Conheça os mercados internacional e nacional de fertilizantes e seus competidores. Nesse artigo são apresentadas as características competitivas do mercado de fertilizantes no Brasil e também informações da origem e do processamento das matérias-primas, para a fabricação de produtos nitrogenados, fosfatados e potássicos. Visualize o panorama do setor que permitirá ao leitor interpretar e processar alguns dados, que servirão para esclarecer detalhes estratégicos sobre a indústria de fertilizantes.
Quando, numa certa manhã de 2008, a gerência de marketing do negócio de fertilizantes da Bunge Brasil entrou em seu escritório em são Paulo deparou-se com uma missão e um dilema. A equipe precisava desenvolver um trabalho para tentar diminuir a pressão, existente à época, com relação a algumas empresas do setor de fertilizantes, de maneira a valorizar todas as empresas com atuação no Brasil1 e não deixar que apenas três empresas fossem apontadas como responsáveis pela distribuição dos fertilizantes no Brasil.
Nessa toada, a campanha publicitária intitulada de PLANTA BRASIL, criada pelo Núcleo de Propaganda e assinada pela ANDA foi veiculada em todo o território nacional.
Os anos avançaram e, em 2010, o negócio Fertilizantes da Bunge havia mudado. Passaram de produtores de matérias-primas e vendedores das marcas Serrana, Manah, Ouro Verde e IAP para misturadores e vendedores destas marcas ao varejo. O desafio se tornou outro. Como fazer uma empresa com as características da Bunge Brasil se tornar rentável com a nova configuração do negócio de fertilizantes? Como transformar a estratégia genérica do negócio de fertilizantes em excelência em custo e na operação da atividade?
Para tanto foi necessário reavaliar todo o contexto deste segmento no Brasil.
O agronegócio
O agribusiness é o maior negócio da economia brasileira e mundial e segundo o relatório anual Perspectivas Agrícolas 2010-2019 (publicado pela FAO e pela OCDE), o Brasil terá a maior produção agrícola do mundo na próxima década e será o principal fornecedor mundial de produtos agropecuários. A figura 1, abaixo, mostra o crescimento do PIB do agronegócio brasileiro, que em 2010 representou 22,4% do PIB nacional.
Gráfico abaixo: evolução do PIB do Agronegócio Brasileiro
Até 2030, o mundo (em relação ao que produz hoje) terá um crescimento de demanda de 34% de carne bovina, 47% de carne suína, 55% de carne de frango, 59% de açúcar, 19% de arroz, 29% de milho e 49% de soja.
De acordo com Nassar (2011), se a participação do Brasil como fornecedor mundial continuar aumentando, nosso crescimento será de 49% na carne bovina, 48% na carne suína, 77% na carne de frango, 65% no açúcar, 16% no arroz, 83% no milho e 98% na soja (comparando a produção atual com a estimada para 2030).
Em 2010 o agronegócio brasileiro atingiu o recorde das exportações, e segundo o CEPEA/ CNA, elas representaram US$ 76,4 bilhões. O País se destaca nas exportações de suco de laranja e também na exportação de carne bovina, de frango e suína. Estima-se, inclusive, que a liderança brasileira na exportação de carnes bovina e de frango se manterá e o Brasil poderá chegar ao 3º ou ao 4º lugar nas exportações de carne suína, conforme dados do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA).
Esse aumento nas exportações também será resultado mais do aumento da produtividade e menos do aumento da fronteira agrícola. Em 2003, o Brasil colheu 123,2 milhões de toneladas de grãos e de acordo com o MAPA na safra agrícola 2010/2011, a colheita de grãos poderá ser de 159,5 milhões de toneladas. Esse resultado vem do aumento de produtividade.
Nos próximos anos os desafios da agricultura estão relacionados com o fato de que na maior parte das regiões do mundo menos pessoas viverão da agricultura, e menos ainda serão agricultores. Também haverá a necessidade de novas tecnologias que deverão extrair mais de uma porção menor de área, utilizando menos mão de obra. Atualmente as propriedades estão cada vez mais tecnológicas e produtivas, por exemplo: na produção de milho enquanto o mundo cresceu 17% em produtividade, o Brasil cresceu 73%:
Tabela 1: Evolução Anual do Mercado de Fertilizantes (milhões de toneladas)
Ano
|
Mercado |
Crescimento anual
|
1997
|
13,8
|
|
1998
|
14,7
|
6,5%
|
1999
|
13,7
|
-6,8%
|
2000
|
16,4
|
19,7%
|
2001
|
17,1
|
4,3%
|
2002
|
19,1
|
11,7%
|
2003
|
22,8
|
19,4%
|
2004
|
22,8
|
0,0%
|
2005
|
20,2
|
-11,4%
|
2006
|
21,0
|
4,0%
|
2007
|
24,6
|
17,1%
|
2008
|
22,4
|
-8,9%
|
2009
|
22,4
|
0,0%
|
2010
|
24,5
|
9,4%
|
2011 (*)
|
26,0
|
6,1%
|
Fonte: Associação Nacional de Difusores de Adubo (ANDA)
Maio de 2011 – Adaptado pelos autores. (*) Previsão
Os períodos de estagnação podem ser justificados pelos problemas de estiagens prolongadas, principalmente na região Sul, e o excesso de umidade no Centro-Oeste, estocagem de fertilizantes por parte do produtor rural quando há uma relação de troca favorável, diminuição da renda do produtor rural e crises mundiais, como a que ocorreu em 2008.
