A superação dos resultados da avicultura

A ideia deste artigo é apresentar os principais pilares de sustentação que tornaram a avicultura brasileira uma referência mundial nos últimos 20 anos.

Ao analisarmos a produção brasileira de carne de frango, vemos que atualmente o Brasil é o 3º maior produtor, atrás apenas dos EUA e China. Em 2010, o Brasil produziu 12,3 milhões de toneladas e a expectativa para 2011 é de uma produção de aproximadamente 13 milhões de toneladas, isto é, tivemos um incremento de 5% na comparação com o último ano. Se voltarmos ao ano de 1996, a produção brasileira era de 4 milhões de toneladas, enquanto que a produção dos EUA, hoje em 16,5 milhões de toneladas, àquela época já se aproximava de 12 milhões de toneladas.

O que queremos mostrar com isto é a grande evolução da avicultura brasileira, com um crescimento em termos de volume de aproximadamente 225% nestes últimos 15 anos, enquanto que os estadunidenses viram sua produção crescer apenas 37%.

Outro dado interessante é o fato de que o Brasil exportava em 1996 apenas 1/4 daquilo que era exportado então pelos EUA (570 mil toneladas x 2 milhões de toneladas, respectivamente). A partir dos dados de 2010, vemos que o Brasil exporta hoje 25% a mais do que os EUA (3,8 milhões de toneladas x 3 milhões de toneladas, respectivamente). Ou seja, definitivamente nos tornamos referência mundial quando o assunto é carne de frango.

Para que toda esta evolução em tão pouco tempo fosse possível, alguns fatores foram chave.

Entre os principais está, sem dúvida, a estabilização da economia a partir do Plano Real em 1994. A inflação, grande vilã da década de 80 e início dos anos 90, foi controlada, permitindo um aumento do poder real de compra da população. Quem acompanhou a instauração do Plano Real muito provavelmente irá se lembrar do mote que mencionava que com uma moeda de R$ 1,00 era possível comprar um quilo de frango.

Como comparativo, em 1996 o consumo per capita de frango no Brasil era de 22 kg, enquanto que em 2010 este consumo foi de 44 kg por habitante, isto é, o dobro de consumo por habitante em 15 anos. Para 2011, espera-se que o consumo aumente para aproximadamente 48 kg per capita, tornando-se de longe a proteína animal mais consumida no Brasil (para referência, carne bovina – 38 kg per capita e carne suína – 15 kg per capita).

Outro motivo crucial para este aumento do consumo interno foi o aumento da renda da população brasileira. Como se sabe, proteína animal, em geral, apresenta uma elasticidade-renda positiva, ou seja, conforme se aumenta a renda o consumo segue a mesma tendência. Quando analisamos os dados, notamos que o crescimento de consumo foi maior a partir da década de 2000, momento este em que alguns milhões de brasileiros ascenderam socialmente, muito em função de programas governamentais guiados para o aumento de renda, pelo efeito transbordamento do aumento de gastos governamentais e investimentos e pela facilitação do acesso ao crédito.

Neste sentido, a carne de frango, que é dentre as três proteínas mais consumidas, a mais barata, aproveitou-se do período de bonança para ingressar de vez na refeição dos brasileiros, sendo a porta de entrada para uma faixa da população que não estava acostumada a consumir proteína animal.

Ademais, o trabalho de dar visibilidade e conscientização sobre os benefícios da carne de frango impactaram positivamente no aumento do consumo interno.

No que se refere aos volumes exportados, acreditamos que três fatores foram fundamentais para nos tornarmos referência.

O primeiro dele é a conscientização por parte de empresários do setor e do poder público de que precisávamos de um serviço sanitário minimamente reconhecido e que para isto era preciso investir em capacitação de pessoal, tecnologia e alinhamento de procedimentos que pudessem garantir que o frango brasileiro tivesse sua imagem vinculada a um produto de alta qualidade e sanidade.

Isto contribuiu para o segundo ponto que julgamos importante para o aumento das exportações, que é a abertura de novos mercados. Sem abrir novos mercados, ficaríamos restritos e por isto todo o trabalho realizado ao longo dos anos pela associação de classe do setor (antiga ABEF, atualmente UBABEF) em conjunto com os Ministérios da Agricultura, Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e das Relações Exteriores é louvável. Abrimos novos mercados em todos os continentes, mas especialmente, na Ásia, nas Américas e na África, continentes estes com grande potencial de consumo futuro, o que nos traz certo otimismo para os anos vindouros.

O terceiro ponto é o fato de que ao sermos colocados à prova a partir da liberalização econômica do início da década de 90, as indústrias do setor de forma geral se modernizaram e passaram a competir em condições de igualdade com os demais países exportadores. Hoje em dia, é nítido que somos mais produtivos e produzimos melhor (a partir de um moderno sistema de integração, por exemplo) que os demais players mundiais, corroborando a tese de que somos muito eficientes da “porteira/fábrica” para dentro. Em um mundo que cada vez mais demanda alimentos a preços justos, isto é fundamental.

Entretanto, temos problemas que nos impedem de sermos ainda melhor, a saber: condições precárias de infraestrutura e a alta carga de tributos incidente em quase tudo, como é caso da folha de pagamentos, por exemplo. Nos últimos anos, com a apreciação do real frente ao dólar também vimos nossa competitividade diminuir sensivelmente.

Ainda conseguimos nos garantir pela qualidade de nossos produtos e pela eficiência fabril, mas chegará um momento em que isto pode se tornar insuficiente frente aos problemas estruturais que nosso país tem atualmente.

De tudo o que foi mencionado no artigo, fica a mensagem de que quando o trabalho é benfeito e há coordenação entre todos os agentes (neste caso do sistema agroindustrial do frango) o impacto é positivo e o futuro não é algo que demora muito para chegar.


Fonte: RedeAgro, por Luis Renato Rua