Os varejistas e o pagamento por celular

O número de usuários de e-money pode crescer muito em 2017, impulsionado pelo aumento dos smartphones, pela geração Y e pela busca de conveniência e velocidade do acesso via celular, além do investimento da Apple.

pricing valor celular iphone

O ano de 2017 experimentou um salto nos pagamentos móveis. Nos Estados Unidos, por exemplo, os logos do Apple Pay e do Android Pay já eram vistos em muito mais lojas na Black Friday de 2016. A expectativa é que as vendas por essas plataformas tenham aumentado 124% em relação a 2015, movimentando perto do trilhão de dólares, segundo relatório da empresa de pesquisas International Data Corporation (IDC).

Do ponto de vista do varejista, porém, a pergunta é: vale a pena aceitar pagamentos móveis? Essa é a indagação a que um artigo da Knowledge@Wharton no final de 2016 tentou responder. Ainda há resistência e desconfiança de que seja moda passageira.

A primeira resposta é que o cartão de crédito se mantém como a forma de pagamento padrão nos EUA, como explica Thad Peterson, analista do Aite Group. Inclusive, a emissão de cartões de crédito no segundo trimestre de 2016 aumentou 11% em relação ao mesmo período do ano anterior. No entanto, Peterson observa que nenhuma forma de pagamento nova desapareceu desde a invenção do dinheiro, o que significa que o celular deve, sim, encontrar um lugar ao sol no ecossistema de pagamentos, coexistindo com todos os demais.

Uma segunda resposta, igualmente relevante, é que alguns usuários do Apple Pay parecem estar perdendo o entusiasmo por essa plataforma, conforme pesquisa do site Pymnts.com. Dos mais de 4 mil consumidores que instalaram o app e compram em estabelecimentos conveniados, 34% afirmaram raramente considerar o uso – um aumento de 23% em relação ao ano anterior. (Entretanto, 33% disseram utilizar sempre que possível.)

O professor da Wharton School Z. John Zhang, estudioso do assunto, aconselha os varejistas a levar em conta especialmente duas questões antes de decidir aceitar pagamentos móveis – o que pode requerer investir na atualização de sistemas PDV para incorporar cartões com chip, em muitos casos:

• Custos: de um lado, há o custo de atualização do sistema; de outro, o potencial de perda de negócios caso a atualização não seja feita. • Imagem: mesmo que os aplicativos de pagamento móvel ainda sejam pouco usados, imagem é tudo no varejo. Lojistas podem parecer antiquados se não tiverem essa possibilidade para oferecer. Como diz David Bell, autor de Localização (Ainda) É Tudo (ed. HSM), “para os consumidores mais jovens, a marca que não oferecer isso tende a parecer obsoleta, irrelevante”.

RESPOSTA EM 2 ANOS

A resposta talvez possa esperar dois anos, quando vários catalisadores terão feito mais varejistas aceitarem pagamentos móveis. “Provavelmente, o uso de smartphones vai aumentar e, assim como ocorreu com o cartão de crédito, pode se tornar dominante em algum momento”, opina David Reibstein, professor de marketing da Wharton.

Qual será o ponto de inflexão nesse caso? Ele será percebido quando os consumidores se sentirem tão à vontade para pagar com o celular que vão deixar a carteira em casa – e, segundo Steve Kenneally, VP de pagamentos e cibersegurança da American Bankers Association, isso deve acontecer em dois anos.

Conveniência e velocidade também podem ser fatores a estimular os pagamentos por celular. Um toque no ícone do Apple Pay no iPhone é bem mais rápido do que o pagamento feito em cartão com chip, que leva oito segundos no sistema PDV EMV, por exemplo.

Como um terceiro catalisador, a geração Y deve puxar o novo hábito de pagamento. Uma pesquisa da Accenture com 4 mil norte-americanos identificou que 40% deles usariam o celular para fazer pagamentos, percentual que subiu para 52% entre os millennials.

No entanto, o Google lançou seu sistema de pagamento móvel, o Google Wallet, em 2011, e este não deslanchou, por falta de apoio das telecoms. Por que agora seria diferente?

Segundo Joe Mach, VP sênior da Verifone, uma das maiores fabricantes de equipamentos para PDVs, a entrada da Apple na área aparece como quarto catalisador, que está atraindo outros players, como Android, Samsung e as gigantes do varejo Kohl’s e Walmart.