Em 2011 há outras contribuições para a estagnação do mercado, como os aumentos elevados nos preços dos fertilizantes no mercado internacional (que trouxe consequências para o Brasil), e dos custos de fretes marítimos, que alteraram a relação demanda e oferta de matérias-primas utilizadas. O aumento do petróleo implicou diretamente no aumento das matérias-primas derivadas do nitrogênio, um dos principais nutrientes utilizados nas formulações de fertilizantes. O aumento nos custos dos fretes marítimos implicou no aumento de preço das matérias-primas importadas.
Entregas, Produção, Exportações e Importação de Fertilizantes para o mercado brasileiro:
(As células de dados exibidas com fundo amarelo estão em milhares de toneladas).
Ano |
2007
|
2008
|
2009
|
2010
|
Fertilizantes Entregues ao Consumidor Final |
24.608
|
22.429
|
22.400
|
24.516
|
Produção Nacional de Fertilizantes Intermediários |
9.815
|
8.878
|
8.372
|
9.339
|
Principais Exportações de Fertilizantes e Formulações NPK |
645
|
400
|
425
|
740
|
Importação de Fertilizantes Intermediários |
17.529
|
15.387
|
11.020
|
15.269
|
Estoques de Passagem |
3.382
|
2.236
|
-2.581
|
844
|
% de Fertilizantes Importados |
71,2%
|
68,6%
|
49,2%
|
62,3%
|
Fonte: ANDA – Associação Nacional para Difusão de Adubo
Maio de 2011-05-21 – Adaptado pelo autor.
Entre 2007 e 2010 foi necessário importar 63% do volume, para suprir as necessidades de fertilizantes no mercado brasileiro. Quando se trata do cloreto de potássio (KCl) este número pode chegar a 95% em produtos importados. Há uma forte dependência dos produtores internacionais de fertilizantes.
A cultura que mais consome fertilizantes no Brasil é a soja, atingindo 35% do total entregue no País. Outras culturas, como milho, cana-de-açúcar, café e algodão totalizam 77% das vendas de fertilizantes no mercado brasileiro. Quanto à segmentação por Estado brasileiro, nota-se a grande representatividade da Região Centro-Oeste, conforme mapa abaixo:
A representatividade da região Centro-Oeste deve-se ao fato de o Estado do Mato Grosso ser o maior consumidor de fertilizantes do País. Trata-se do maior polo agrícola brasileiro, com altas taxas de produtividade e áreas disponíveis para crescimento, tanto em pastagem quanto abertura de novas áreas.
2.1 Fatores Críticos
Existem alguns fatores que interferem no mercado de fertilizantes, sendo um deles a influência da sazonalidade. O gráfico abaixo exibe a sazonalidade do setor de fertilizantes:
Acima: Sazonalidade do Setor de Fertilizantes Brasileiro (2004-2010) – Associação Nacional para Difusão de Adubos – Fonte: Gestão de Informações de Marketing da Bunge Brasil
Pelo gráfico acima, a venda de fertilizantes atinge o maior pico no segundo semestre de cada ano, especificamente no mês de outubro. A demanda crescente pelo produto inicia-se no mês de abril e cresce gradativamente até atingir o pico máximo, que começa a ter uma redução considerável no mês de dezembro. As necessidades naturais da cultura da soja e do milho interferem significativamente na sazonalidade das vendas nacionais de fertilizantes.
Outro fator crítico desse setor é a análise de tendências e a produção de matérias-primas. Espera-se para os próximos sete anos um aumento médio de 4% ao ano no mercado brasileiro de fertilizantes. O aumento de matérias-primas importadas é um grande obstáculo para se atingir essa meta, por isso uma das prioridades é aumentar a produção interna de nutrientes.
Segundo dados do Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial – PENSA de 2002, o complexo produtor de fertilizantes envolve uma série de atividades que começa pela extração de matérias-primas minerais, até a formulação ou composição de alguns ingredientes nutricionais para as plantas, diretamente aplicadas na atividade agrícola produtora.
A formulação básica dos fertilizantes é uma combinação de três elementos químicos chamados de macronutrientes para as plantas: nitrogênio (N), fósforo (P) e potássio (K). As formulações são compostas basicamente de acordo com a cultura a ser aplicada, tipo e origem do solo, condições físico-químicas da terra, região geográfica e a produtividade desejada. Além dos macronutrientes (NPK), os fertilizantes podem ser formulados conforme as condições de solo, região e produtividade com macronutrientes secundários: enxofre, magnésio e cálcio; e micronutrientes: ferro, manganês, zinco, cobre, cobalto, molibdênio, boro, cloro e silício.
