O bom desempenho internacional do agronegócio brasileiro

O agronegócio possui fundamental importância na economia brasileira em razão da significativa participação no Produto Interno Bruto (PIB) e na balança comercial, por gerar renda e empregos. O setor apresentou evoluções nas últimas décadas, sendo responsável em 2010 por 22,34% da geração de riquezas do País, representando um montante de R$ 821,06 bilhões (Cepea, 2011), além de responder por 37% dos empregos no Brasil.

Segundo o 11º levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento/Conab (Brasil, 2011a), a produção de grãos para a safra 2010/11 foi de 161,54 milhões de toneladas, sendo a área cultivada esti-mada em 49,65 milhões de hectares.

Em relação à cana-de-açúcar, a previsão na safra 2011/12 é de 588,915 milhões de toneladas, com queda de 5,6% em relação à safra 2010/11 – que foi de 623,905 milhões de toneladas. A área cultivada com cana-de-açúcar que será colhida e destinada à atividade sucroalcooleira está estimada em 8,43 milhões de hectares. Segundo Miranda et al (2011), o potencial de área para agropecuária no Brasil varia entre 303 milhões de hectares a 366 milhões de hectares, ou seja, de 36% a 43% do território nacional.

A relevância do setor no contexto global se acentua diante das projeções de população e renda dos países. Segundo a FAO (2010), até 2050 a população mundial deverá crescer dos atuais 7 bilhões para 9,3 bilhões de habitantes, sendo que 70% estarão residindo nas cidades.

Para que todos tenham acesso aos alimentos, a oferta mundial precisará aumentar em 70% nos próximos 40 anos. Nesse contexto, a demanda global por grãos e óleos vegetais destinados à alimentação humana e animal e à produção de energia deverá ser elevada em 1,5 bilhão de toneladas.

Pode-se concluir, então, que o mundo precisará produzir mais grãos e óleos vegetais nos próximos 40 anos do que o produzido nos últimos 10 mil anos (FAO, 2010).

A produção de carnes, por sua vez, deverá crescer em mais de 200 milhões de toneladas para alcançar os 470 milhões de toneladas, conforme demanda estimada para 2050.

Os investimentos em agricultura e na melhoria dos acessos aos alimentos também devem ser incrementados. Caso contrário, 370 milhões de pessoas ficarão sem alimentos até 2050, o que representa 5% da população mundial (FAO, 2010).

Tendo como referência o período de 2007 a 2009, o Brasil é o produtor agrícola de crescimento estimado mais rápido até 2019 (40%), com grande margem de diferença quando comparado aos outros países: Ucrânia (29%), Rússia (26%), China (26%), Índia (21%), Austrália (17%), Estados Unidos e Canadá (10% a 15%), EU-27 (4%).

Um dos grandes desafios impostos ao agronegócio nacional é a consolidação de sistemas de produção sustentáveis diante da expectativa global, pois o setor é considerado o celeiro do mundo devido à disponibilidade de terras, ao clima propício à produção agropecuária e ao desenvolvimento tecnológico.

Somado a isso, o agronegócio tem ainda como desafio conciliar as melhores técnicas de modo a minimizar os impactos ambientais e sociais, aumentando a produtividade e ainda promovendo o resgate do valor que o setor possui no Brasil, desde as comunidades vizinhas até mercados importadores.

Diante da contextualização do assunto, o objetivo deste estudo foi analisar as exportações do agronegócio brasileiro em período recente e a sua inserção no âmbito no mercado mundial, considerando-se os produtos comercializados, os mercados de destino, as oportunidades e os principais desafios.

SALDO COMERCIAL

A evolução do saldo da balança comercial do agronegócio do Brasil mostra sua importância para o equilíbrio da balança comercial brasileira como um todo, por se tratar de um segmento da economia nacional que possui crescente saldo comercial.

As projeções para 2011 indicam um superávit da balança brasileira de US$ 26,26 bilhões, sustentando-se, como nos anos anteriores, no agronegócio e nos valores agregados de seus produtos. O superávit da balança comercial do agronegócio é estimado em US$ 67,90 bilhões, o que permite concluir que os demais setores da economia de forma conjunta (indústria e serviços) mostram-se deficitários.

Em 2010, as exportações atingiram o patamar de US$ 76,44 bilhões, incremento de 17,99% em relação ao ano anterior, com participação de 37,86% nas exportações totais brasileiras.

As projeções oficiais para 2011 indicam que o agronegócio exportará US$ 78,50 bilhões, o que representa um aumento de 2,69% (Figura 2). O complexo soja manteve a liderança no ranque de setores exportadores do agronegócio, representando 22,38% das exportações em 2010, seguido pelo setor sucroalcooleiro, com 18,02%, e pelas carnes, com 17,83%.

Ainda analisando o desempenho do complexo soja, observa-se que houve uma redução de 0,77% nos valores exportados (de US$ 17,24 bilhões para US$ 17,11 bilhões). Contudo, as quantidades comercializadas mostraram variação positiva, atingindo 44,30 milhões de toneladas.

A China é a primeira colocada, com compras de US$ 11,00 bilhões, o que representou 14,39% das exportações agronegócio brasileiro. Os Países Baixos aparecem na sequência, com aquisições de US$ 5,41 bilhões e participação de 7,07%. Na terceira posição figuram os Estados Unidos, com compras de US$ 5,40 bilhões, seguido pela Rússia, com US$ 4,06 bilhões.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desempenho do agronegócio brasileiro mostra um cenário com fundamentos sólidos, pois o setor vem apresentando evolução significativa nas vendas externas.