Stephen Hoch, professor de marketing da Wharton, avalia que não vai ser fácil para os novos sistemas de pagamento quebrarem o oligopólio de Visa, MasterCard e Amex, porque elas têm muito a perder – as taxas que cobram dos comerciantes representam bilhões de dólares por ano. E as três já têm menor visibilidade com o uso de carteiras digitais de dois estágios como o PayPal, em que são acionadas, mas ficam invisíveis para varejistas e consumidores.

Por isso, para se firmarem, os players dos pagamentos móveis precisarão cobrar taxas significativamente mais baixas dos lojistas.

  • Fonte: Revista HSM Management 120

 

Atualização do artigo

Publicado em novembro de 2017, o mercado e as soluções tecnológicas de pagamento via celular evoluiu bastante, e em outubro de 2019 já podemos encontrar algumas atualizações sobre esse tema em outras mídias:

  • Sites Canaltech e Android Police, Outubro de 2019:

Smartphones da marca Samsung funcionarão como “maquininhas” de pagamento

A Samsung é uma das pioneiras quando falamos de transações financeiras e pagamentos por meio do celular. Desde 2015, quando lançou a carteira digital Samsung Pay, e depois o Pay Cash e o Money Transfer, a empresa sempre buscou soluções para esse segmento. E desta vez, a gigante coreana pretende transformar seus celulares nas famosas maquininhas de crédito e débito, com um programa que, neste momento, está sendo chamado de Samsung Point of Sale (Samsung Ponto de Venda, na tradução livre – ou, simplesmente, POS).

logotipo samsung

Os comerciantes que passarem a usar o Samsung POS para aceitar pagamentos devem acessar a Galaxy Store ou a Play Store para instalar o aplicativo de mesmo nome. Após a conclusão do registro, será possível aceitar pagamentos por débito e crédito em seu dispositivo móvel da marca, desde que ele seja compatível com NFC.

São aceitos cartões das bandeiras MasterCard e Visa, e as carteiras digitais Samsung Pay, Apple Pay e Google Pay. A segurança de todas as operações será feita pela plataforma Samsung Knox. O Samsung POS foi testado – com sucesso – este ano no Canadá e a gigante coreana já avisou que começou a liberá-lo aos poucos no mundo todo.


 

  • Site da Emarketer, Outubro de 2019:

Apple Pay já é a plataforma de pagamento mais popular da Starbucks nos Estados Unidos

Novos dados analisados recentemente pela eMarketer acabam de revelar que a expansão do serviço de pagamentos da Apple nos Estados Unidos continua a crescer cada vez mais nos últimos meses, e agora torna-se tão grande quanto os concorrentes que é a principal ferramenta de pagamento da Starbucks nos Estados Unidos.

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A Starbucks tem utilizado o Apple Pay desde o lançamento da plataforma de pagamentos, o que também ajudou a incentivar que seus clientes com iPhone acabassem utilizando o método de pagamento pelo smartphone ao invés do tradicional cartão físico ou dinheiro, e desde então tem sido cada vez mais adotado.

Segundo estimativas da eMarketer, o Apple Pay deve fechar o ano de 2019 com cerca de 30,3 milhões de usuários nos Estados Unidos. Quanto a Starbucks, é dito que o Apple Pay já é utilizado por 25,2 milhões de usuários, seguido pelo Google Pay em segundo lugar com 12,1 milhões e o Samsung Pay em terceiro, com 10,8 milhões.

É curioso notar que, mesmo considerando apenas o sistema de pagamentos sem fio do Android em geral (incluindo o Google Pay e Samsung Pay), o número ainda é menor do que o utilizado pelos usuários do Apple Pay apenas no Starbucks; 22,9 milhões contra 25,2 milhões. Tal fragmentação das empresas no Android acaba dificultando a ampliação de uma só plataforma, e por isso os usuários acabam divididos.

Os dados também sugerem que o pagamento utilizando smartphones nos Estados Unidos cresceu 24% em comparação com o mesmo período do ano de 2018, e isso resulta em um crescimento de aproximadamente 100 bilhões de dólares. “Isso significa que, em média, o usuário vai gastar US$ 1,545 por ano usando pagamento por proximidade em smartphones […] No geral, o número total de pessoas utilizando pagamento por proximidade em smartphones nos Estados Unidos este ano vai crescer 9,1%, sendo 64 milhões. Isso representa quase 30% de todos os usuários de smartphones nos EUA.”

Fonte: site da Emarketer, artigo publicado por Chance Miller