Quatro novos livros investigam como a linguagem nos conecta, nos diferencia e nos ilumina.
The Power of Language, de Viorica Marian, explora os benefícios do multilinguismo. Pessoas multilíngues, por exemplo, têm melhor desempenho em tarefas que exigem funções executivas e conseguem fazer mais conexões originais.
Em A Myriad of Tongues, o autor Caleb Everett observa que existem hoje mais de 7.000 idiomas. E, embora os estudiosos tradicionalmente buscassem semelhanças entre os idiomas, pesquisas mais recentes têm se concentrado em como os idiomas divergem — e no que essas diferenças podem nos ensinar.
Um terceiro livro, Magic Words, do professor da Wharton Jonah Berger, examina como palavras específicas podem ter um impacto desproporcional, tornando-as mais eficazes para mudar mentes e corações ou impulsionar transformações.
Em contraste, STFU, de Dan Lyons, lembra aos leitores que, às vezes, não dizer nada é a melhor abordagem. “Todos nós”, ele escreve, “temos a ganhar falando menos, ouvindo mais e nos comunicando com intenção.” Seu livro oferece conselhos sobre como fazer isso, seja online, no trabalho ou em casa.
Cerca de um ano atrás, uma amiga sugeriu que eu me matriculasse em uma aula de sapateado para adultos, oferecida no centro comunitário da nossa cidade. A sugestão não foi tão aleatória quanto pode parecer. Por quase duas décadas durante minha juventude, eu adorei sapatear nas aulas e no palco. E quando calcei aqueles sapatos pretos de couro depois de quase 20 anos de pausa, me senti instantaneamente em casa.
O que mais me surpreendeu nessa redescoberta do sapateado não foi o quão rapidamente os passos voltaram à memória. Foi como a linguagem do sapateado, a pronúncia de palavras que eu não dizia havia décadas, me energizou:
- triple-time step;
- riff walk;
- cramp roll;
- back essence.
A professora dizia as palavras, e meus pés começavam a se mover automaticamente.
The Power of Language, escrito por Viorica Marian, pesquisadora em psicolinguística, me ajudou a entender o que estava acontecendo. Desde jovem, eu tinha me tornado fluente no sapateado. Sapateado é um código de comunicação que mudou meu cérebro, abrindo espaço para novos conhecimentos e experiências. Eu não usava essa linguagem havia muito tempo, e agora estava reativando-a.
Marian explora o poder do multilinguismo como o meu — e o tipo mais comum, como ser fluente em inglês, coreano e JavaScript. Ela explica que, embora a maioria das pessoas no mundo fale mais de um idioma, a maior parte das pesquisas até agora foi feita com populações monolíngues. Por isso, estamos apenas começando a entender o poder da mente multilíngue.
Quando você conhece vários idiomas, entende que o significado é atribuído, não inerente. Você extrai e interpreta informações de maneira diferente e fica mais atento a como as palavras fazem você se sentir. Tudo isso gera benefícios, segundo ela. Pessoas multilíngues desenvolvem habilidades de pensamento crítico e outras competências cognitivas superiores mais rapidamente durante a infância. Têm melhor desempenho em tarefas que exigem funções executivas, como seguir instruções complexas e manter o foco mesmo diante de distrações. Fazem mais conexões inovadoras e são mais abertas e receptivas do que os monolíngues. “Se você consegue apreciar, na prática, a utilidade e a beleza de outro idioma e visão de mundo, não é difícil imaginar que será menos propenso ao preconceito, a demonizar coisas ou pessoas diferentes de você”, explica Marian.
A valorização das diferenças linguísticas continua em A Myriad of Tongues. O autor e pesquisador de línguas Caleb Everett observa que existem mais de 7.000 idiomas atualmente, embora a maioria das pessoas não consiga nomear nem algumas dezenas. Historicamente, os acadêmicos buscavam semelhanças entre os idiomas e se concentravam principalmente naqueles usados por sociedades ocidentais, educadas, industrializadas, ricas e democráticas (sigla em inglês: WEIRD – western, educated, industrialized, rich, and democratic). Mas, segundo Everett, essa tendência está mudando. Pesquisas recentes têm focado em como as línguas divergem — e no que essas diferenças podem nos dizer sobre como pensamos e nos comportamos.
