Mato Grosso desenvolve cultivo de soja e milho de safrinha

O conceito de sustentabilidade começou a ser construído em 1972 na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo, capital da Suécia. Sustentabilidade, ou a necessidade de preservação dos recursos naturais do planeta para permitir seu uso também pelas futuras gerações, é assunto recorrente em qualquer discussão sobre produção agropecuária e destaca-se quase diariamente em todos os meios de comunicação.

Novas interpretações e tecnologias têm surgido para melhorar cada vez mais a compreensão do problema e visando à adoção rápida de soluções a fim de evitar a degradação ambiental e aumentar a oferta de alimentos a uma população mundial cada vez maior e com demandas crescentes.

Os quatro pilares que sustentam o conceito e que servem para definir qualquer empreendimento sustentável não podem ser esquecidos. São eles: economicamente viável; socialmente justo; ecologicamente correto; e culturalmente diverso. Produzir mais com menos é um conceito básico simples, mas certamente resume o que é sustenta-bilidade para a agropecuária.

ATIVIDADE SUSTENTÁVEL

Do ponto de vista dos produtores de soja, aumentar a produção com o auxílio de produtividades mais altas sempre foi um objetivo a ser alcançado. Isso tem acontecido de forma sistemática no Brasil, pois a área plantada com soja no Brasil cresceu menos do que o crescimento da produção.

Tal fato é explicado por produtividades crescentes – um aumento de 54% desde a safra 1991/92. O sucesso da produção de soja em Mato Grosso tornou o estado o maior produtor do país, sendo responsável, na safra 2010/11, pela produção de 28% da soja brasileira, que foi cultivada em 6,4 milhões de hectares – apenas 7,1% da área do estado.

A produtividade da soja em Mato Grosso é comparável às maiores produtividades mundiais. Esse sucesso com a soja permitiu o desenvolvimento de uma tecnologia de cultivo de uma segunda safra, notadamente com o plantio de milho.

A segunda safra de milho foi impulsionada no estado por alguns fatores, como o lançamento de novas variedades de soja de ciclo superprecoce, que permitem a colheita nos meses de janeiro e fevereiro e de híbridos de milho mais adaptados às condições de clima e solo do Cerrado.

A colheita da soja em janeiro e fevereiro também permitiu a redução dos custos de controle da ferrugem asiática, doença que passou a ocorrer nas plantações brasileiras com maior intensidade a partir de 2005.

O milho é plantado preferencialmente até 15 de fevereiro, pelo Sistema de Plantio Direto em cima da palhada da soja. A produção de milho de segunda safra permite a rotação de cultivos com os benefícios já conhecidos para essa prática, tanto agronômicos quanto econômicos. O milho de segunda safra vem ocupando ao redor de 30% da área plantada com soja no estado, praticamente o dobro do que acontecia 6 anos atrás.

DIFERENCIAL NA PRODUÇÃO

Avaliando a produção por hectare – aumentada pela segunda safra de milho na mesma área de produção de soja –, pode-se constatar como essa prática tem colaborado para construir uma sustentabilidade diferenciada no Brasil e no estado.

Pode-se concluir que a possibilidade de colheita de uma segunda safra na mesma área, no mesmo ano-safra, favorece muito a sustentabilidade da produção agrícola no Brasil (30% a mais na produção por hectare em Mato Grosso).

Há relatos de países que não conseguem sequer repetir uma safra a cada ano, em razão de suas condições climáticas. Certamente, isso afeta a comparação de sua sustentabilidade, relativamente à brasileira, considerando o conceito de produzir mais com menos.

À medida que os produtores forem dominando melhor essa técnica, veremos a segunda safra aumentar ainda mais em proporção à área plantada com soja. Outras culturas também deverão despontar como opção: girassol, algodão, sorgo, amendoim e milho-pipoca, por exemplo.

Outra possibilidade de se melhorar ainda mais a sustentabilidade da produção no Brasil é o Sistema de Integração Lavoura-Pecuária. É possível uma terceira safra na mesma área, no mesmo ano, quando se considera tal possibilidade. Algumas propriedades já adotaram esse sistema, tornando possível “colher” mais uma safra de carne entre a colheita do milho de segunda safra em junho e o plantio da nova safra de soja em outubro.

A técnica consiste em plantar a semente do capim – geralmente uma braquiária – junto com o plantio do milho. A pastagem vai se desenvolvendo em ritmo diferente do milho, não lhe causando competição a ponto de reduzir a produtividade.

Após a colheita do milho, tem-se uma pastagem de alta qualidade que poderá engordar algumas cabeças de gado justamente quando a pastagem tradicional reduz sua capacidade de suporte em função da época da seca.

A utilização de uma área de pastagem de alta qualidade, justamente durante a época em que os rebanhos sofrem com a falta de pastagens, é uma técnica que diminui a pressão para abertura de novas áreas.

A utilização de Sistema de Confinamento para a terminação de bovinos de corte também é outra possibilidade do Sistema de Integração Lavoura-Pecuária, cujos resultados em termos de aumento da sustentabilidade são excelentes.

Trata-se de produzir e transportar carne – um produto de alto valor agregado – ao invés de matéria-prima: os grãos de soja e milho. Só com a economia de emissão de gases de efeito estufa no transporte será obtido um ganho ambiental considerável.

QUALIDADE SOCIOAMBIENTAL

Mas não é só de aumentos de produtividade e de produção que vive a sustentabilidade da agropecuária brasileira. As Reservas Legais e as Áreas de Preservação Permanente também devem entrar nessa contabilidade.

Afinal, por enquanto, apenas o Brasil possui uma legislação que obriga seus produtores a manter, a seu custo, uma área de Preservação Ambiental dentro de suas propriedades.

Essas áreas prestam serviços ambientais para toda a população mundial, tais como carbono estocado, corredores de biodiversidade, produção de água, entre outros. Certamente, isto deverá ser valorizado pelos mercados, principalmente aqueles já considerados “maduros” e que exigem certificações que assegurem a qualidade socioambiental dos alimentos e matérias-primas a eles destinados.

Pode-se facilmente certificar os interessados, mostrando que, para cada tonelada produzida em nossas lavouras, temos outras tantas toneladas de carbono estocadas nas árvores das Reservas Legais e das Áreas de Preservação Permanente.

Ou será que todas essas exigências não passam de barreiras não tarifárias interpostas para impedir a aceleração do nosso crescimento como nação? Certamente, com todas essas alternativas para melhorar ainda mais a sustentabilidade da nossa produção agropecuária, aliadas aos nossos ativos ambientais únicos no mundo, não devemos temer, muito me-nos fugir, de debates a respeito do tema.


Fonte: Visão Agrícola, por Ricardo Arioli Silva