Capítulo 1 do livro STFU: Shut The Fuck Up – Aumente sua eficiência de comunicação pessoal e profissional com o simples hábito de CALAR A BOCA e ESCUTAR

Confira nesse artigo a tradução do capítulo 1 do livro STFU

Resumo do livro:

STFU é um dos Livros mais vendidos segundo o jornal New York Times; o livro é uma reflexão crítica e bem-humorada sobre os males do excesso de fala no mundo moderno — especialmente nas esferas profissional, digital e interpessoal. Dan Lyons, um autoassumido “tagarela em recuperação”, defende o poder transformador do silêncio e da escuta ativa como práticas de autoconhecimento, liderança eficaz, relacionamentos saudáveis e bem-estar emocional.

Capítulo 1:

STFU – Sobre o que falamos quando falamos sobre falar demais

Tirei 50 pontos na Escala do Falador Compulsivo — a pontuação máxima. Minha esposa, Sasha, também me deu 50 pontos, e provavelmente gostaria de poder dar ainda mais. Isso não foi surpresa, mas segundo os pesquisadores que desenvolveram o teste, isso pode ser motivo de preocupação. Eles descreveram o falador compulsivo como alguém com um vício semelhante ao alcoolismo, e disseram que, embora essa habilidade com as palavras possa ajudá-lo na carreira, a incapacidade de controlar o excesso de fala costuma levar a problemas pessoais e profissionais. Confere, confere e confere.

 Faladores compulsivos não conseguem simplesmente decidir parar de falar. O comportamento é compulsivo. Eles não falam só um pouco mais do que os outros — eles falam muito mais, o tempo todo, em qualquer contexto, mesmo sabendo que os outros acham que falam demais. E aqui vem o golpe no estômago: eles continuam falando mesmo quando sabem que o que vão dizer vai prejudicá-los. Simplesmente não conseguem parar.

— “Sou eu”, eu disse para a Sasha. “Certo? Sou totalmente eu.”

— “Estou te dizendo isso há anos”, ela respondeu.

Estávamos sentados na cozinha. Os nossos filhos — gêmeos, um menino e uma menina de quinze anos — não estavam em casa. Na minha mente surgiram lembranças de momentos em que soltei comentários impróprios numa festa, ou deixei os filhos constrangidos ao falar demais com alguém, ou contei pela milésima vez uma longa história. Chamávamos essas histórias de “Danalogues”, e todos riam, fingindo que era engraçado: “Você sabe como o papai adora falar!”. Mas agora, vendo os resultados do teste preto no branco, eu não estava achando graça. Estava envergonhado. E preocupado.

Eu não sabia onde ou como procurar ajuda, mas decidi começar rastreando os dois pesquisadores que criaram a Escala do Falador Compulsivo. Achei que eles poderiam ter algum conselho. Eles são um casal — Virginia Richmond e James C. McCroskey, que lecionaram na Universidade de West Virginia. McCroskey, uma lenda no campo dos estudos da comunicação, faleceu em 2012. Richmond, agora aposentada, vive numa pequena cidade perto de Charleston, West Virginia.

Eles se interessaram pelo tema por um motivo simples:

— “Porque meu marido era um falador compulsivo”, contou Richmond.

Eles eram um casal bem diferente. McCroskey era o centro das atenções. Já Richmond era — e ainda é — extremamente tímida, ou, como dizem os pesquisadores, “comunicativamente apreensiva”.

— “Queríamos entender por que algumas pessoas falam tanto e outras mal falam. Havia muita literatura sobre pessoas que falavam pouco, mas pouco se estudava o outro extremo: os compulsivos.”

Alguns pesquisadores nem acreditavam que existissem pessoas que falassem demais. Para eles, quando dizemos isso, na verdade estamos querendo dizer que não gostamos do que a pessoa está dizendo. Richmond e McCroskey achavam essa ideia ridícula. Claro que existiam pessoas que falavam demais. “Nós as conhecíamos”, disse Richmond. E mais: havia gente que falava tanto que isso parecia mesmo um vício.

— “Foi por isso que inventamos o nome ‘talkaholic’”, ela me contou.