Contudo, os reais impactos da crise financeira nas economias mundiais, especialmente nos países desenvolvidos, bem como as barreiras tarifárias e, especialmente, não tarifárias, a disponibilidade de crédito nos processos produtivos, investimentos em infraestrutura (modais de transporte, portos e sistemas de armazenamento), aprimoramento do sistema tributário e a consolidação do seguro nas modalidades rural e renda se configuram como preocupações primordiais.

O Brasil deve priorizar os novos acordos comerciais, buscando pela queda de barreiras comerciais, de modo a ampliar mercados para uma parcela considerável dos países emergentes.

Deve-se considerar que o ritmo de crescimento das economias e da demanda por alimentos no mundo, com destaque para países da Ásia, da África e do Oriente Médio, promoverão oportunidades para o agronegócio brasileiro.

Sob o ponto de vista da sustentabilidade, o desenvolvimento de toda a cadeia de valor passará pela necessidade da manutenção do ciclo de melhoria contínua, que, dentre outras ações em marcha, inclui aplicação de tecnologias adequadas e responsabilidade socioambiental.

Contudo, sem retorno econômico, perde-se a viabilidade. Nesse novo cenário, faz-se necessária a reflexão na adoção de novos critérios a ser empregados em modelos já estabelecidos, considerando-se os reais benefícios a serem conquistados, com ênfase no retorno do balanço comercial e no resultado que teremos no futuro e na manutenção de um modelo sustentável.


Fonte: Visão Agrícola, por Marcos Antonio Matos e David Roquetti Filho


 

Atualização: Agosto de 2018:

Com US$ 96 bilhões, exportações do agronegócio têm aumento de 13% em 2017

Os dados da balança comercial do Agronegócio foram divulgados e mostram superavit de US$ 81 bilhões

As exportações brasileiras do agronegócio somaram US$ 96,01 bilhões em 2017, registrando aumento de 13% em relação ao ano anterior. Com o crescimento do valor exportado sobre as importações, o saldo da balança comercial do setor foi de superavit de US$ 81,86 bilhões ante os US$ 71,31 bilhões registrados em 2016 – o segundo maior saldo da balança do agronegócio da história, inferior apenas ao de 2013 (US$ 82,91 bilhões).

Os dados, divulgados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, mostram ainda que os produtos que mais contribuíram para o aumento das exportações foram o complexo da soja (+US$ 6,3 bilhões); produtos florestais (+US$ 1,3 bilhão); carnes (+US$ 1,26 bilhão); cereais, farinhas e preparações (+US$ 953,86 milhões); e o complexo sucroalcooleiro (+US$ 889,34 milhões).

De acordo com a pasta, a alta do saldo comercial se deve, em parte, ao início da recuperação de preços no mercado internacional e, sobretudo, ao aumento dos volumes exportados. No ranking de valor exportado, o complexo de soja também ocupou a primeira posição, com US$ 31,72 bilhões. As vendas de grãos foram recordes em valor (US$ 25,71 bilhões) e também em quantidade (68,15 milhões de toneladas).

As carnes ficaram em segundo lugar na pauta, com vendas de US$ 15,47 bilhões e crescimento de 8,9% em valor. A carne de frango, principal produto do setor, representou quase metade do montante (46,1%). Foram exportados US$ 7,14 bilhões do produto, 5,5% acima do que havia sido registrado no ano anterior. Já as vendas de carne suína apresentaram recorde histórico, somando US$ 1,61 bilhão, ou seja, 9,7% superiores a 2016.

O complexo sucroalcooleiro ocupou a terceira posição, com US$ 12,23 bilhões. As vendas de açúcar foram responsáveis por quase todo esse montante, com 93,3% do valor (US$ 11,41 bilhões). Houve crescimento de 9,4% ante 2016, quando foram exportados US$ 10,44 bilhões de açúcar brasileiro.

Operação Carne Fraca

Durante coletiva de imprensa, Maggi lembrou que 2017 foi marcado pela Operação Carne Fraca, deflagrada em março passado pela Polícia Federal para investigar irregularidades em frigoríficos brasileiros. A ação, segundo ele, trouxe “grau de preocupação intenso” ao governo. “Os números mostram que esse período foi ultrapassado com o aumento do volume de vendas”, disse o ministro.

Para este ano, a expectativa da pasta é de que os resultados sejam tão positivos quanto os de 2017, com destaque para um possível avanço no mercado asiático. O continente representa, atualmente, o principal destino das exportações brasileiras, totalizando US$ 44,17 bilhões e um crescimento de 18,1%. A China encerrou 2017 na liderança dos mercados do agronegócio brasileiro, ampliando sua participação de 24,5% em 2016 para 27,7% no ano passado.

O ministro disse ainda que espera concluir até abril deste ano o processo de reabertura do mercado dos Estados Unidos para a carne in natura brasileira. Em junho de 2017, o país anunciou a suspensão das importações do produto vindo do Brasil. “Acho possível resolver antes de abril”, avaliou. “Não há qualquer restrição política para esse assunto”, concluiu Blaggi.


Fonte:  Paula Laboissière para a Agência Brasil