86% dos criadores de peixes no país são pequenos produtores

Os pequenos produtores respondem pela imensa maioria dos criadores de peixes no Brasil: de 17.054 produtores, 14.769 (86% do total) são de pequeno porte, segundo o Censo Aquífero do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Realizada em 2008 e publicada somente agora, a pesquisa faz um raio-x de todo o cultivo aquático do país.

A maior parte desses produtores, trabalha com peixes de água doce em açudes, viveiros, tanques e canais. São 15.464 no total, dos quais 13.495 são pequenos produtores, seguidos pelos de médio e pequeno porte, com 760 e 33 criadores respectivamente. Outros 1.000 produtores não responderam a esse item do censo.

Os produtores de pequeno porte também são a maior parte dos que produzem no mar; 1.274 do total de 1.585. Além deles, foram identificados 183 produtores de médio porte e 63 de grande porte trabalhando no mar.

Metade dos criadouros de peixe no Brasil produz tilápias
O peixe mais popular entre os produtores é a tilápia, que em 2008 ocupava cerca de 50% dos criadouros do país. Na época da pesquisa, ela era a preferida por 8.855 produtores de peixes; mais da metade dos 17.054 criadores.

De todos os produtores de tilápia, 41% se concentram na região Sul. 31% na região Nordeste, 22% na região Sudeste, 3% no Norte e 3% no Centro-Oeste.

Além da tilápia, a pesquisa identificou mais 61 espécies de peixes de água doce e 15 espécies marinhas sendo criadas no país. Muitas dessas espécies são fruto de cruzamentos, como o tambacu, mistura de tambaqui com pacu, e o patinga, cruzamento de pacu com pirapitinga.

O estudo mostrou que o cultivo de espécies nativas já é comum no Sul. No Rio Grande do Sul, 537 criatórios produziam o jundiá em 2008, criado também por outros 481 produtores em Santa Catarina.

No Centro-Oeste, o Estado de Goiás é destaque pela diversidade, com espécies como o pacu, patinga, pirapitinga, tambacu, tambaqui, cachara e matrinxã.

Dos peixes marítimos, o destaque é o robalo, peixe de carne branca e saborosa criado no litoral de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte.

A pesquisa também identificou que, em 2008, 68% da criação de peixes ornamentais estava concentrada em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.

Além de peixes, o censo colheu dados sobre a produção de algas vermelhas no Ceará, Rio Grande do Norte e Rio de Janeiro. Essas algas são usadas em gelatinas, geleias, carnes processadas e também na fabricação de cerveja.

Pirarucu na Amazônia

Empresa da Amazônia investe na produção de “bacalhau” de pirarucu
Dentro de dois meses, a comunidade ribeirinha da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, no interior amazonense, irá se preparar para fazer a pesca do pirarucu.

Cerca de 350 toneladas desse peixe, considerado um dos maiores da Amazônia, chegarão ao mercado local com o nome de “bacalhau” – referência controversa em relação ao processo de salga usada pelos ribeirinhos para prolongar a conservação da carne.

Por tradição, apenas cinco espécies de peixes de águas profundas e frias podem se transformar em bacalhau. Por isso os exemplares mais famosos saem da Noruega e de Portugal, cujo quilo custa em torno de R$ 45 no mercado brasileiro.

Há três anos, a comunidade de Mamirauá foi envolvida em um projeto do governo estadual na implantação de uma fábrica de salga do pirarucu (a Agroindústria de Maraã) dentro da reserva, capaz de produzir 1.500 toneladas de peixe por ano. A capacidade está prevista para subir para 5.000 toneladas por ano com a inauguração, em outubro, de uma unidade localizada no município de Fonte Boa (AM).

“É um passo importante para a produção regional do Amazonas, ainda muito dependente da Zona Franca de Manaus”, diz Eron Bezerra, da Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror).

O pirarucu proveniente da agroindústria chega ao mercado com a marca “Bacalhau da Amazônia”. Por enquanto, o produto só pode ser comercializado no Estado (preço final de R$ 20 a R$ 25 por quilo) pela falta do carimbo do SIF (Serviço de Inspeção Sanitária).

Na reserva, a pesca é controlada

A retirada do pirarucu na reserva de Mamirauá é feita de forma controlada. O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis) fica responsável pela determinação de uma cota anual de pesca, que se baseia na evolução da população de pirarucus.

Só é permitido retirar 30% dos adultos contados no levantamento feito todos os anos de estoques de peixes, para que não se corra o risco de pesca em excesso. O pirarucu, que pode chegar a 200 kg, corre risco de extinção por conta desse exagero.

Por lei, a pesca só é permitida entre outubro e dezembro.

Pirarucu fresco também tem mercado

Diferentemente da experiência do pirarucu salgado, a Mar &Terra, tradicional empresa de pescados localizada em Pimenta Bueno, em Rondônia, investe na comercialização do peixe fresco. Por mês, são processadas em torno de 40 toneladas.

Segundo o diretor Thiago Tetsuo Ushizima, cerca de 70% da produção é voltada para o mercado externo, e o restante é direcionado para seis capitais do país (São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Campo Grande, Curitiba e Porto Alegre). No mercado, o consumidor paga entre R$ 17 e R$ 30 pelo quilo do peixe.

A produção da Mar & Terra é garantida por meio da parceria com 65 produtores de Rondônia. A empresa encaminha os filhotes (alevinos) para os piscicultores fazerem a engorda do peixe em cativeiro. É necessário cerca de um ano para os filhotes alcançarem o peso de abate (10 kg a 12 kg).

Conforme Ushizima, 100 mil pirarucus estão em processo de engorda para o ano que vem, quando 1.000 toneladas de carne serão colocadas no mercado.

Há cinco anos, o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) mantém um projeto de criação do peixe em cativeiro com 200 piscicultores de sete Estados da região amazônica (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Tocantins, Rondônia e Roraima).

Segundo Newman Costa, diretora de Pesca e Aquicultura do Sebrae, a intenção é chegar a um modelo para a atividade que tem criações esparsas pelo país e que não são contabilizadas pelo Ministério da Pesca.

“Os melhores avanços têm sido constatados em Rondônia, com produção de 100 toneladas anuais”, informa.

Bacalhau e pirarucu, peixes diferentes

Para a chef Mara Salles, do restaurante Tordesilhas, em São Paulo, o consumidor precisa estar ciente de que o pirarucu salgado não tem semelhança alguma com o tradicional bacalhau. “São incomparáveis”, diz.

Segundo ela, o pirarucu só nada em água morna, a carne é gorda e de consistência mole. Por outro lado, o bacalhau é proveniente de águas frias e a carne é fibrosa. “Por isso não podem ser preparados da mesma forma”, afirma.

Mara Salles diz que o preparo do peixe tradicional da Amazônia está atrelado a outros ingredientes brasileiros, como a banana e a farinha de mandioca. “E o par do legítimo bacalhau é o azeite”.


Fonte: http://economia.uol.com.br por Priscila Tieppo e Janice Kiss