Seu livro sintetiza pesquisas próprias e de outros autores, trazendo dados de idiomas não pertencentes ao grupo WEIRD e ampliando nosso entendimento sobre como as palavras afetam a cognição, inclusive a forma como processamos os conceitos de tempo, espaço, cor e parentesco. Na língua indígena Karitiâna, falada no noroeste do Brasil, por exemplo, os termos usados para se referir a um parente dependem do gênero da pessoa que fala, e não apenas do gênero da pessoa mencionada. Há uma noção de simetria e reciprocidade no Karitiâna que não existe no inglês.
Uma vez que os líderes compreendem o poder da linguagem, podem aproveitar tanto as diferenças quanto as semelhanças para exercer influência. Como explica Jonah Berger, professor da Wharton e especialista em processamento de linguagem natural, em Magic Words, existem palavras específicas que, quando usadas da forma certa e no momento certo, têm mais impacto do que outras — para mudar opiniões, engajar públicos e impulsionar ações.
Por exemplo, no ambiente de trabalho, uma linguagem organizacional compartilhada (como o uso da palavra pivotar entre fundadores de startups, omnicanal entre varejistas, ou o uso de pronomes mais pessoais como “nós” ou “eu” em vez de “eles”) “pode facilitar a conversa, fazer as pessoas se sentirem conectadas e aumentar a percepção de que fazem parte do mesmo grupo”, escreve Berger. Isso pode aumentar o sentimento de confiança e afiliação — e até mesmo a probabilidade de promoção.
Mas quando buscamos criatividade ou memorabilidade, um vocabulário comum nem sempre é algo positivo. Textos publicitários cansativos ou slogans previsíveis, por exemplo, são fáceis de esquecer. Quando palavras inesperadas são combinadas de forma única, elas permanecem na memória. É por isso que o musical Hamilton foi um sucesso, observa Berger; seu estilo fugia do que os frequentadores de teatro estavam acostumados.
O livro de Berger reforça minha crença como editora — e deve nos lembrar — de que há valor em pensar cuidadosamente sobre cada palavra que usamos: como ela expressa um conceito ou nuance específica e como pessoas de diferentes geografias, culturas e origens podem experimentá-la.
E, ainda assim, em meio a tanta admiração pelo poder das palavras, o roteirista e jornalista Dan Lyons nos lembra, em STFU, que às vezes a melhor atitude é parar de usá-las. Quando você se cala e deixa os outros falarem, explica ele, obtém mais e melhores informações. Ouvir é um superpoder da liderança.
O livro de Lyons está repleto de sugestões práticas sobre como desligar — nas redes sociais, no trabalho, em casa, nos relacionamentos. Podemos excluir aplicativos do celular, manter reuniões pequenas e curtas, parar de reclamar das tarefas domésticas e fazer uma pausa para respirar antes de dizer algo do qual nos arrependeremos. “Todos nós, não apenas os que falam demais, temos a ganhar ao falar menos, ouvir mais e nos comunicar com intenção”, escreve Lyons. Podemos valorizar as palavras e a linguagem, mas entender que seu uso econômico e intencional é um caminho para a felicidade.
Lyons me ajudou a perceber mais uma coisa que amo na minha aula de sapateado — são 60 minutos por semana em que posso deixar meus sapatos falarem por mim.
Fonte:
Uma versão deste artigo foi publicada na edição de julho–agosto de 2023 da Harvard Business Review. Traduzido pelo ChatGPT 4.
Sobre a autora:
Lucy Swedberg é uma profissional de destaque na área editorial e educacional, atuando como Editora Executiva e Diretora Editorial Sênior na Harvard Business Publishing (HBP). Em sua função, ela lidera uma equipe dedicada ao desenvolvimento, avaliação e curadoria de produtos de aprendizagem ativa, como estudos de caso, simulações, vídeos e exercícios interativos, voltados para salas de aula de negócios em todo o mundo. Além disso, supervisiona os canais editoriais Inspiring Minds e Faculty Lounge, que oferecem insights e melhores práticas para professores e instrutores globalmente