ‘Héspero’ e ‘Fósforo’. Mas essas são circunstâncias em que Héspero não é Fósforo ou não teria sido Fósforo? Parece-me que não.
Agora, claro, estou comprometido a dizer que não são, ao afirmar que termos como ‘Héspero’ e ‘Fósforo’, quando usados como nomes, são designadores rígidos. Eles se referem, em todos os mundos possíveis, ao planeta Vênus. Portanto, nesse mundo possível também, o planeta Vênus é o planeta Vênus e não importa o que qualquer outra pessoa tenha dito nesse outro mundo possível. Como devemos descrever essa situação? Ele não pode ter apontado para Vênus duas vezes, e em um caso chamado de ‘Héspero’ e no outro de ‘Fósforo’, como fizemos. Se ele o fez, então ‘Héspero é Fósforo’ também teria sido verdadeiro nessa situação. Ele talvez não tenha apontado nenhuma vez para o planeta Vênus — pelo menos uma vez ele não apontou para o planeta Vênus, digamos, quando apontou para o corpo que chamou de ‘Fósforo’. Então, nesse caso, certamente podemos dizer que o nome ‘Fósforo’ pode não ter se referido a Fósforo. Podemos até dizer que, exatamente na posição onde, ao ser vista pela manhã, encontramos Fósforo, poderia ter sido o caso de Fósforo não estar lá — que outra coisa estivesse lá, e que até, sob certas circunstâncias, fosse chamada de ‘Fósforo’. Mas isso ainda não é um caso em que Fósforo não era Héspero. Pode haver um mundo possível em que, uma situação contrafactual em que, ‘Héspero’ e ‘Fósforo’ não fossem nomes das coisas que de fato são nomes. Alguém, se determinasse a referência deles usando descrições identificadoras, poderia até ter usado exatamente as descrições que usamos. Mas ainda assim isso não é um caso em que Héspero não era Fósforo. Pois não poderia ter havido tal caso, dado que Héspero é Fósforo.
Agora isso parece muito estranho porque, de antemão, estamos inclinados a dizer que a resposta para a pergunta se Héspero é Fósforo poderia ter sido de qualquer forma. Então, realmente não há dois mundos possíveis — um em que Héspero era Fósforo e outro em que Héspero não era Fósforo — antes de descobrirmos que eram o mesmo? Primeiro, há um sentido em que as coisas poderiam ter ocorrido de qualquer forma, no qual é claro que isso não implica que a forma como finalmente ocorre não seja necessária. Por exemplo, o teorema das quatro cores pode se revelar verdadeiro ou pode se revelar falso. Poderia ter ocorrido de qualquer forma. Isso ainda não significa que a forma como ocorre não seja necessária. Obviamente, o ‘poderia’ aqui é puramente ‘epistêmico’ — ele apenas expressa nosso estado atual de ignorância ou incerteza.
Mas parece que no caso de Héspero-Fósforo, algo ainda mais forte é verdadeiro. A evidência que tenho antes de saber que Héspero é Fósforo é que vejo certa estrela ou certo corpo celeste à noite e o chamo de ‘Héspero’, e pela manhã e o chamo de ‘Fósforo’. Eu sei dessas coisas. Certamente há um mundo possível no qual um homem tenha visto uma certa estrela em uma certa posição à noite e a tenha chamado de ‘Héspero’ e uma certa estrela pela manhã e a tenha chamado de ‘Fósforo’; e que tenha concluído — tenha descoberto por investigação empírica — que ele nomeou duas estrelas diferentes, ou dois corpos celestes diferentes. Pelo menos uma dessas estrelas ou corpos celestes não era Fósforo, caso contrário não poderia ter resultado dessa forma. Mas isso é verdade. E assim é verdade que, dada a evidência que alguém tem antes de sua investigação empírica, ele pode ser colocado, em certo sentido, exatamente na mesma situação — ou seja, uma situação epistêmica qualitativamente idêntica — e chamar dois corpos celestes de ‘Héspero’ e ‘Fósforo’, sem que eles sejam idênticos. Então, nesse sentido, podemos dizer que poderia ter resultado de qualquer forma. Não que pudesse ter resultado de qualquer forma quanto ao fato de Héspero ser Fósforo. Embora, por tudo que sabíamos de antemão, Héspero não fosse Fósforo, isso não poderia ter resultado de outra forma, em um certo sentido. Mas, sendo colocado em uma situação onde temos exatamente as mesmas evidências, qualitativamente falando, poderia ter acontecido que Héspero não fosse Fósforo; ou seja, em um mundo contrafactual no qual ‘Héspero’ e ‘Fósforo’ não fossem usados da maneira que os usamos, como nomes deste planeta, mas como nomes de alguns outros objetos, alguém poderia ter tido evidências qualitativamente idênticas e concluído que ‘Héspero’ e ‘Fósforo’ nomeavam dois objetos diferentes. Mas nós, usando os nomes como usamos agora, podemos dizer de antemão que, se Héspero e Fósforo são um e o mesmo, então em nenhum outro mundo possível eles podem ser diferentes. Usamos ‘Héspero’ como o nome de um certo corpo e ‘Fósforo’ como o nome de um certo corpo. Usamo-los como nomes desses corpos em todos os mundos possíveis. Se, de fato, eles são o mesmo corpo, então em qualquer outro mundo possível temos que usá-los como o nome desse objeto. E assim, em qualquer outro mundo possível, será verdade que Héspero é Fósforo. Portanto, duas coisas são verdadeiras: primeiro, que não sabemos a priori que Héspero é Fósforo, e não estamos em posição de descobrir a resposta exceto empiricamente. Segundo, isso acontece porque poderíamos ter evidências qualitativamente indistinguíveis das que temos e determinar a referência dos dois nomes pelas posições de dois planetas no céu, sem que os planetas fossem os mesmos.
Claro, é apenas uma verdade contingente (não verdadeira em todos os outros mundos possíveis) que a estrela vista ali à noite é a estrela vista ali pela manhã, porque há mundos possíveis em que Fósforo não era visível pela manhã. Mas essa verdade contingente não deve ser identificada com a afirmação de que Héspero é Fósforo. Ela só poderia ser assim identificada se você pensasse que era uma verdade necessária que Héspero fosse visível ali à noite ou que Fósforo fosse visível ali pela manhã. Mas nenhuma dessas afirmações é uma verdade necessária, mesmo que seja dessa forma que identificamos o planeta. Essas são as marcas contingentes pelas quais identificamos um certo planeta e lhe damos um nome.
Continua 113/180