Fujitsu: a dorokusai quer mudar

Grande no Japão, a divisão de serviços de TI dessa empresa “pé no chão” [dorokusai] ainda é bem pouco conhecida no mundo, apesar de ser a terceira maior competidora global, presente em 60 países. Esta reportagem revela como a Fujitsu pretende virar o jogo.

  • Cada 20 anos, toda empresa completa um ciclo de apogeu e declínio. É assim que pensam os gestores da Fujitsu e é por isso que preparam a reinvenção dessa companhia japonesa, focada principalmente em TI e comunicações: ela está com 75 anos de existência.
  • Agora, a decisão, mais do que bater a histórica concorrente IBM, é ser mais percebida internacionalmente, objetivo que vem sendo perseguido de várias maneiras.
  • Entre as iniciativas, estão o posicionamento de bom serviço local, apesar de ser global; a nova promessa da marca forte em inovação ”Formatando o amanhã com você”; o ambicioso supercomputador K; um modelo de negócio com mais terceirização; e a computação em nuvem.

Em uma sala de reuniões no 32º andar do escritório central da Fujitsu, no centro de Tóquio, um grupo de diretores tenta descrever a companhia. “Não é um tipo de lugar descolado e sexy”, diz um. “Somos calados. Calados e confiantes”, acrescenta outro. “Nunca desistimos”, arrisca um terceiro. “Nosso DNA se baseia em dar uma chance, em simplesmente fazer. Ao mesmo tempo, somos sólidos. O artesanato está no âmago de nossa produção. A fidedignidade também é muito importante, porque trabalhamos muito próximos a nossos clientes.”

Existe uma palavra em japonês que descreve perfeitamente a Fujitsu –dorokusai–, mas ninguém tem certeza de qual a melhor tradução. Tem algo a ver com ser pragmático e confiável e tocar o trabalho sem fazer alarde. Depois de um pouco de discussão, concordamos que o equivalente mais próximo em inglês seria “down-to-earth” [em português, pé no chão].

A Fujitsu é pé no chão

É uma descrição estranha para uma empresa de alta tecnologia com o currículo da Fujitsu: é a terceira maior competidora no mercado global de serviços de tecnologia da informação (TI), com vendas de US$ 50 bilhões e 172 mil funcionários em 60 países. Também tem um histórico notável como pioneira em tecnologia.

Em 1954, desenvolveu o primeiro computador japonês; em 1976, criou o primeiro supercomputador do país; em 1979, seus engenheiros tornaram possível processar os caracteres japoneses do kanji criando o primeiro computador a usar a língua japonesa. Em 1992, a companhia introduziu a primeira tela colorida de 21 polegadas do mundo, seguida, em 1995, pela primeira de plasma de 42 polegadas.

Hoje, é líder no mercado japonês de laptops e está envolvida em uma gama de tecnologias, da computação em nuvem à próxima geração de supercomputadores, de sistemas de simulação para motoristas de trem à telefonia móvel. Também participa de vários projetos científicos no Japão e em todo o mundo, assim como da expansão do papel da TI na agricultura, saúde e educação.

Mesmo assim, a Fujitsu continua pé no chão. Em mercados onde está estabelecida há muito tempo, como Europa e Estados Unidos, mantém-se low profile por teimosia. Em outros, incluindo China e Índia, mal é conhecida. Durante 75 anos, a Fujitsu cuidou de seus negócios como um gigante silencioso. Agora, sob a liderança de seu novo presidente, Masami Yamamoto, a empresa japonesa focada principalmente em TI e comunicações anseia por mudança.

Conduzida pela visão de Yamamoto, está tentando moldar não só o próprio futuro, mas o de seus clientes –e, talvez, o da sociedade também.

Fatos da vida corporativa

A mudança exige justamente o pragmatismo pé no chão que está no DNA da Fujitsu. “Se você olha para o ciclo de vida das empresas, elas têm um período de crescimento rápido e então começam a declinar. Cada um desses períodos dura 20 anos”, diz Yamamoto, um veterano de 34 anos na companhia. “Como agora temos 75 anos, a mensagem é clara: precisamos nos reinventar. O desafio é alcançar o próximo estágio de crescimento. O perigo é que, se não fizermos isso logo, começaremos a declinar.”

Os colegas de diretoria de Yamamoto são igualmente francos. “Precisamos mudar as coisas se vamos nos tornar uma companhia de US$ 1 bilhão”, afirma sem rodeios o vice- -presidente-executivo (VPe) corporativo sênior Hideyuki Saso. “O desenvolvimento de nossos produtos envolve muitos processos, e há o risco de, com o passar do tempo, as pessoas focarem os processos. É como quando não atravessamos a rua até que a luz fique verde, mesmo que não venham carros. Precisamos, na verdade, é de semáforos inteligentes. Temos de revisitar continuamente o que fazemos e descobrir maneiras melhores.”

