O desafio de alimentar o mundo

De acordo com o presidente do Conselho Diretor da Andef, a agricultura brasileira tem papel protagonista. “O país é decisivo para garantir o alimento que o mundo necessita.” O Brasil tem a missão de alimentar o mundo.

Recentemente, o jornal Correio Braziliense, um dos mais respeitados do país, publicou em sua coluna de Opinião contundente artigo de João Sereno Lammel. O presidente do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal, Andef, analisou os debates que direcionaram o Fórum Econômico Mundial de líderes políticos, empresários e acadêmicos sobre temas que consideram desafios globais.

Engenheiro agrônomo, formado pela Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, da Universidade Federal de Pelotas, Rio Grande do Sul, João Lammel é diretor de Desenvolvimento de Negócios e Portfólio para a América Latina da DuPont; é vice-presidente do Sindicado Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola, Sindag; e presidente do Conselho Diretor da Associação Nacional de Defesa Vegetal, Andef.

Na entrevista a seguir, o dirigente discute alguns dos principais aspectos apontados em seu artigo: “O agronegócio tem pela frente a missão estratégica de responder a um dos Desafios do Milênio, colocados pela Organização Mundial das Nações Unidas, ONU: a produção sustentável de alimentos para a humanidade”, alerta.

Defesa Vegetal: Como o senhor avaliou as discussões do Fórum Econômico Mundial, que aconteceu no final janeiro? João Sereno Lammel: O Fórum Econômico Mundial, realizado há 4 anos, na cidade Davos, na Suíça, está em sua vigésima terceira edição. O evento se tornou um dos encontros mais aguardados na agenda mundial pela importância dos líderes políticos, inclusive muitos chefes de Estado, e de especialistas em temas relevantes diante dos desafios globais, do presente e dos próximos anos.

Este ano, ganhou destaque a crise econômica na Europa. Diante dos impactos da crise em alguns os países europeus, explica-se o destaque a esse tema. Explica, mas não justifica. Por que não justifica? Quando se debate a crise econômica global, não poderia estar fora das discussões justamente uma de suas principais consequências para as pessoas, em vários países.

Este é o aspecto crucial da crise: ao prejudicar a produção, ela traz um componente social tão ou ainda mais grave do que o econômico. É preciso recolocar na pauta de prioridades um capítulo crucial para o ser humano e as aspirações de um futuro melhor: a desnutrição e fome no mundo.

Quais são os indicadores desse problema, hoje, no mundo?

Em resumo, de acordo com a FAO, órgão das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, este drama atinge cerca de 870 milhões de pessoas, ou seja, 12,5% da população mundial. Em outubro do ano passado, durante a quarta edição do Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos – uma importante iniciativa conjunta da FAO, a Andef e suas associadas; a Abag, Associação Brasileira do Agronegócio; ao lado de outros parceiros –, o então representante da FAO no Brasil, Hélder Muteia, revelou um dado extremamente grave. Segundo o órgão, a desnutrição infantil leva à morte, por ano, em todo o mundo, mais de 2,5 milhões de crianças.

E qual o quadro da desnutrição no Brasil?

O assunto, embora possa parecer distante para a maioria de nós, brasileiros, está bastante próximo da nossa realidade. De acordo com a FAO, a pobreza extrema no Brasil regrediu nos últimos anos, mas ainda atinge 8% da população – cerca de 15 milhões de brasileiros.

Em setembro de 2000, na véspera da virada do milênio, os 191 países-membros da ONU declararam os Objetivos do Milênio, com oito metas para o desenvolvimento. Reduzir a fome à metade foi eleita como a primeira das metas.

Observa-se, contudo, a tímida repercussão internacional deste tema, ausente nas discussões em Davos, e a postura pusilânime de todos nós frente a este flagelo humano.

Estamos falando de recursos tecnológicos imprescindíveis para a competitividade do agronegócio, como sementes de qualidade, mecanização, fertilizantes, defensivos agrícolas e armazenagem adequada. De acordo com os pesquisadores do Centro de Conhecimento em Agronegócios, PENSA, vinculado à Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade, da USP, nos últimos 20 anos, a produção ter aumentado em mais de 100%, resultante da aumento da área cultivada mas, principalmente, do incremento da produtividade, elevada em mais de 60%. Mas devemos destacar, também, os ganhos ambientais, já que as tecnologias possibilitam poupar terra e demais recursos naturais.

Qual o papel da tecnologia dos defensivos agrícolas na competitividade agrícola brasileira?

Quando se referem à produtividade, os estudos da FAO destacam um dos manejos essenciais na produção de alimentos: a proteção das culturas. Segundo órgão da ONU, a agricultura perde, em média nos países, de 20% a 40% da colheita por falta de manejos adequados e tecnologias eficientes. Portanto, é preciso estabelecer prioridade para a pesquisa, de forma intensiva e contínua se almejamos, de fato, uma agricultura sustentável. Nesse aspecto, podemos destacar que as indústrias de defensivos agrícolas no Brasil deixam sua marca no expressivo avanço do agronegócio.

Como o senhor analisa os argumentos dos defensores das chamadas agricultura orgâ- nica e agrobiológica de que poderiam suprir a demanda mundial por alimentos? As tecnologias incorporadas à agricultura convencional, como os defensivos agrícolas, são os grandes responsáveis pela Revolução Verde, lançada por Norman Borlaug, na década de 1960, e que, a partir da década de seguinte, transformou o Brasil, antes um importador de alimentos, na condição de um dos maiores produtores e exportadores do mundo.

Sempre deixamos claro que a agricultura orgânica tem nosso respeito. Mas são as plantações convencionais, por meio de investimentos vultosos em Ciência de ponta que levam comida barata e de qualidade à mesa de cada brasileiro todos os dias. Cada novo produto de proteção ao cultivo recebe investimentos de mais de 250 milhões de dólares desde sua descoberta até a aprovação final. Para que uma única nova molécula se torne um produto, as empresas pesquisam e desenvolvem em seus laboratórios e suas estações experimentais, durante cerca de 10 anos, entre 200 mil e 400 mil moléculas.

Numa agricultura das proporções do Brasil há espaço para todos, de nichos de mercado a grandes produtores convencionais. Contudo, todos devem fazer um esforço para entender o papel e as responsabilidades de cada um nessa grande cadeia. Afinal, quem produz alimento bom e barato merece o respeito de daqueles quem se alimentam todo dia.

Este e outros aspectos da produção de alimentos deveriam ser aprofundados no próximo Fórum Econômico Mundial, em 2014?

Sem dúvida. Todos os diversos segmentos no País – governos, especialistas, empresas e a sociedade civil – somos chamados a, e precisamos, assumir mais firmemente o protagonismo do Brasil na produção de alimentos, internamente e para o mundo. Onde a Andef tem participação direta – como, por exemplo, no Fórum Inovação, Agricultura e Alimentos, que este completa sua quinta edição – buscaremos influenciar nossos parceiros nesse sentido. Somente assim recolocaremos, na pauta mundial de debates, o apelo da FAO em nome daqueles que sofrem a fome e, portanto, a agenda vital para o futuro sustentável da humanidade.


Fonte: Revista Defesa Vegetal – maio 2013, por Antonio Carlos Moreira