O casal criou a Escala do Falador Compulsivo para ver se essas pessoas podiam ser identificadas. Se sim, talvez fosse possível desenvolver formas de ajudar.

— “Achávamos que não haveria muitos”, disse Richmond. Mas, ao aplicar a escala em 800 estudantes da Universidade de West Virginia, descobriram que 5% se qualificavam como faladores compulsivos — o mesmo percentual aproximado de alcoólatras na população geral.

Expliquei a ela que procurei contato porque tinha tirado 50 pontos no teste, e queria entender o que causava o problema e se havia solução. Richmond não trouxe boas notícias.

Primeiro: ela e o marido nunca descobriram a causa do falador compulsivo.

Pior: embora tenham encontrado formas de ajudar os tímidos a se soltarem, passaram a acreditar que os talkaholics não têm cura.

— “Costumávamos brincar dizendo: você não consegue derrubar um bom falador compulsivo”, disse ela, rindo. “Não há remédio. Você não pode curar um talkaholic.”

Mesmo assim, ela explicou que os estudos deles têm mais de 30 anos. Outros pesquisadores se dedicaram ao tema desde então. O melhor deles, segundo ela, é Michael Beatty, professor que trabalhou com o casal e hoje dá aulas na Universidade de Miami.

— “Ele é o maior falador compulsivo que eu já conheci”, disse ela. “Pode dizer isso pra ele. Ele não vai se ofender.”

Beatty é meio excêntrico. Não tem smartphone, nem computador pessoal em casa. Para falar com ele, é preciso mandar um e-mail institucional e esperar que ele vá até o campus ler — o que pode demorar.

Minha conversa com Richmond me deixou um pouco desanimado, mas continuei esperançoso de que Beatty pudesse me ajudar. Então, um dia, escrevi um e-mail, cliquei em “Enviar” e esperei.

A vida louca de um falador compulsivo

Durante muito tempo, me enganei achando que eu era só um cara extrovertido que gostava de boas conversas. Conversava com todo mundo: motoristas de Uber, estranhos em teleféricos, “e todo garçom ou garçonete que você já conheceu”, diz Sasha. Mas, eventualmente, percebi que havia um problema: mesmo tentando falar menos, eu não conseguia.

Comecei a detestar eventos sociais. Churrascos de vizinhos e festas de aniversário eram tortura. Parecia pular de perna de pau num campo minado. Tentava circular pelas pessoas repetindo mentalmente: “Não fala demais, não fala demais, não fala demais…”. Mas, mesmo me preparando, às vezes eu desandava a falar, como Hamlet dopado de metanfetamina.

Em desespero, recorri a uma abordagem bruta: comecei a tomar Ativan (remédio contra ansiedade) antes das festas. Chegava aos eventos meio grogue e logo escapava para um canto onde pudesse ficar sozinho, assistindo TV ou rolando o Twitter até a hora de ir embora.

Os vizinhos achavam que eu era estranho ou mal-educado — ou, como um deles disse à minha esposa:

— “O Dan é meio… doido, sabe?”

Na minha cabeça, eu estava fazendo um favor a eles: me dopando para não incomodar com meu excesso de fala. O mais incrível é que, mesmo sob efeito de benzodiazepínicos, às vezes eu ainda falava demais ou soltava algo estúpido. Ao sair das festas, sempre perguntava para Sasha:

— “Falei demais?”

Com frequência, a resposta era: “Sim”. Ao me conscientizar do meu problema, comecei a percebê-lo nos outros:

  • Tinha a vizinha, consultora educacional barulhenta e animada que dominava qualquer ambiente.
  • Tinha o consultor de gestão que adorava o som da própria voz.
  • Tinha o cientista impaciente que pagava caro por não suportar tolos.
  • Tinha o aposentado solitário que aparecia na hora do jantar para um monólogo sobre a bolsa de valores.
  • Tinha o artista que me ligava para contar as mesmas histórias por horas (como disse um amigo: “Você não conversa com ele; você ouve”).
  • E tinha minha sogra, estrangeira, que nos metralhava com erros de gramática e frases confusas — e nunca tirava o dedo do gatilho. Às vezes, precisávamos gritar para interrompê-la.