Yamamoto e sua equipe de diretores não são os primeiros a apreciar e lamentar a natureza fugaz do sucesso corporativo. Em seu livro The living company (ed. Harvard Business School Press), o ex-executivo da Shell Arie de Geus destacou que apenas um punhado de empresas dura mais de um século.

Em conversas com os executivos da empresa, fica claro que a IBM é importante na visão de mundo deles. Historicamente, a IBM era a gigante e a Fujitsu a nova rica incômoda. A rivalidade vem de longe e deu um foco para a organização e seus diretores por décadas. Bater a IBM é um refrão comum quando os executivos da Fujitsu contam por que entraram na empresa.

A IBM ainda é a maior concorrente da Fujitsu. No entanto, com Yamamoto, a companhia está decidida a sair da sombra da Big Blue. “Em nossa cabeça, ainda tendemos a ver a IBM como a grande concorrente, mas há outras, como a HP”, observa ele. É claro que a jornada na qual a Fujitsu está embarcando é um tipo diferente de transformação. A Big Blue teria quebrado e morreria se não mudasse. A Fujitsu não enfrenta esse tipo de crise. Na verdade, sua receita operacional em 2009 estava pouco abaixo de US$ 1 bilhão, com mais de US$ 3 bilhões disponíveis em caixa.

Grandes ambições

Evitar a decadência é uma meta compreensível, é claro, mas a ambição da Fujitsu vai além de simplesmente garantir a sobrevivência. A empresa declarou sua intenção de usar tecnologia para contribuir para a sociedade. No coração dessa visão está a noção de que a computação deve gravitar em torno dos seres humanos e não o contrário.

Então, enquanto a rival IBM proclama seu conceito Smarter Planet [planeta mais inteligente], a Fujitsu fala sobre usar tecnologia para enriquecer a vida das pessoas. “Isso envolve coletar os dados sobre padrões de comportamento das pessoas e organizações gerados por telefones móveis e outros produtos ubíquos e tirar vantagem da computação em nuvem, dos supercomputadores e de outras infraestruturas de tecnologia para analisar os dados”, explica Yamamoto. “Esses dados têm o potencial de revolucionar todos os aspectos da vida humana –da saúde ao transporte, da educação à agricultura.”

Na verdade, a Fujitsu prevê uma guinada no papel da tecnologia nos negócios e na sociedade. Enquanto outros fornecedores de TI defendem uma visão de mundo que atribui papel cada vez mais importante a soluções de computação para problemas existentes, a Fujitsu enfatiza como a qualidade de vida pode ser melhorada pela tecnologia. Segundo essa visão do futuro, a tecnologia é mais do que algo que capacita. É a jornada, um diálogo com a sociedade que permite às pessoas formatar o próprio futuro. É o elemento formatador que distingue o ponto de vista da Fujitsu do de seus concorrentes.

Para a Fujitsu, há três pilares nessa estratégia:

  1. Aproximar-se o suficiente dos clientes e usuários finais para ver o mundo pelos olhos deles.
  2. Ter perspectiva e alcance realmente globais, para oferecer soluções locais em qualquer lugar do mundo (uma variação do ditado “pense globalmente, aja localmente”).
  3. Estar comprometida com um futuro sustentável, porque os produtos de TI precisam se tornar mais verdes, e também existem oportunidades de usar novas tecnologias para lidar com questões ambientais –por exemplo, simular em supercomputador o aquecimento global.

Por trás de tudo isso está a ideia de que a tecnologia tem um papel essencial a desempenhar na evolução da civilização. Segundo o VP corporativo sênior Masami Fujita, “as pessoas costumavam nos ver como uma empresa de telefonia móvel ou de PCs. Agora, elas percebem que estamos contribuindo para a sociedade, que estamos formatando o amanhã, como diz nossa marca, e isso é muito atraente para os jovens”.

Essas aspirações mais altas se tornam reais quando você encontra Aiichirou Inoue, presidente da unidade técnica de computação da próxima geração. Antes de se juntar à Fujitsu, ele trabalhou por três anos em uma empresa de mainframes, onde foi a força propulsora do negócio durante 27 anos.

Por todos os serviços prestados, Inoue pode ser perdoado por ter um ar blasé. Na verdade, ele é uma bola de energia criativa, igualmente entusiasmado e sob pressão. “Em minhas atividades anteriores, não podia fazer o que queria. Queria construir algo por minha conta, não apenas usar, mas construir”, explica.

Agora, sua liderança criativa e apaixonada está prestes a trazer uma mudança no mundo da supercomputação. Inoue está incumbido de desenvolver o novo supercomputador da Fujitsu, colaborando com o Institute of Physical and Chemical Research do Japão, conhecido como Riken. O equipamento tem o apelido de “K Computer” da Riken. K é uma brincadeira com a palavra japonesa “kei”, que indica o número 10 à 16ª potência.

É um número enorme, assim como seu orçamento, de US$ 1 bilhão, e sua equipe, que chega a mil pessoas. O desenvolvimento do K Computer começou em 2007 e está programado para terminar em 2012. “Quero que os jovens engenheiros participem desse projeto para ficarem entusiasmados e apreciarem seu trabalho”, diz Inoue. “Mas, sejamos claros: o K Computer será o futuro da Fujitsu, do Japão e dos seres humanos. Ele nos dará a capacidade de olhar para o clima do futuro e haverá enorme quantidade de usos na saúde. É isso que quero dizer quando falo sobre seu poder de mudar a humanidade.”

Um CEO jovem e comunição

Por mais que as ambições do K Computer sejam sedutoras, qualquer tipo de mudança organizacional é difícil. Quanto mais velhas são, mais difícil fica para as empresas, assim como para as pessoas. Como convencer uma empresa de 75 anos de que ela tem de mudar e tornar isso realidade?

Em primeiro lugar, é preciso mudar o tom. Masami Yamamoto assumiu a presidência em abril de 2010 depois de um desligamento controverso –e, para os padrões japoneses, bastante incomum– de seu predecessor. É o mais jovem presidente da empresa em 30 anos, trazendo um estilo de liderança mais moderno e uma nova perspectiva para o negócio da Fujitsu.

Ele fala sobre continuar a ofensiva e observa que a companhia tende a ser defensiva. É um ponto corroborado por outros líderes sêniores. “Estamos sendo mais proativos com os clientes”, diz o VPE corporativo sênior Kenji Ikegai. “Quero que a empresa seja um player global de TI em produtos e serviços. Se não mudarmos, nosso negócio encolhe.” Tamanha franqueza não é comum em líderes sêniores de qualquer corporação, mas é um refrão constante da equipe dirigente da Fujitsu.

Chiseki Sagawa, com 29 anos de companhia, é o presidente da unidade de planejamento da plataforma estratégica. “Precisamos ter mais confiança para avançar para o próximo estágio. Temos de sair do estágio de otimizar a industrialização para o de otimizar o modo de vida das pessoas; é um mix de filosofia e tecnologia.”

O segundo elemento é reunir munição para dar lastro para a mudança. Afinal, engenheiros –que são maioria na Fujitsu– respondem a dados. Uma pesquisa feita pelo escritório corporativo de marca da Fujitsu descobriu que apenas pequena porcentagem de alguns mercados-chave fora do Japão identificava a Fujitsu como uma companhia de TI. Isso foi exacerbado pela falta de coerência entre suas várias operações globais.

Parecia confusa e desorganizada, uma colagem de empresas, negócios, culturas, produtos e marcas. Para entender melhor sua equipe, assim como seus clientes, a Fujitsu realizou uma pesquisa com 85 mil de seus funcionários no Japão, assim como com clientes e funcionários de outros países.

Foram identificadas três características-chave na marca:

  • ágil em suas respostas;
  • ambiciosa;
  • genuína.

Para Masahiro Terauchi, diretor-geral do escritório corporativo de marca, “a promessa da marca é o que queremos que nos identifique; os atributos da marca são como entregamos a promessa da marca; e o posicionamento da marca é quem somos e o que nos torna especiais –somos uma companhia global de TI e comunicações comprometida com o serviço local”.

Munida de uma ideia clara do que isso significa, em 2010 a Fujitsu anunciou uma nova promessa de marca: “formatando o amanhã com você”. É o primeiro exercício de marca realmente global já implementado pela empresa e tem a intenção de fornecer um ponto comum para suas mudanças.

Desafios em novos fronts

No âmbito comercial, tanta mudança se faz mais do que necessária, diz Yamamoto, porque a Fujitsu enfrenta dois grandes desafios: a necessidade de expansão global e a de desenvolver um novo modelo de negócio sob medida para a era da computação em nuvem [veja quadro na página anterior].

Enquanto visa a globalização ao lado de seus clientes, a Fujitsu também é clara quanto à intenção de permanecer uma empresa japonesa. “Ainda precisamos de uma base para manter esta companhia global unida e isso fica em Tóquio. É por essa razão que falamos em companhia global japonesa”, diz o chefe de pesquisa e desenvolvimento Kazuo Murano.

Fazendo história

1935 – A Fuji Tsushinki Manufacturing Corporation (hoje Fujitsu Limited) é estabelecida como braço da Fuji Electric’s Communications Division (capitalizada em 3 milhões de ienes com 700 funcionários).

