Existem muitos motivos válidos para pedir demissão. Talvez você queira um salário melhor, precise se afastar de um chefe tóxico ou esteja pronto para seguir uma nova carreira. Mas sair de um emprego pode ser assustador, porque também evidencia o que você pode perder: os relacionamentos construídos com colegas, o conforto de um chefe e de uma organização já familiares, a estabilidade financeira e, às vezes, até a sua percepção de si mesmo como alguém persistente, resiliente e leal.
Este artigo analisa alguns livros recentes que oferecem conselhos sobre como avaliar os prós e contras de pedir demissão:
- Quit: The Power of Knowing When to Walk Away;
- Two Weeks Notice: Find the Courage to Quit Your Job, Make More Money; e
- My What If Year: A Memoir
Há muitas razões legítimas para deixar um emprego. Talvez você esteja em busca de um salário maior, precise fugir de um chefe tóxico ou esteja pronto para explorar uma nova carreira. Há alguns anos, eu deixei um cargo que um dia considerei um sonho, porque havia chegado a um nível de exaustão do qual não conseguia mais me recuperar.
Ainda assim, pedir demissão pode ser assustador, porque nos faz pensar no que vamos perder: os laços com colegas, o ambiente familiar, a segurança financeira e até a identidade que construímos como alguém forte e comprometido. Vários livros recentes propõem uma mudança de perspectiva: em vez de perguntar “O que eu vou perder?”, deveríamos nos perguntar “O que eu tenho a ganhar?”.
No livro “Quit”, a consultora e ex-campeã de pôquer Annie Duke nos lembra que tomar boas decisões envolve considerar também os custos de não agir. Permanecer em um caminho infrutífero — por mais tempo e energia que já tenha sido investido — não leva ao progresso real. “Ao contrário do que se pensa”, ela escreve, “desistir pode te levar mais rápido aonde você quer chegar.”
Como saber com certeza se você está tomando a decisão certa? Você não pode saber, mas pode fazer uma estimativa fundamentada. Assim como no pôquer, decidir entre “continuar ou sair” é um jogo de probabilidades, e Duke recomenda olhar para essa decisão aparentemente subjetiva de forma quantitativa, estimando o valor esperado de cada alternativa. Primeiro, crie um sistema para pontuar os possíveis resultados — positivos e negativos — de permanecer no emprego atual e de aceitar outro. (Quando testei isso em um cenário hipotético, usei uma escala simples de 1 a 10.) Depois, estime a probabilidade de cada resultado acontecer. Multiplique a probabilidade pela pontuação e some todos os valores. Se isso parecer técnico demais, basta perguntar: “Qual a chance de eu estar feliz no meu emprego atual daqui a seis meses?” e “Qual a chance de eu estar feliz em um novo?” Muitas pessoas respondem “zero por cento” à primeira pergunta e “não sei” à segunda — o que já indica que essa segunda chance pode ser maior do que zero, tornando a decisão mais fácil.
Antes de sair daquele emprego dos sonhos, fiz um cálculo semelhante. Estava apreensiva com a ideia de sair sem ter outro trabalho garantido, mas sabia que as chances de estar mais feliz fazendo algo diferente eram altas. Então pedi demissão, e estava certa: encontrei um trabalho mais criativo e minha saúde mental melhorou.
Amy Porterfield, educadora de marketing digital, deixou seu emprego corporativo em busca de liberdade empreendedora e, no livro “Two Weeks Notice”, conta sua história. Após anos ajudando a realizar a visão de outras pessoas, ela encontrou sua resposta para a pergunta “Por que pedir demissão?”: “Não quero mais que ninguém me diga o que fazer, quando fazer ou como fazer — nunca mais.”
Se você também quer sair e seguir seu próprio caminho, o guia abrangente de Porterfield para criar o seu negócio pode ser útil. Ela oferece conselhos práticos sobre como definir seu cliente ideal, construir sua lista de e-mails e gerar receita. Começa do básico: ajudar você a descobrir seu “porquê” e, se esse “porquê” apontar para deixar o emprego, como entregar seu aviso prévio.
Já Alisha Fernandez Miranda, ex-CEO de uma agência de pesquisa com foco social, seguiu um caminho diferente. Em “My What If Year”, ela relata como decidiu fazer uma pausa em sua carreira consolidada para realizar uma série de estágios. Embora já tivesse a liberdade empreendedora que Porterfield almejava, sentia necessidade de aventura. Como ela mesma diz: “Eu havia caído numa vida que não era o que eu queria, e não via outra saída a não ser jogar uma granada em tudo que havia construído.”
Com o apoio da família e dos amigos, Miranda passou mais de 12 meses trabalhando em duas produções da Broadway, uma startup de fitness, a casa de leilões Christie’s e um hotel de luxo na Escócia. Ao longo do livro, é possível ver em prática o conceito de Duke sobre valor esperado. Sim, havia perdas: sua empresa podia perder fôlego, ela abriria mão da renda anual, e a rotina familiar seria alterada. Mas ela percebeu que manter o status quo também tinha um custo alto — e que poderia ganhar muito mais ao mudar. “Talvez eu não precisasse mais me definir pelas minhas conquistas e pela velocidade com que as alcançava, mas sim pelo que me trazia alegria, felicidade e despertava minha paixão”, escreve.
Nem todo mundo pode pausar a carreira para trabalhos não remunerados, mas é possível explorar novos caminhos com riscos mais baixos — como fazer trabalho voluntário, aprender um novo hobby ou fazer um curso — para refletir se vale a pena mudar de emprego ou de área.
A pandemia e outros acontecimentos dos últimos anos fizeram muitos de nós repensar o que é importante no trabalho — e na vida como um todo. Embora haja debate sobre se a “Grande Renúncia” foi real ou apenas uma reorganização do mercado de trabalho, os milhões de pessoas que pediram demissão ajudaram a quebrar o estigma que cercava essa decisão. Deixar um emprego não deve mais ser visto como sinal de fracasso ou fraqueza. Devemos, sim, encarar como uma aposta calculada — e até como um ato de coragem. Ao reavaliarmos nossas prioridades diante das incertezas, incluindo o cenário econômico global nebuloso, não podemos esquecer que muitas vezes ganhamos mais ao desistir do que ao insistir.
Fonte:
Uma versão deste artigo foi publicada na edição de março–abril de 2023 da Harvard Business Review. Artigo traduzido pelo ChatGPT 4.
Sobre o autor:
Holly Bauer Forsyth é editora sênior da Harvard Business Review.