Faladores compulsivos tendem a se atrair — provavelmente porque só outros faladores conseguem nos aguentar. Em qualquer lugar, reconhecemos os “nossos”, como vampiros ou assassinos em série. Às vezes, dois faladores se isolam e falam por horas, se interrompem, se entendem — é o nosso paraíso, nosso espaço seguro.

Mas quem fala pouco nos enlouquece.

Eles nos irritam tanto quanto nós a eles. Somos como um cachorro implorando para o dono jogar a bolinha:

— “Vai, cara! Joga!”

Algo em comum entre nós, faladores compulsivos, é que mais cedo ou mais tarde, levamos uma rasteira.

Não há como escapar.

Tony Soprano dizia que havia dois finais possíveis para sua linha de trabalho: morte ou prisão.

Para nós, faladores compulsivos, o fim é certo: um dia, o excesso de fala vai nos pegar.

Alguns de nós se tornam bem-sucedidos. Muitos viram um desastre ambulante.

Tenho um amigo muito inteligente, formado pela Ivy League, mas que perdeu empregos porque:

  • (a) não conseguia evitar chamar os colegas de idiotas;
  • (b) os colegas, geralmente, não gostavam da franqueza.

— “Simplesmente surto”, ele diz. “Estou numa reunião idiota, pensando: Por que estou aqui? Então explodo e começo a explicar por que todos são uns imbecis, mesmo sabendo que o certo seria ficar calado. Sempre digo a coisa errada — e o pior é que sei disso enquanto estou falando. E me arrependo na hora. Mas, aí, já era.”

Faladores compulsivos são universalmente odiados. Veja os apelidos:

  • tagarela,
  • matraca,
  • boca aberta,
  • diarréia verbal,
  • papagaio de pirata,
  • maritaca.

No Reino Unido, chamam de gobshite (mistura de “boca” e “merda”) ou shitehawk (algo como “falcão de merda”).

Na Itália, dizem:

Attacca un bottone (fala tanto que dá tempo de costurar um botão).

Mi ha attaccato un pippone (algo grosseiro enfiado no seu ouvido).

Ou ainda trombone ou quaquaraquà (alguém que fala muito e é idiota).

No Brasil, dizemos:

  • “Fala pelos cutuvelos.”
  • “Fala mais que maritaca.”

Na Espanha:

bocachancla (“boca de chinelo”).

Na Catalunha:

bocamoll (“boca frouxa”).

Na Alemanha:

Plappermäuler (junção de “tagarelar” com “boca de animal”).

E os russos, sempre pesados, dizem:

pizdaboly — combinação obscena de um palavrão para genitália feminina e o verbo “balançar”.

No Japão, que valoriza o silêncio, existe o provérbio:

“Se o pássaro não tivesse cantado, não teria sido abatido.”

Na Índia, contam a história da tartaruga tagarela (batuni kachua), que falava tanto que se dá mal:

Durante uma seca, dois gansos tentam salvá-la levando-a pelo ar com um graveto, que ela segura com a boca. Mas a tartaruga não consegue se controlar, abre a boca para falar — e cai e morre despedaçada nas pedras ou é devorada por aldeões.

É assim que as pessoas veem os faladores compulsivos. Fantasiam com a nossa morte.

Os seis tipos de faladores compulsivos

Depois de conversar com Richmond, comecei a me aprofundar nas pesquisas sobre fala compulsiva e descobri que existem diferentes tipos de excesso de fala. Há a fala hiperverbal, quando você não consegue evitar interromper os outros (seu cérebro está acelerado e você fala sem parar); a fala desorganizada, quando salta de um assunto para outro sem conexão; e o excesso situacional de fala, que praticamente todo mundo já viveu em algum momento.

Tenho certeza de que você se lembra — provavelmente com vergonha — de momentos em que deveria ter falado menos. Já soltou algo que magoou alguém? Já contou uma piada que ofendeu?

Na última vez que comprou um carro, quando o vendedor parou de falar e deixou um silêncio constrangedor no ar, você correu para preencher o vazio? Aposto que sim — e isso te custou dinheiro.

Talvez você tenha falado demais numa ligação de vendas, perdido o negócio — e sua comissão.

Ou interrompido alguém numa reunião, e seu chefe, lá do outro lado da mesa, percebeu e formou uma má impressão, ainda que inconscientemente. Oito meses depois, a promoção que você esperava foi para outra pessoa.

Assim como existem vários tipos de excesso de fala, também há diferentes tipos de faladores compulsivos. Eu os classifico em seis categorias:

  1. Ego Talkers (Ego Falantes)

São os faladores convencidos, que acham que sabem tudo e vivem interrompendo e dominando conversas porque acreditam que suas ideias são melhores que as dos outros — mesmo quando não sabem do que estão falando. No Vale do Silício (onde trabalhei muito), está cheio desses caras (sim, quase sempre são homens). Pergunte a eles sobre mudança climática, cirurgia cardíaca ou Bitcoin — eles acham que sabem mais que os especialistas.

  1. Nervous Talkers (Faladores Nervosos)

Sofrem de ansiedade social e falam sem parar para se acalmarem.

  1. Ruminators (Ruminadores)

Pensam em voz alta — basicamente, falam sozinhos — e irritam todo mundo ao redor.

  1. Blurters (Impulsivos)

Falam muito e pensam rápido, mas não têm filtro.

  1. Blabbers (Tagarelas)

Falam bobagem, contam as mesmas histórias repetidamente, e continuam mesmo quando você tenta interrompê-los — como um carro sem freios descendo a ladeira.

  1. Talkaholics (Faladores Compulsivos)

Os casos mais extremos. A fala é compulsiva e autodestrutiva.

Nos últimos anos, pesquisadores começaram a entender melhor as causas do excesso de fala — algumas psicológicas, outras biológicas.

Alguns faladores são apenas extrovertidos, por natureza. Outros falam demais por causa de ansiedade social (caso comum entre Nervosos, Tagarelas e Impulsivos). Mas a fala compulsiva extrema — que te torna um talkaholic — pode ser sinal de problemas psicológicos mais profundos, como transtorno de personalidade narcisista.

A chamada fala pressionada — alta, rápida e incontrolável — pode indicar hipomania, sintoma do transtorno bipolar tipo II (a versão mais leve).

O excesso de fala também pode ser um sinal de TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade).

Se você teve uma pontuação alta na Escala do Falador Compulsivo, talvez valha a pena procurar um profissional. A boa notícia: hoje em dia, condições como TDAH e bipolaridade podem ser tratadas com medicação e terapia. Os remédios não curam, mas reduzem o ruído no cérebro, permitindo trabalhar as questões em terapia. (E para o que vale, faladores compulsivos adoram terapia.)

As ligações vêm de dentro do seu cérebro

Ainda mergulhado em artigos científicos — sem grandes respostas —, um dia fui checar meu e-mail e tive uma surpresa. Michael Beatty, da Universidade de Miami, havia respondido. Disse que adoraria conversar e que, após anos de estudos e inúmeros experimentos, descobriu o que causa o talkaholismo.

— “É biológico”, ele me disse no telefone. “É tudo natureza, não criação. Começa a se desenvolver ainda no útero.”

Há 20 anos, Beatty criou um campo chamado “comunibiologia” — que estuda a comunicação como fenômeno biológico. Em vez de dar aulas de jornalismo e oratória, Beatty passou a colaborar com neurocientistas. Colocava voluntários em eletroencefalograma para medir ondas cerebrais e em ressonância magnética funcional (fMRI) para ver as regiões do cérebro se ativarem enquanto ouviam áudios ou viam imagens.

Muitos pesquisadores achavam que ele estava perdendo tempo. Mas Beatty estava convicto:

— “Para mim, seria estranho se a forma como nos comunicamos não tivesse relação com o cérebro”, disse ele. “Só não sabíamos como.”

Em 2011, Beatty e sua equipe descobriram que a tagarelice está relacionada a desequilíbrios nas ondas cerebrais, mais especificamente entre os lados esquerdo e direito da região anterior do córtex pré-frontal. O ideal é que os dois lados tenham atividade semelhante quando a pessoa está em repouso. Mas se houver desequilíbrio — se um lado se ativa mais que o outro —, você será um falador acima ou abaixo da média.

  •  Se o lado esquerdo é mais ativo: você tende a ser tímido.
  •  Se o lado direito domina: você tende a ser falante.

Quanto maior o desequilíbrio, mais extremo será o comportamento. O cérebro de um talkaholic mostra forte atividade no lado direito, enquanto o esquerdo quase não acende.

— “Tudo se resume ao controle de impulsos”, disse Beatty.

Os desequilíbrios também se relacionam com agressividade e com a capacidade de avaliar consequências.

— “Atividade extrema no lado direito aparece com frequência em casos de assassinato conjugal”, ele afirmou.

(Confesso que não contei isso para minha esposa.)

Esse descontrole impulsivo aparece muito no ambiente de trabalho.

— “Se sou dominante no lado direito e CEO, e um funcionário começa a dizer besteira numa reunião, não vou ser educado. Vou me irritar e mandar calar a boca”, disse ele.

Infelizmente, um falador compulsivo não consegue se tornar alguém ‘normal’, segundo Beatty. Afinal, não dá para religar seu cérebro ou realinhar os neurônios.

— “Não é totalmente determinista, mas há muito pouco espaço para mudar quem você é.”

Sim, é possível calar a boca

Durante quatro décadas, o ex-presidente dos EUA Joe Biden foi o rei das gafes em campanhas eleitorais. Mas, de alguma forma, em 2020, ele conseguiu desenvolver a disciplina de calar a boca. Falava baixo, dava respostas curtas, pausava antes de responder. Quando apareciam jornalistas, respondia poucas perguntas com respostas monótonas — e caía fora. A história de Biden me deu esperança. Pensei: se ele conseguiu aprender a calar a boca, eu também posso. Não sonho em me candidatar a nada, mas tinha muita motivação:

Queria ser um melhor marido, pai e amigo. Queria parar de temer eventos sociais. Pode não haver cura para o talkaholismo — assim como não há cura para o alcoolismo —, mas alguns aprendem a se controlar.

Eu não podia pagar um treinador de fala. Não havia cursos online sobre “como calar a boca”. Então, depois de conversar com Beatty, segui por conta própria: entrevistei dezenas de pessoas especialistas em fala — historiadores, cientistas sociais, professores de comunicação, psicólogos, coaches executivos.

Fui fazer “banho de floresta” com um guia nos Berkshires. Fiz um curso online sobre escuta ativa. Conversei com uma psicóloga da Califórnia que ensina presidiários a calar a boca em audiências de liberdade condicional — técnicas que eu esperava aplicar para me libertar da prisão metafórica que meu excesso de fala construiu. Com base em teoria, conselhos e exercícios, desenvolvi minhas “Cinco Formas de Calar a Boca” e comecei a praticar. Tratei como um treino diário.

  • Saí quase totalmente das redes sociais.
  • Aprendi a ficar confortável com silêncios desconfortáveis.
  • Antes de telefonar ou entrar numa reunião, respirava fundo para me acalmar, usando o monitor cardíaco do Apple Watch para checar se estava funcionando.
  • Durante as ligações, baixava o tom da voz, falava devagar.
  • Fazia perguntas abertas para meus filhos — e ficava em silêncio para ouvir. Na prática, dizíamos que era uma “conversa”, mas na verdade, eu estava era ouvindo.
  • Colei um papel na parede acima do computador com letras garrafais:

“Silêncio! Ouça! Respostas curtas! Resuma!”

Uma amiga faladora mantém um bilhete colado no notebook que diz:

“Deus, me ajude a manter a boca fechada.”

  • Antes das reuniões, refletia sobre o objetivo da conversa: o que eu precisava dizer e o que precisava aprender. Escrevia num bloco de notas — e me mantinha dentro do roteiro.

Gradualmente, comecei a desenvolver mais disciplina. E, conforme isso acontecia, algo extraordinário surgiu: passei a me sentir melhor — emocional e fisicamente.

