De junho de 2015, quando os embarques foram retomados, a janeiro de 2016, os chineses compraram US$ 517 milhões em carne bovina do Brasil, o equivalente a 16% da receita proveniente com as exportações do produto, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.
Nesse mesmo período, o Egito ocupou a segunda posição entre os importadores, em receita, seguido por Hong Kong, região que pertence à China e que nos últimos anos foi a porta de entrada da carne brasileira no continente. Considerando as compras de Hong Kong, que chegaram a US$ 389 milhões, os chineses importaram US$ 906 milhões em carne bovina do Brasil nos últimos oito meses, ou 28% do total exportado.
A velocidade do crescimento das exportações para a China não surpreende, considerando a dimensão do mercado. Mas, logo que o país asiático autorizou a retomada das importações, analistas apostavam em uma lenta recuperação –os negócios estavam suspensos desde 2012, devido a um caso atípico do mal da vaca louca no Paraná. Na época, a China representava cerca de 1% dos embarques de carne brasileira. “Não imaginávamos que a China ocuparia essa posição de destaque tão rapidamente. Normalmente, existe uma lacuna entre a abertura do mercado e o aumento dos embarques”, disseram especialistas no mercado do agronegócio.
As negociações sobre os procedimentos adotados entre as agências de inspeção sanitária e a habilitação de frigoríficos para a exportação costumam demorar. Neste caso, o importador foi ágil. Atualmente, 16 frigoríficos podem exportar para China.
Efeito petróleo
Mas a principal explicação para a rápida ascensão da China na balança de carne brasileira é a crise em tradicionais compradores do produto, como a Rússia e a Venezuela, e o embargo da Arábia Saudita, que chegou ao fim apenas em novembro. “A forte queda no preço do petróleo foi um dos fatores determinantes para essa escalada da China”, diz Lopes. Com economias altamente dependentes do óleo, esses importadores ficaram mais pobres e frearam as compras. No ano passado, as exportações caíram 57% para a Rússia e 41% para a Venezuela, em comparação com 2014, segundo a Abiec (associação dos exportadores de carne).
Com a possibilidade de exportar diretamente para a China, as vendas para Hong Kong caíram 44% em 2015. A região, porém, continua absorvendo um importante volume da carne brasileira, sendo o terceiro maior importador. O acordo entre Brasil e China não autoriza a exportação de miúdos e carnes com osso, que continuam entrando no país via Hong Kong.
Só o começo
Com uma população de 1,3 bilhão de pessoas e um consumo per capita baixo, inferior a 6 quilos por habitante ao ano, analistas acreditam que o apetite chinês só está começando. No Brasil, o consumo per capita de carne bovina varia entre 35 e 40 quilos. A demanda chinesa por carnes ainda tem muito a crescer, agora favorecida por um novo modelo de crescimento, mais voltado ao consumo interno. A China se consolida como um dos principais mercados, e pode ser, inclusive, uma alternativa à Europa na exportação de cortes nobres. Eles estão comprando todos os tipos de corte, e alguns já apresentam um bom patamar de preço.
Embaladas por novos mercados, exportações de carne bovina crescem em janeiro de 2016
Derrubada de embargos e abertura de mercados compradores do produto brasileiro impulsiona exportações. Dólar mais caro também ajuda. Brasileiros, por outro lado, deverão sentir no bolso aumento dos preços domésticos.
A abertura de novos mercados compradores da carne bovina brasileira, que se deu ao longo do ano passado, começou o ano de 2016 rendendo frutos para as exportações da mercadoria. A Rússia, um dos países que retirou embargo ao produto do Brasil em 2015, ampliou em 17% suas compras realizadas em janeiro em relação a igual mês do ano passado. O Irã, onde o Brasil também ganhou mercado no ano passado, ficou entre os grandes compradores de carne in natura em janeiro.
A desvalorização do real frente ao dólar é outro fator que impulsiona as vendas externas dos produtos brasileiros. Segundo informações sobre as exportações brasileiras compiladas pela Abrafrigo (Associação Brasileira de Frigoríficos), as vendas externas de carne bovina in natura e processada do Brasil cresceram 1% no primeiro mês do ano ante janeiro do ano passado. Foram vendidas aos mercados externos 97.394 toneladas de carnes ante 96.255 toneladas exportadas em janeiro do ano passado. A receita cambial foi de US$ 367,4 milhões, queda de 13% na mesma comparação.
Além da Rússia, que comprou um pouco mais de 10 mil toneladas de carnes brasileiras, os países que mais aumentaram suas compras do Brasil em janeiro de 2016 foram o Irã, com 5.920 toneladas e o Chile, com 4.423 toneladas. O principal comprador continuou sendo Hong Kong que adquiriu 17.594 toneladas do produto brasileiro.
Pelo levantamento da Abrafrigo, os Estados que mais movimentaram as exportações de carne bovina no mês foram, pela ordem, São Paulo (26.446 t), Mato Grosso (15.457 t) e Goiás (12.611 t).
Em 2015, o Brasil reabriu os mercados da China, Argentina, do Iraque, Irã, Japão e da Arábia Saudita e conquistou pela primeira vez a Coreia do Norte, os Estados Unidos e Mianmar, de acordo com balanço do ministério da Agricultura. Além disso, ampliou o comércio de carne bovina com a Rússia.
Nas previsões do governo, as exportações brasileiras do agronegócio têm potencial de aumentar US$ 1,9 bilhão ao ano, o que representaria 11,3% do total das exportações do agronegócio.
Preço interno
A indústria brasileira exportadora de carnes aposta que, em 2016, venderá ao exterior mais mercadorias do que o registrado em 2014, que foi US$ 7,2 bilhões em carnes exportadas, o que já foi um recorde. Se confirmada a expectativa um dos principais reflexos para os brasileiros será o aumento do preço doméstico da carne, avaliam os economistas. Com mais procura pela carne brasileira em outros países, a proteína animal no Brasil subirá de preço pela mais simples lei da oferta e da procura.
Fontes: Jornais Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo