Confira nesse artigo a tradução do capítulo 6 do livro STFU
Resumo do livro:
STFU é um dos Livros mais vendidos segundo o jornal New York Times; o livro é uma reflexão crítica e bem-humorada sobre os males do excesso de fala no mundo moderno — especialmente nas esferas profissional, digital e interpessoal. Dan Lyons, um autoassumido “tagarela em recuperação”, defende o poder transformador do silêncio e da escuta ativa como práticas de autoconhecimento, liderança eficaz, relacionamentos saudáveis e bem-estar emocional.
Capítulo 6:
STFU no trabalho
Os negócios estão mudando. O trabalho está mudando. No antigo modelo, as empresas eram barulhentas. Compravam anúncios, criavam slogans, enchiam o mundo com mensagens. Negócios eram sobre transmitir, se gabar, bombardear, enrolar — pular, acenar, gritar por atenção. Os funcionários se comportavam da mesma forma: construir a “marca de você mesmo”, anunciar seus talentos ao chefe e ao mundo, buscar atenção nas redes sociais.
O Novo Modelo de Negócio inverteu esse roteiro. Em vez de bombardear os clientes com mensagens e tentar convencê-los a comprar o que você já fez, você ouve os clientes e descobre o que eles precisam. O desenvolvimento de produtos se tornou sobre iterar e colaborar, fazer experimentos, falhar rápido e aprender com os erros.
Essa nova forma de trabalhar é impulsionada em parte pela transição de bens para serviços. No mundo baseado em produtos, você criava algo e depois procurava compradores. Na economia de serviços, você encontra os clientes primeiro e só depois desenvolve soluções para seus problemas. Isso se chama “trabalhar de trás para frente a partir do cliente”.
Tudo está virando serviço. Software, poder computacional e armazenamento já são vendidos como serviços. Montadoras de automóveis antes vendiam carros — agora percebem que vendem transporte, algo totalmente diferente. Na economia de “transporte como serviço”, os carros são computadores sobre rodas, e o dinheiro não vem da venda do veículo em si, mas de software e serviços digitais entregues via o painel do carro.
Até a General Electric, que fabrica turbinas e motores a jato, agora se apresenta como uma empresa “as-a-service”.
Fornecer serviços exige humildade
A economia do “tudo-como-serviço” exige um novo tipo de líder. Antigamente, o chefe era um alfa, que gritava ordens como um sargento dos fuzileiros navais, um comandante que “sabia de tudo”. Agora, vivemos a era dos líderes humildes, quietos, que fazem muitas perguntas e lideram ouvindo — em resumo, líderes STFU.
Hal Gregersen, diretor do MIT Leadership Center, entrevistou 200 CEOs e descobriu que muitos vivem numa “bolha do CEO”, ouvindo apenas boas notícias e não percebendo os problemas surgindo. Mas inovadores como Steve Jobs (Apple) e Jeff Bezos (Amazon) rompem essa bolha sabendo quando calar e fazer perguntas. Gregersen criou o Projeto 4-24, sugerindo que líderes gastem 4 minutos por dia — ou um dia inteiro por ano — fazendo apenas perguntas.
No mundo atual, movido por inteligência artificial e aprendizado de máquina, onde os sistemas são mais espertos que os humanos que os operam, líderes “sabichões” são tão ultrapassados quanto cartões de visita.
Líderes STFU são antenas receptoras, não torres de transmissão. Eles escutam mais do que falam. Sabem o que não sabem — e vencem porque absorvem informações, adaptam-se e respondem mais rápido que os concorrentes. Não ouvir é o reverso de falar demais — e é tão perigoso quanto.
STFU no desenvolvimento de produtos
Nos últimos dez anos, muitas empresas adotaram a metodologia Lean: uma abordagem de desenvolvimento de produtos baseada em ouvir constantemente o cliente. O ciclo “criar-medir-aprender” começa com um produto mínimo viável, coleta feedback e então melhora o produto com base nesse retorno. Nada está finalizado — tudo está em constante evolução.
A empresa Twilio, de San Francisco, atualiza seu software toda semana. Eles enviam engenheiros para “colocar o rosto no lugar”, ou seja, ver como os clientes realmente trabalham. Nas salas de reunião, há pares de sapatos enviados pelos próprios clientes — lembretes visuais de que é preciso “caminhar nos sapatos do cliente”.
A startup bancária Bunq, da Holanda, recebe muitas ideias diretamente do seu atendimento ao cliente. Reps resolvem problemas e repassam aos desenvolvedores o que precisa ser feito. De tempos em tempos, os desenvolvedores vão até uma estação de trem local e mostram protótipos para pessoas aleatórias, pedindo opiniões. O app da Bunq é atualizado toda semana.
Na Tesla, o carro que você comprou no mês passado não é o mesmo que você dirige hoje — e nem será o mesmo no mês que vem. Isso porque a Tesla envia atualizações de software via internet o tempo todo, sem esperar o lançamento de novos modelos.
A Tesla “ouve” seus clientes analisando dados dos veículos e feedbacks em tempo real.
A empresa também faz STFU em marketing: nunca gasta um centavo com publicidade, preferindo investir em pesquisa e desenvolvimento. Em 2020, Elon Musk dissolveu a equipe de relações públicas — considerava perda de dinheiro. Em público, Musk é um falastrão, mas dizem que em privado ele escuta bem:
“Quando você faz uma pergunta séria a Elon, ele entra quase num transe. Fica olhando para o nada, e dá pra ver as engrenagens girando”, disse Garrett Reisman, engenheiro da SpaceX.
O modelo de negócios da Tesla — nunca vender, mas sempre ouvir e adaptar-se — está revolucionando a indústria automotiva. E isso está chegando a todos os setores: finanças, saúde, varejo. Neste mundo em constante mudança, saber ouvir e usar feedback do cliente virou a habilidade mais importante para o sucesso — e fez de Musk o homem mais rico do mundo.
STFU nas vendas
Vendas já foi um campo de batalha onde venciam os mais espertos, bajuladores e insistentes. Hoje, vender é mais sobre ouvir do que falar.
Os melhores vendedores fazem perguntas, identificam problemas e oferecem soluções.
A empresa Gong usa inteligência artificial para analisar chamadas de vendas e identificar o que funciona e o que não funciona. Em 2017, a Gong analisou mais de 500 mil ligações e concluiu que os vendedores mais bem-sucedidos sabem fazer STFU e perguntar.
Os que mais fecham negócios fazem entre 11 e 14 perguntas por ligação. Menos que isso, não se aprofunda. Mais que isso, parece um interrogatório.
As melhores ligações soam como conversas reais: o vendedor fala 46% do tempo, escuta 54%. Já os piores vendedores falam 72% do tempo.
Conclusão: Vendedores insistentes e falastrões estão fracassando na era STFU. Escutar com atenção, perguntar com intenção e falar com parcimônia é o novo diferencial.
STFU no atendimento ao cliente
A pessoa comum passará quarenta e três dias da vida esperando na linha. Isso equivale a aproximadamente um mês e meio. Por quê? Porque as pessoas à frente na fila não sabem calar a boca.
O atendimento médio ao cliente dura dois minutos a mais do que o necessário, segundo Myra Golden, especialista em atendimento. Todos esses minutos desperdiçados se acumulam. Golden treina funcionários de call centers de grandes empresas — como Coca-Cola, McDonald’s e Walmart — a recuperar esse tempo perdido ensinando os clientes a se calarem.
O segredo, ela diz, é dominar sua própria capacidade de STFU. Resistir à vontade de discutir com os clientes irritados ou de conversar com os simpáticos que querem falar da família e perguntar como você está. Ambos — os exaltados e os tagarelas — são gastadores de tempo e precisam ser gentilmente conduzidos ao silêncio.
A regra de Golden com os amigáveis: seja breve, mas educado, ofereça respostas limitadas e mantenha o foco no assunto. Fale o mínimo possível e não dê informações em excesso:
“Estou bem, obrigado por perguntar. Agora, o que está acontecendo e como posso ajudá-lo?”
Com clientes irritados que mentem ou exageram — “Estou esperando há trinta minutos!”, quando, na verdade, foram apenas quatro — ignore. Não debata. Deixe que desabafem — geralmente eles se acalmam após cerca de 30 segundos. Quando isso acontecer, retome o controle fazendo três perguntas curtas e objetivas:
- Qual é o número do contrato?
- Qual o número da fatura?
- Qual a data do pedido?
Não importa tanto quais perguntas, mas sim que sejam fatuais e não emocionais. Isso ajuda a acalmar o cliente e a treiná-lo a falar menos. Uma vez sob controle, você resolve o problema e parte para a próxima ligação. O segredo de fazer isso bem começa com controlar suas emoções e falar com intenção — ou seja, fazer STFU.
E vale o mesmo quando você é o cliente. Mantenha a conversa breve, não desabafe, e saiba exatamente o que você quer. Você terá um atendimento melhor — e ajudará a si mesmo e a todos a recuperar parte daqueles 43 dias perdidos com musiquinhas de espera.
STFU como ferramenta de negociação
Silêncios em uma conversa deixam as pessoas desconfortáveis — e rápido. Uma equipe de pesquisadores da Holanda descobriu que bastam quatro segundos para as pessoas começarem a se sentir “angustiadas, com medo, feridas ou rejeitadas”. Esse incômodo torna o silêncio uma poderosa arma de negociação.
“Sempre me surpreendo com o que acontece quando você não fala, em comparação com o que acontece quando você fala”, diz Gavin Presman, consultor de vendas e negociação em Londres. Ele conta o caso de um executivo italiano tentando convencer um sheik nos Emirados Árabes a conceder acesso exclusivo ao mercado local. O italiano fez sua proposta. O sheik respondeu: “Isso não me parece certo.”
O italiano ficou em silêncio. A sala inteira também. E o silêncio durou vinte e cinco minutos. Era torturante, mas ele permaneceu firme, com expressão serena. Finalmente, o sheik cedeu:
“Está bem. Farei negócios com você.”
Como o silêncio ajuda na negociação de salário
O maior erro de quem negocia salário é não saber calar a boca, segundo Katie Donovan, fundadora da consultoria Equal Pay Negotiations, em Boston. O foco do trabalho de Donovan é ensinar especialmente mulheres a não aceitarem menos do que merecem. Um ponto crucial do treinamento é usar o silêncio como ferramenta de vantagem.
“O silêncio nos incomoda. Sentimos que precisamos preenchê-lo”, disse Donovan.
Mas se você ceder ao impulso de falar, já perdeu. Um exemplo clássico: o recrutador faz a oferta e fica em silêncio. O candidato se decepciona, mas, por nervosismo, começa a justificar por que vai aceitar:
- “O trajeto é melhor”,
- “Vai ser bom no meu currículo”,
- “Tenho chance de crescer…”
Isso acontece todo santo dia, diz Donovan. “O que ensino é: pare de negociar contra si mesmo. Isso se resolve quando você aprende a se calar.” Ela compartilha um exemplo real: no início da carreira, ao negociar salário com um vice-presidente, ele fez uma oferta e pressionou:
“Preciso de uma resposta hoje.”
Donovan respondeu:
“Vou pensar e te dou um retorno na próxima semana.” E ficou sentada, em silêncio.
O silêncio incomodou. O VP quebrou primeiro e melhorou a oferta — mas ainda exigiu resposta imediata. Donovan, novamente:
“Agradeço. Vou pensar e te dou uma resposta na próxima semana.” E ficou em silêncio outra vez.
O VP saiu da sala e voltou minutos depois com uma oferta 20% maior. Ela aceitou o cargo.
“Se você quer algo”, diz Donovan, “faça em silêncio. É assim que se consegue o que se quer.”
Aprenda com Steve Jobs
Se quiser uma aula de mestre sobre como fazer uma apresentação, assista no YouTube ao evento de 2007 em que Steve Jobs apresentou o iPhone — o produto mais importante da história da Apple. Muitos palestrantes entram no palco com música animada, sorrisos, gestos amplos — como apresentadores de programa de auditório. Jobs fez o oposto.
Ele entrou em silêncio. Nenhuma música. A plateia tão quieta que dava para ouvir seus tênis tocando o palco. Não sorriu. Nem olhou para o público. Olhava para as próprias mãos, como um monge em meditação. Deu oito passos. Oito segundos. Então se virou para o público e disse:
“Hoje é um dia” — pausa —
“pelo qual esperei” — pausa —
“dois anos e meio.”
Mais uma pausa. Seis segundos. Você está fisgado. Não consegue desviar os olhos. Cada palavra ganha peso.
Jobs ensaiava obsessivamente. Cada passo, cada gesto, cada pausa. Ele era conhecido por ser explosivo fora do palco — gritava, era impulsivo — mas no palco, usava as pausas com maestria. Mesmo que sua apresentação seja só um PowerPoint no trabalho, insira momentos de silêncio. No começo, parece estranho. Sua pressão sobe, o coração acelera. Seu cérebro grita: “fale logo!”. Mas resista.
Não precisa ser como Jobs e pausar por oito segundos, mas pause o suficiente para que o público note o vazio e se incline para ouvir. Assim, eles vão prestar atenção e lembrar do que você disse. Jobs entendia que falar bem é falar menos. Ele era um editor implacável — sempre tentava expressar suas ideias com o mínimo de palavras. E sabia que os espaços entre as palavras são tão importantes quanto as palavras em si.
Falar demais é um assassino de carreiras
Uma amiga minha teve onze empregos nos últimos quinze anos. Um deles durou cinco meses. Outro, oito. Ela tem um MBA de uma universidade de prestígio. Mas é uma daquelas pessoas que soltam tudo sem pensar — e seus colegas a acham insuportável.
Certa vez, ela conversava com um grupo de colegas e o assunto era molho sriracha e os vários usos criativos para ele.
— “Mas você sabe para o que não se deve usar sriracha?”, perguntou um cara.
— “Masturbação?”, disparou Robin.
Silêncio absoluto. Ninguém riu. Menos de um ano depois, ela já estava em outro emprego. Não foi demitida por causa da piada, mas provavelmente teve muitas outras como essa. Pessoas como Robin costumam ser inteligentes e rápidas, mas sem filtro. A mente gera uma ideia e ela simplesmente solta. Mesmo sabendo que o comentário pode cair mal, não conseguem se conter. Com o tempo, essas tiradas e observações inapropriadas vão se acumulando.
Pessoas que não conseguem calar a boca no ambiente de trabalho são detestadas pelos colegas, que torcem para que o tagarela falte. Essa foi a conclusão de uma pesquisa feita pelo pós-graduando Jason Axsom, da Universidade de Nebraska. Segundo ele:
“As pessoas celebram esses dias de paz e comentam entre si como o escritório fica tranquilo na ausência do falador compulsivo.”
Em todos os empregos que teve, Axsom identificou pelo menos um tagarela crônico que tornava o ambiente infernal. Ele acreditava que o problema era generalizado e esperava que, ao mostrar o sofrimento causado por esse comportamento, pudesse inspirar mudanças.
“Pensei que talvez pudéssemos ajudar essas pessoas. Se pudéssemos entender o comportamento, talvez fosse possível treiná-las, orientá-las, ajudá-las a superar esse impulso,” disse Axsom. “Se pudéssemos demonstrar o quão prejudicial esse comportamento é para a carreira, as soluções surgiriam.”
Infelizmente, nunca foi criado um tratamento para os que falam demais, que continuam assombrando o mundo corporativo com seus monólogos infindáveis e prejuízos à produtividade.
A dissertação de Axsom já foi baixada quase duas mil vezes — um número extraordinário para uma tese de pós-graduação — e mostra o quanto as pessoas estão desesperadas por maneiras de lidar com esses colegas sem ter que arrancar suas línguas.
Ele entrevistou 15 profissionais de áreas como marketing, contabilidade, vendas, ensino e publicidade — desde executivos de grandes empresas até funcionários de pequenas. Um deles era professor. Todos descreveram colegas que vagavam pelos corredores em busca de novas vítimas, como zumbis caçando cérebros frescos. Repetiam as mesmas histórias, se expunham demais e até contavam segredos de amigos, parentes e desconhecidos. Não percebiam pistas sociais. O colega podia abrir o notebook e começar a digitar — e o tagarela continuava falando.
Essas pessoas, segundo Axsom, fazem boa impressão no início: são extrovertidas, engraçadas, boas contadoras de histórias (afinal, treinam isso diariamente).
“O padrão é que, no começo, a pessoa parece simpática, competente, inteligente. Mas com o tempo, as histórias se repetem, a produtividade cai, e os colegas passam a pensar: ‘Isso precisa acabar’. E começam a vê-la como menos inteligente.” Resultado? Não são promovidos.
“O comportamento compulsivo acaba prendendo o falador na função atual, sem chances de subir na carreira”, escreveu Axsom. Viram párias. Até quem gostava deles começa a evitar. Colegas inventam reuniões falsas, pedem para trocar de mesa, fogem.
O mais triste? Alguns recusam-se a mudar. Axsom conta o caso de um gerente, competente, promovido para liderar uma equipe de cinco pessoas. Mas ele era um falador compulsivo. Falava o tempo todo, divagando sobre qualquer coisa. Achava que estava sendo um bom líder — mas sua equipe queria jogá-lo do telhado. O tempo que passavam ouvindo-o impedia o trabalho. Alguns procuraram novos empregos.
A equipe reclamou à chefia. Deram ao gerente uma escolha: aprender a calar a boca ou perder o cargo. Ele preferiu ser rebaixado. Era tão viciado em falar que preferiu prejudicar a carreira a buscar ajuda.
O que mais impressiona no estudo de Axsom é o tom de desespero dos entrevistados. Muitos usaram a entrevista como sessão de terapia. “As pessoas estavam ávidas para desabafar. Falavam por mais de uma hora, abrindo o coração”, relembra Axsom.
Sentiam-se presas, como reféns. Algumas torciam para que o falador fosse demitido. Outras pensavam em pedir demissão só para se livrar dele.
“Por favor, tirem essa pessoa daqui”, implorou uma funcionária.
“Fiquei com pena,” disse Axsom. “Elas pediam minha ajuda, mas eu não tinha respostas. E ainda não tenho.”
Acima: o personagem Michael Scott, o gerente mais falador e chato da história de todos os escritórios do mundo, destaque da série de TV The Office.
STFU em reuniões
Existem dois tipos de pessoas: as que gostam de reuniões e as que são sãs. No momento, as primeiras estão ganhando. Os americanos participam de mais de 11 milhões de reuniões por dia, mais de 1 bilhão por ano. Apenas 11% são produtivas.
Um estudo descobriu que o trabalhador médio participa de 62 reuniões por mês, e que metade delas é perda total de tempo. Além disso, 39% admitiram ter cochilado durante reuniões.
E o problema só piora:
- Desde 2020, o tempo gasto em reuniões cresce de 8% a 10% por ano.
- Reuniões individuais aumentaram 500% nos últimos dois anos.
- A jornada média passou para 44,6 horas semanais — 1,4 hora a mais.
É uma insanidade.
Reuniões são uma das maiores oportunidades de aplicar o STFU no trabalho. Veja como:
→ Mantenha as reuniões pequenas
O valor de uma reunião diminui proporcionalmente ao quadrado do número de participantes. A Amazon segue a regra das duas pizzas: se duas pizzas não bastam para alimentar todos, tem gente demais — ou seja, máximo 10 pessoas.
Se for convidado para uma reunião grande, tente evitar. Se não puder, não fale à toa. E não tenha medo de sair. “Saia de uma reunião ou desligue assim que perceber que não está contribuindo,” recomenda Elon Musk. “É mais rude fazer alguém perder tempo do que simplesmente ir embora.”
→ Mantenha as reuniões curtas
Muitos usam reuniões de 30 minutos por padrão, mas o ideal é 15 minutos.
Nos primeiros 15 minutos, 91% das pessoas estão atentas. Depois disso, a atenção despenca.
→ Apenas diga não
Receber convite não significa obrigação de comparecer. Dizer “não” exige coragem, mas uma justificativa breve ajuda: “Estou com muita demanda, mas posso ouvir a gravação depois.”
→ Use a metodologia WAIT
Antes de falar numa reunião, pergunte: Why Am I Talking? (Por que estou falando?)
Você também pode se perguntar:
- Isso vai acrescentar algo?
- Estou respondendo a uma pergunta?
- É fato ou opinião?
- Já foi dito?
- É meu lugar dizer isso?
- Vai fazer falta se eu não disser?
Poucos comentários passam nesse teste. Ou seja, você vai passar muito tempo em silêncio — o segredo é fazer isso sem parecer desatento. Mostre engajamento com linguagem corporal, anotações, sorrisos, acenos de cabeça.
→ Passe a bola
Como no futebol: receba, fale brevemente e repasse. Reconheça o que o anterior disse, contribua de forma objetiva e jogue para outro colega.
→ Envie um e-mail em vez disso
A queixa mais comum sobre reuniões é “Isso poderia ter sido resolvido por e-mail.”
Precisa mesmo reunir todo mundo por Zoom para pedir opiniões ou dar um informe? Na dúvida, mande um e-mail ou mensagem no Slack.
Como fazer um falador exagerado ficar quieto
Depois que você domina a arte de calar a boca (STFU) em situações profissionais, surge um novo problema: você não aguenta mais os outros que falam demais. Agora é hora de aprender uma nova habilidade: fazer os outros calarem a boca.
Um estudo recente da área de psicologia de Harvard descobriu que quase dois terços das conversas duram mais do que um dos participantes gostaria. Se você já se tornou mestre do STFU, é bem provável que agora seja essa pessoa que quer sair da conversa o quanto antes. Como fazer isso? Pesquisadores da comunicação sugerem usar “rituais de encerramento” e “estratégias verbais” como:
- “Foi ótimo conversar com você.”
- “Tenho que entrar numa ligação às três.”
- Ou então, usar pistas sutis como “Bom, de qualquer forma…”
- Você também pode começar a dar sinais de que não está mais ouvindo: “Aham. É. Claro.”
Essas técnicas são úteis, mas funcionam melhor com pessoas normais. Quando o falador compulsivo é mais crônico, você precisa de medidas mais fortes:
→ O ataque furtivo
Esta dica é meio tendenciosa da minha parte: deixe uma cópia deste livro na mesa do falador. Ou envie o link desse artigo online para ele ler, como sugestão de leitura. Ou imprima e entregue o estudo de Jason Axsom sobre como os que falam demais são vistos no ambiente de trabalho.
→ Fuja
Se estiver frente a frente com um Ego Talker, escapar pode ser sua única saída. Tente alguma intervenção leve, e, se não funcionar, invente uma desculpa para sair. Fingir que o celular está vibrando é clássico. Ou simplesmente diga:
“Desculpa, tenho que ir.”
Está tudo bem ser rude. Quem fala demais está sendo egoísta, e merece. E mais: talvez nem perceba — e se perceber, pode ser o empurrão que faltava para mudar.
→ Use linguagem corporal
Incline-se para trás. Vire-se um pouco. Evite contato visual. Pegue o celular e finja que está ocupado. Se for alguém que fala um pouco demais, provavelmente vai entender o recado. Se não entender, aumente a dose. Pense como um boxeador: não se deixe encurralar. Mantenha-se em movimento — dê passos lentos, circulares, afastando-se da pessoa.
→ Interrompa
Use o mesmo tipo de linguagem corporal que usaria para parar um intrometido: Levante a mão espalmada ou só um dedo indicador.
→ Pise no freio
Se estiver lidando com um falador nervoso — alguém que fala por ansiedade ou desconforto social — aja como um aliado, não como um inimigo. Fale de maneira calma, suave e devagar. Use sua “voz da NPR”. Comece reconhecendo o que foi dito e então mude o rumo da conversa.
- “Isso é muito interessante.” \[pausa]
- “Sabe, tem algo que queria te perguntar…”
Assim você assume o controle da conversa e induz o outro a entrar no seu ritmo. Faça uma pergunta que exija reflexão, como:
“Li um artigo sobre como as pessoas estão se mudando de grandes cidades para lugares como Bozeman, em Montana. Fiquei pensando: para onde eu iria se pudesse escolher qualquer lugar? Você já pensou nisso?”
→ Estabeleça limites logo de cara
Essa funciona bem com o temido vizinho de poltrona de avião que falaria por seis horas se deixasse. Diga de imediato:
“Preciso muito dormir.”
Ou: “Desculpe, mas tenho muito trabalho para terminar antes de aterrissar.”
→ Crie um “estacionamento”
Essa técnica é ótima para impedir que o falador desvie reuniões de trabalho. Comece definindo o objetivo do encontro. Se surgir um tema fora do foco, diga:
“Vamos colocar isso no estacionamento e voltar a ele depois.”
É mais educado que mandar calar a boca — mas o recado é o mesmo.
→ Converse com a pessoa
Se for um amigo ou familiar com problema crônico, intervenções pontuais não bastam.
Você precisa de uma solução definitiva. Converse em particular, com calma, sem raiva. Explique o problema e se ofereça para ajudar. Talvez a pessoa queira mudar. Ou talvez fique ofendida e nunca mais fale com você — o que, nesse caso, também resolve o problema.
→ Crie um sinal
Uma amiga minha criou um gesto com o marido falador: Quando ele começava a se empolgar demais em eventos sociais, ela colocava a mão sobre a dele. Adoro essa técnica. Ela não o envergonhava, não chamava atenção — era um gesto de carinho.
STFU como marca pessoal
Dez anos atrás, o cofundador de uma empresa de software me disse que avaliava o valor de uma pessoa pelo número de seguidores no Twitter. Parece absurdo. A maioria dos CEOs da Fortune 500 nem usava Twitter. Isso os tornava sem valor?
Mas os funcionários levaram a sério. Viraram verdadeiros animadores de circo, postando sem parar para construir suas “marcas pessoais”. O diretor de marketing produziu 225 episódios de um videocast que ninguém assistiu. Depois criou um podcast que, após seis anos, chegou ao posto de 9.090º mais popular do mundo.
A gerente de redes sociais postava um tuíte por hora, 24 horas por dia. A equipe do suporte ao cliente fazia paródias de hip-hop para mostrar como a startup era “descolada”. Fomos convencidos de que precisamos de uma marca pessoal
E, em um mundo em que mudamos de emprego com frequência, talvez isso até faça sentido. Mas estamos fazendo isso do jeito errado. Tentamos gritar mais alto que os outros — e só aumentamos o barulho geral. E se, num mundo onde todos falam demais, o melhor jeito de se destacar for… calar a boca?
Construa sua marca com competência discreta e realizações concretas. Seja seguro o bastante para não implorar por atenção no Twitter.
Um “Chief Digital Evangelist” de uma grande empresa de software posta mais de cem tuítes por dia — e nada disso tem relação com a empresa. São frases de efeito, vídeos fofinhos, listas de “como ser bem-sucedido”, e autoajuda barata:
“Você não é seu trabalho.”
“Pessoas inteligentes usam linguagem simples.”
Ele é tipo um BuzzFeed ambulante, espalhando esterco mental digital pela internet. Tem quase 600 mil seguidores e se autointitula “celebridade do Twitter“. Desde 2016, ele e um outro falador digital já gravaram mais de 250 episódios de um programa no YouTube.
Um dos episódios teve 8 visualizações. Outro, 22. Esse desespero por atenção começa a parecer coisa do passado — como as startups de dez anos atrás com mesas de pingue-pongue, puffs e snacks grátis. Fomos vítimas da Síndrome do Objeto Brilhante.
A internet nos deu novas formas de nos exibir — e usamos todas. Achamos que quanto mais falássemos, em mais lugares, melhor. Estávamos errados.
Líderes humildes superam os espalhafatosos
Um estudo com 120 equipes e 495 funcionários descobriu que as melhores equipes tinham líderes humildes — que:
- tinham autoconhecimento
- elogiavam as contribuições dos outros
- estavam abertos a feedback
Equipes lideradas por essas pessoas tinham:
- 75% menos estresse
- 50% mais produtividade
- 40% menos burnout
Empresas estão deixando de lado a ideia de líder carismático e egocêntrico. Hoje, preferem o líder discreto, humilde e eficaz.
Líderes STFU inspiram empresas STFU.
A humildade desce pela hierarquia. Os autopromotores estão em baixa. Ganha destaque quem admite quando não sabe algo e valoriza a equipe.
STFU
Fonte:
Capítulo 6 do livro STFU: THE POWER OF KEEPING YOUR MOUTH SHUT IN AN ENDLESSLY NOISY WORLD, do autor Daniel Lyons