1940 – Apresenta o primeiro sistema de chave T automática produzido no Japão para o Ministério das Comunicações e Transporte.

1954 – Divulga o primeiro computador eletrônico do Japão, o FACOM 100.

1964 – Desenvolve o primeiro sistema de comunicação de dados do Japão, o FACOM 323, para a Nikko Securities.

1980 – Torna-se a maior empresa de informática do Japão. Apresenta o processador de texto japonês OASYS 100.

1995 – Comercializa a primeira tela de plasma colorida de 42 polegadas do mundo.

2005 – Lança globalmente o PalmSecure, equipamento de segurança empresarial que identifica as veias da palma da mão, sem contato direto com o leitor.

2008 – Vende mais de 12 milhões de telefones celulares “universais”.

Fujitsu busca impulsionar lucro operacional em 35% em 2 anos

Artigo publicado em março de 2014 – A Fujitsu disse nesta quinta-feira que buscará impulsionar o lucro operacional para 250 bilhões de ienes (2,46 bilhões de dólares) e o lucro líquido para mais de 150 bilhões de ienes no ano fiscal encerrado em março de 2017, conforme investe em novos negócios para crescimento.

As previsões representam um aumento ante as projeções da companhia para um lucro operacional de 185 bilhões de ienes e lucro líquido de 125 bilhões de ienes no ano que termina em março próximo. “Começando no ano fiscal de 2014, a Fujitsu está mudando de uma posição defensiva para partir para a ofensiva, e irá expandir o investimento em novos domínios para alcançar sua estratégia de crescimento”, disse a empresa em uma declaração descrevendo suas metas financeiras no âmbito de um plano de negócios de três anos. A companhia também estimou um fluxo de caixa livre de mais de 130 bilhões de ienes em três anos a partir de agora, contra 80 bilhões de ienes previstos para o ano fiscal corrente.

Panasonic e Fujitsu criarão companhia de chips

Notícia publicada em abril de 2014 – A Panasonic e a Fujitsu disseram nesta quarta-feira que vão integrar parte de suas operações para formar uma companhia independente para projetar e desenvolver chips de integração em larga escala (LSI, na sigla em inglês) de sistemas, na qual ambas as companhias vão deter uma fatia.

A Fujitsu vai deter 40 por cento dos direitos de voto na nova empresa, a mesma proporção que o estatal Banco de Desenvolvimento do Japão, que fornecerá um investimento máximo de 20 bilhões de ienes (194,9 milhões de dólares) em capital de equity e uma linha de crédito máxima de 10 bilhões de ienes para a nova companhia. A Panasonic deterá os 20 por cento remanescentes.

A nova empresa será uma fabricante de semicondutores sem instalações próprias e se focará no planejamento, comercialização e desenvolvimento de produtos, com uma perspectiva de lançar uma oferta pública de ações futuramente, disseram as companhias em um comunicado. A expectativa é que acordo final sobre os detalhes do negócio seja concluído até o final do atual trimestre, que se encerra em junho. A Panasonic e a Fujitsu disseram que concordaram em nomear Yasuo Nishiguchi, ex-presidente da Kyocera, como presidente-executivo da nova companhia.

Novo supercomputador será 100 vezes mais potente que atual

O Instituto Riken do Japão anunciou nesta sexta-feira que desenvolverá um novo supercomputador com uma capacidade computacional 100 vezes maior do que a de seu dispositivo K, que chegou a ser o mais rápido do mundo quando começou a operar em 2011.

O projeto do supercomputador, que terá um custo de uns 140 bilhões de ienes (cerca de 1 bilhão de euros), detalha que o objetivo é que o mesmo comece a funcionar no ano 2020, detalharam fontes da instituição japonesa à agência “Kyodo”. Esta nova máquina será capaz de realizar 1 quintilhão de operações por segundo, 100 vezes mais que o supercomputador K, desenvolvido em conjunto pela Riken e Fujitsu e que aparece como o mais potente do Japão e o quarto do mundo.

Espera-se que este supercomputador de nova geração possa contribuir em projetos de diversos setores, desde automoção até prevenção de desastres. O Riken, uma instituição financiada pelo governo japonês, liderará o desenvolvimento do projeto e realizará uma licitação pública para buscar possíveis sócios para o projeto.

Da mesma forma que o modelo K, o novo supercomputador será instalado na ilha artificial do porto da cidade de Kobe, ao oeste do Japão. Nas últimas décadas, Japão e Estados Unidos lideraram a classificação dos computadores mais potentes do mundo que é elaborada pela revista especializada “TOP500”, embora países como China e a Índia também tenham evoluído.


Fontes: Revista HSM Management, Youtube e Exame.com