Fiquei mais feliz. Fiquei mais gentil com as pessoas. E elas ficaram mais gentis comigo. A vida ficou mais leve. Foi então que percebi: calar a boca não é apenas uma forma de evitar desastres ou negociar um carro. STFU é uma forma de terapia.

A roda da ansiedade

Ansiedade é o tema musical da nossa era. Os índices já estavam subindo nos Estados Unidos antes da Covid-19, especialmente entre os mais jovens — e dispararam durante o confinamento da pandemia. Em 2019, dois terços dos americanos disseram estar extremamente ou moderadamente ansiosos, segundo a Associação Psiquiátrica Americana. Um em cada cinco adultos sofre de um transtorno de ansiedade plenamente diagnosticado.

Faladores compulsivos falam para aliviar a ansiedade, ou para se distrair dela. Mas, em vez de aliviar, o excesso de fala piora a ansiedade. Quanto mais você fala, mais ansioso fica. É um ciclo vicioso. Eu chamo isso de Roda da Ansiedade.

A mesma coisa acontece nas redes sociais.

Usamos Facebook, Instagram, TikTok, Twitter como mecanismos de alívio.

Sentindo ansiedade, abrimos um app e começamos a rolar a tela, tentando afastar o desconforto. Mas, de novo, acontece o contrário. Na tentativa de aliviar a ansiedade, acabamos alimentando-a ainda mais. Mais uma vez, estamos presos à Roda da Ansiedade.

Se você resistir ao impulso de falar — e se se forçar a não pegar o celular —, pode fazer a Roda da Ansiedade girar ao contrário. Ficar em silêncio é horrível no começo, mas se você conseguir suportar o desconforto, ele começa a diminuir. Médicos descobriram que, para algumas pessoas, parar de usar redes sociais tem o mesmo efeito que tomar um antidepressivo.

A técnica desse livro (STFU) funciona para uma transformação pessoal.

A forma como falamos é quem somos.É assim que nos definimos e como percebemos os outros. Quando você tenta descrever como é uma pessoa, como faz isso? Geralmente, define a personalidade dela com base em como ela fala.

  • Fala rápido ou devagar?
  • Baixinho ou alto?
  • Tagarela ou reservado?

Nossa fala revela nossa personalidade ao mundo. De certa forma, a maneira como falamos é a nossa personalidade. Se você muda a forma como fala, está, na prática, mudando quem você é. Falar é como respirar. Você não pensa, apenas faz. Mas quando começa a prestar atenção em como fala, passa a pensar por que fala assim. Você se obriga a tomar consciência de algo que, normalmente, acontece de forma automática.

Esse é o tipo de trabalho que se faz em meditação ou psicoterapia.

Você está voltando o olhar para dentro. Está se engajando em autorreflexão e autoexame. Está tentando descobrir quem você é.

STFU (aprender a calar a boca) não é só um exercício. É também um processo psicológico, uma prática ativa e dinâmica. Qualquer coisa que exija esforço, foco, prática e disciplina mental pode te transformar e te definir.

Para alguns, isso acontece com artes marciais. Para outros, com piano, xadrez, jardinagem ou culinária. Eu costumava praticar remo. É um esporte que exige uma mistura de força física e mental — e, muitas vezes, o aspecto mental é o mais importante.

Remar exige concentração total a cada segundo: manter o barco equilibrado, pensar nas mãos, sentir a lâmina puxando a água, sincronizar força e recuperação. É repetitivo.

Você faz o mesmo movimento o tempo todo, tentando alcançar a perfeição — e raramente consegue. As uma ou duas horas que se passa na água se tornam uma meditação Zen tanto quanto um exercício físico. O remo passa a te definir. Por isso, remadores raramente dizem “eu remo”. Eles dizem: “Sou remador.”

Quando comecei, meu objetivo era só evitar desastres e parar de incomodar os outros. Mas, no fim das contas, entrei numa jornada de autoconhecimento.

STFU virou um caminho de mudança e transformação pessoal.

STFU


Fonte:

Capítulo 1 do livro STFU: THE POWER OF KEEPING YOUR MOUTH SHUT IN AN ENDLESSLY NOISY WORLD, do autor Daniel Lyons

Tradução: ChatGPT