A cadeia produtiva de fertilizantes é composta pelo segmento extrativo mineral que fornece a rocha fosfática, o enxofre, o gás natural e as rochas potássicas; pelo segmento que produz as matérias-primas intermediárias como o ácido sulfúrico, o ácido fosfórico e a amônia anidra. É também composta pelo segmento produtor de fertilizantes simples e pelo segmento produtor de fertilizantes mistos e granulados complexos.
2.2 Importações de Fertilizantes para suprir o mercado brasileiro
Segundo a IFA – International Fertilizer Industry Association – o consumo mundial de fertilizantes vem se comportando como mostra o gráfico abaixo:
Fonte: IFA – Adaptado pelo departamento de Suprimentos Internacional da Bunge Fertilizantes
Os principais países exportadores de nitrogenados para o Brasil estão representados pela figura 7. Podemos observar os principais países exportadores de fosfatados na figura 8, e os principais países exportadores de cloreto de potássio no mapa abaixo:
3. Negociação em Bolsa de Mercadorias
Com o objetivo de proporcionar preços mais transparentes e gerenciar o risco de preços dos fertilizantes, o CME Group anunciou o lançamento de contratos de derivativos (swap) de quatro fertilizantes, para data de negociação 11 de julho de 2011. Foram negociados os seguintes contratos:
Urea (Granular) FOB NOLA Swap Future
UAN FOB US Gulf Coast Swap Future
DAP FOB Tampa Swap Future
DAP FOB NOLA Swap Future
Esses contratos foram listados na CME ClearPort e seguiram as regras e regulamentos da NYMEX. Os mercados futuros nos últimos anos vêm adquirindo uma grande importância no meio econômico, pois são considerados um instrumento de mercado eficiente para diminuir o risco de variações de preços dos produtos que apresentam uma alta volatilidade.
Os mercados futuros possibilitam reunir compradores e vendedores num único mercado centralizado, reduzindo os custos de transação e também proporcionando maior liquidez no mercado à vista. Proporcionam um preço de mercado competitivo e também podem reduzir os custos incorridos na busca de compradores ou vendedores, interessados pela commodity física, a qualquer tempo (CBOT, 1985).
4. Consumo Mundial de Fertilizantes
É importante observar que entre os maiores consumidores de nutrientes minerais para fertilizantes no mundo, o Brasil ocupa a quarta posição, ficando atrás de China, Índia e Estados Unidos. O consumo de fertilizantes no Brasil representa 6% do total consumido no mundo. A tabela 4 mostra nossa posição: consumimos 3% de nitrogenados, 9% de fosfatados e 14% de K2O.
Gráfico abaixo: Maiores Consumidores Mundiais de Fertilizantes
Fonte: FMB Consultants Limited, 2011
N
|
P2O5
|
K2O
|
NPK
|
|
China |
33%
|
30%
|
22%
|
30%
|
Índia |
15%
|
15%
|
9%
|
14%
|
EUA |
12%
|
11%
|
16%
|
12%
|
Brasil |
3%
|
9%
|
14%
|
6%
|
Subtotal |
63%
|
65%
|
61%
|
62%
|
Outros |
37%
|
35%
|
39%
|
38%
|
De certa forma, a importância dos fertilizantes para a produção de alimentos no Brasil é relativamente elevada. No gráfico a seguir, podemos observar no período compreendido entre as safras 92/93 até 2006/2007 que o crescimento médio anual de área plantada no Brasil foi de 1,7%, o consumo de fertilizantes cresceu 5,9% ao ano e a produção de grãos 4,5%. A utilização de fertilizantes pode proporcionar aumento de produção de alimentos quando esta tecnologia for aplicada corretamente.
Acima: Variação do consumo de fertilizantes, área plantada e produção de grãos no Brasil
Fonte: ANDA e CONAB.
Este setor é de importância relativamente forte para a produção de alimentos no Brasil. Nossa vocação como país é a de grande player neste setor. Algumas fontes consideram o Brasil como um dos únicos países do mundo com quantidade de terras agricultáveis capazes de enfrentar o grande desafio dos próximos anos para alimentar toda a demanda da população mundial.
Se a previsão de aumento da produção mundial de alimentos se tornar realidade, é muito importante que o setor de insumos agrícolas, fator essencial da produtividade, esteja estruturado em bases sólidas. O cenário futuro exige intensificar o uso de tecnologias que resultem em maior produtividade e, também, reduzam o impacto sobre os recursos naturais do planeta. Além disso, é necessário tornar a unidade de negócios de fertilizantes da empresa cada vez mais rentável.
Fonte: Central de Cases da ESPM e Associação Nacional para Difusão de Adubos
Nota do Autor:
Preparado por Profa. Dra. Maria Flávia de Figueiredo Tavares e Prof. Msc. Caetano Haberli Jr., do Núcleo de Estudos do Agronegócio da ESPM-Sul. Recomendado para as disciplinas de: Marketing no Agronegócio e Estratégia Empresarial. Este caso foi escrito inteiramente a partir de informações cedidas pela empresa e outras fontes mencionadas no tópico “Referências”. Não é intenção do autor avaliar ou julgar o movimento estratégico da empresa em questão. Este texto é destinado exclusivamente ao estudo e à discussão acadêmica.